sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

MENSALÃO: NÃO ADIANTA CHORAR SOBRE O LEITE DERRAMADO



O PT do século 21 não é revolucionário. O PT fez. E, por conta do seu passado, enlameou a esquerda aos olhos dos cidadãos comuns. 

Já senti prazer em participar de fóruns virtuais, quando a internet ainda não era terreno minado, com fanatismo característico de torcidas de futebol.

Ultimamente, confesso, cada vez eu me sinto menos animado em afirmar que dois mais dois são quatro para depois ter de responder às mais primárias contestações.

P. ex., o caso do  mensalão. Antes mesmo do julgamento começar, eu alertava que, fincando pé na inocência dos réus, daríamos murro em ponta de faca. Saltava aos olhos que o PIG nos faria o cabelo, a barba e o bigode. 

O que aconteceu? A maioria bovinizada engoliu a ladainha da indústria cultural, de que se obteve um formidável êxito no combate à corrupção. E a banda de música petista ficou com o mico de haver implicitamente defendido práticas inaceitáveis à luz dos próprios princípios que nortearam a fundação do partido.

Parafraseando o título de um filminho erótico do Tinto Brass, o desvio de recursos públicos para outras finalidades é algo que  todos os governos fazem, salvo, às vezes, os revolucionários. 

O PT do século 21 não é revolucionário. O PT fez. E, por conta do seu passado, enlameou a esquerda aos olhos dos cidadãos comuns.  

Ao invés de salvar antigos companheiros que trocaram o marxismo pelo utilitarismo e, na pior das hipóteses, passarão um tempinho na prisão com infinitas mordomias, a minha prioridade foi sempre a de tentar salvar a imagem da esquerda. O dever do revolucionário é fazer a revolução, lembram? 
Clamei no deserto, mais uma vez. Em terra de cego, quem tem um olho... todos querem furar! 


 Rui Falcão: o PT jamais deveria
ter enveredado por tais práticas

Só agora, depois do mais amargo fim, é que a questão começa a ser abordada com um mínimo de racionalidade. 
Falando sobre os erros cometidos durante os 10 anos em que o partido detém a Presidência da República, o presidente do PT, Rui Falcão, reconheceu que "o principal foi, em alguns momentos, termos enveredado por práticas comuns a outros partidos, mas que o PT não deveria ter enveredado por elas".
O mesmo Rui Falcão, aliás, foi quem abortou uma incendiária manobra do Zé Dirceu para que a Executiva Nacional do PT não reconhecesse o resultado do julgamento do mensalão e lançasse uma campanha de rua contra o Supremo Tribunal Federal. Como James Joyce, o Zé é daqueles que preferem ver seu país morrer por eles...

Já o ex-ministro da Justiça e atual governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, admitiu que, no julgamento do mensalão, "a ampla maioria das condenações foi adequada", dando como exemplo Delúbio Soares: "Ele era réu confesso, é natural que fosse condenado". 

No seu entender, dentre os dirigentes petistas sentenciados, as únicas exceções foram os Zés Dirceu e Genoíno, cujas responsabilidades seriam apenas "de natureza política". 

Sensatamente, Genro conclama os petistas a não continuarem dando quilometragem a uma acachapante derrota, pois  jus sperniandi  é consolo para imaturos:
"Nossa agenda não pode ser ficar a vida inteira explicando a ação penal 470. E nem uma agenda que seja predominantemente de solidariedade aos companheiros condenados. Eles têm de ter a solidariedade devida em função de um julgamento sem provas, mas é uma agenda que o partido tem de esgotar. Quando falo que nossa agenda não pode ser composta por um escritório de explicações quero dizer que já falamos o suficiente sobre isso. A ação penal, para nós, é história agora".

Tarso Genro considera adequada
a ampla maioria das condenações

Perfeito. Está mais do que na hora de olharmos para a frente.

No caso dos petistas, cabe-lhes tentarem provar que, no final das contas, compensou o Dirceu ter fechado aquela barganha imunda com os senhores do Brasil em 2002, quando assegurou que a política econômica neoliberal de FHC seria escrupulosamente mantida desde que eles dessem seu consentimento para o PT gerir as miudezas do estado burguês. 

Dito e feito: a mais-valia continuou intocável e em patamares escandalosos,  enquanto as políticas que tão somente atenuam a desumanidade capitalista têm sido suficientes para perpetuar esse  descaracterizado  (para não dizer castrado) PT no poder, exatamente como acontecia com o PRI mexicano. 

No nosso caso, basta-nos honrar os ideais pelos quais o mesmo Dirceu lutou outrora, mas foi abandonando ao longo do caminho. Eu, pelo menos, deles não abdiquei nem jamais abdicarei. Morrerei revolucionário.

Fonte: Náufrago da Utopia
Leia mais:

BOLA DA VEZ, LULA SE ORGULHA DE TER ENRIQUECIDO OS EMPRESÁRIOS! 

 Se acreditar que estes aqui o defenderão, Lula acabará na mesma cela do Zé Dirceu...

Discursando para a esquerda chique em Paris, o ex-presidente Lula disse não só querer o voto dos empresários se um dia voltar a ser candidato, como ter "orgulho de dizer que eles nunca ganharam tanto dinheiro na vida" quanto nos seus governos.
  

É verdade, mas não por mérito do Lula. Ele apenas manteve a política econômica neoliberal de FHC, cumprindo fielmente o pacto que firmara com os grandes capitalistas em 2002, resumido em quatro palavras: o lucro é sagrado. E, portanto, intocável, ou  imexível  (no jargão lulesco).



Num contexto internacional mais favorável para a economia brasileira, os burguesões nadaram em dinheiro e os principais bancos cansaram de anunciar recordes de faturamento. 

Se é DISTO que o Lula se orgulha, então que vá agora procurar sua turma na Fiesp e na Febraban.
 


Com o risco de os donos do Brasil preferirem hoje outros serviçais. É o que tudo indica estar ocorrendo, pois só ingênuos engolem que a sequência de duros golpes no lulismo seja mera coincidência.


Todos estamos dispostos a defender com unhas e dentes um Lula que volte a confrontar a burguesia, como fazia nos bons tempos.



Mas, se ele preferir mendigar o apoio dos burgueses, não vai ter os melhores ao seu lado e os piores, inevitavelmente, o trairão. Sua queda deverá ser  melancólica.

Quem viver, verá.

                                                                                   Fonte: Celso Lungaretti - O Rebate

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