sábado, 31 de maio de 2025

Prefeito de Palmas é Alvo de Operação da PF por Suspeita de Vazamento e Venda de Sentenças

Eduardo Siqueira Campos, prefeito de Palmas (TO), eleito em 27 de outubro de 2024 com 53,03% dos votos válidos pelo partido Podemos, tornou-se alvo da 9ª fase da Operação Sisamnes, deflagrada pela Polícia Federal (PF) em 30 de maio de 2025. A operação investiga um suposto esquema de venda de sentenças judiciais e vazamento de informações sigilosas em tribunais estaduais e no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

by Deise Brandão




Contexto da Investigação
A Operação Sisamnes teve início a partir da investigação do assassinato de um advogado no Mato Grosso, quando a PF encontrou, no celular da vítima, evidências de um esquema de comercialização de decisões judiciais. As apurações revelaram um grupo que, além de negociar sentenças, teria praticado vazamentos de informações sigilosas de operações policiais, comprometendo ações judiciais.
Na fase mais recente, a PF cumpriu três mandados de busca e apreensão em Palmas, incluindo a casa de Eduardo Siqueira Campos, a sede da prefeitura e o presídio onde está detido Thiago Barbosa de Carvalho, sobrinho do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), que não é alvo da operação. Interceptações telefônicas indicam que Siqueira Campos teria alertado Thiago Barbosa sobre informações confidenciais do STJ, levantando suspeitas sobre sua atuação.

Ações Judiciais
A PF solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prisão e o afastamento de Siqueira Campos do cargo, mas o ministro Cristiano Zanin, relator do inquérito, autorizou apenas as buscas e apreensões. A operação também apura a existência de um grupo chamado “Comando C4”, que teria uma tabela de preços para serviços como monitoramento e até intimidação de autoridades, com valores que variavam de R$ 50 mil a R$ 250 mil.
Histórico Político

Eduardo Siqueira Campos, de 65 anos, é uma figura conhecida na política tocantinense. Foi prefeito de Palmas até 1999, quando deixou o cargo para concorrer ao Senado, sem sucesso em 2006. Retornou à prefeitura em 2024, após vencer o segundo turno contra a deputada estadual Janad Valcari (PL), em uma eleição histórica com segundo turno inédito na capital. Após a posse em 1º de janeiro de 2025, Siqueira Campos anunciou prioridades como saúde e transporte coletivo, mas logo enfrentou desafios pessoais, como a internação de seu filho de 10 anos por miocardite viral, o que o levou a se afastar temporariamente do cargo.

Repercussão
O prefeito confirmou nas redes sociais que a PF esteve em sua residência, mas não se pronunciou detalhadamente sobre as acusações. A operação gerou grande repercussão, com veículos como Globo News, CNN Brasil e Folha de S.Paulo destacando a gravidade das suspeitas. A investigação continua, e novos desdobramentos podem surgir à medida que a PF analisa os materiais apreendidos.

Grupo de Extermínio “Comando C4” na Operação Sisamnes:
 O que se sabe
A Operação Sisamnes, conduzida pela Polícia Federal (PF), revelou a existência de um grupo de extermínio autodenominado “Comando C4” (Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos), investigado por práticas de espionagem, homicídios sob encomenda e ameaças a autoridades no Brasil. A seguir, um resumo sobre o grupo, com base nas informações disponíveis até 31 de maio de 2025:

Origem e Descoberta
O grupo foi identificado durante a 7ª fase da Operação Sisamnes, deflagrada em 28 de maio de 2025, que inicialmente apurava a venda de sentenças judiciais a partir do assassinato do advogado Roberto Zampieri, em dezembro de 2023, em Cuiabá (MT). Zampieri, conhecido como “lobista dos tribunais”, foi morto em uma disputa fundiária, e mensagens em seu celular revelaram negociações de decisões judiciais, levando a PF a descobrir o Comando C4.

Composição e Atuação

O Comando C4 é formado por militares da ativa e da reserva, além de civis, com alta capacidade operacional e treinamento especializado, o que aumenta sua periculosidade. O grupo operava com uma estrutura empresarial, coordenando ações em estados como Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais. Suas atividades incluíam: Espionagem: Monitoramento de autoridades, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como Alexandre de Moraes e Cristiano Zanin, e parlamentares, como o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Homicídios sob encomenda: O assassinato de Zampieri, por exemplo, envolveu um pistoleiro contratado por R$ 40 mil, com um sinal de R$ 20 mil pago por um suposto mandante, o coronel reformado Etevaldo Caçadini de Vargas, que nega envolvimento.
Tabela de preços: O grupo cobrava valores específicos para monitoramento: R$ 50 mil para “figuras normais”, R$ 100 mil para deputados, R$ 150 mil para senadores e R$ 250 mil para ministros do STF.

Ações da PF

Na 7ª fase, a PF cumpriu cinco mandados de prisão preventiva, seis de busca e apreensão e quatro de monitoramento eletrônico, autorizados pelo ministro Cristiano Zanin. Foram apreendidos fuzis, pistolas com silenciador, munição, explosivos com detonação remota, carros e placas frias. Entre os presos estão: Etevaldo Caçadini de Vargas, coronel reformado do Exército, dono do canal “Frente Ampla Patriótica”, que defende ideias golpistas.
Gilberto Louzada da Silva, sargento reformado e instrutor de tiro.
Aníbal Manoel Laurindo, fazendeiro apontado como possível mandante do assassinato de Zampieri.Antônio Gomes da Silva, pedreiro que confessou o homicídio, usando disfarces como boina e bengala.

Conexão com o Caso de Palmas
Na 9ª fase da Operação Sisamnes (30 de maio de 2025), o prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos, foi alvo de buscas por suposto vazamento de informações sigilosas a Thiago Barbosa de Carvalho, preso e ligado ao esquema. Embora não haja menção direta de Siqueira Campos como integrante do C4, as investigações sugerem que o grupo se beneficiava de uma rede de contatos para acessar informações sigilosas, comprometendo operações policiais.

Impacto e Repercussão

O senador Rodrigo Pacheco classificou o caso como “estarrecedor”, destacando o risco à democracia. O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, afirmou que é cedo para conclusões, mas a gravidade do caso é evidente. A PF continua investigando para mapear a extensão da rede criminosa e suas conexões, que envolvem corrupção judicial, lavagem de dinheiro e até possíveis ramificações em outros crimes, como o uso de garotas de programa para chantagem, conforme sugerido em postagens no X.

Conclusão
O Comando C4 representa uma ameaça significativa devido à sua organização, armamento e alvos de alto perfil. A Operação Sisamnes, que começou com a investigação de corrupção judicial, revelou um esquema muito mais amplo e perigoso, com implicações para a segurança de autoridades e a integridade das instituições. As investigações seguem em andamento, e novos desdobramentos podem surgir.

Juiz é afastado durante operação da PF que investiga venda de sentenças em MT e no STJ

Investigações identificaram um esquema de corrupção envolvendo lavagem de dinheiro, criado para disfarçar o pagamento de propinas em troca de decisões judiciais.

Por g1 MT

O juiz Ivan Lúcio Amarante, da 2ª Vara da Comarca de Vila Rica (MT) — Foto: Reprodução

Policiais federais cumprem, nesta quinta-feira (29), três mandados de busca e apreensão e outras ordens judiciais em Mato Grosso. Essa é a oitava fase da Operação Sisamnes, que investiga a relação de crimes de corrupção judiciária e lavagem de dinheiro. O juiz Ivan Lúcio Amarante, da 2ª Vara da Comarca de Vila Rica (MT), foi afastado do cargo.

O g1 tenta localizar a defesa do magistrado.

As investigações começaram após o assassinato do advogado Roberto Zampieri, morto a tiros em frente ao próprio escritório em Cuiabá, em 2023. A análise das mensagens e arquivos encontrados no celular da vítima revelou indícios de crimes graves, como a venda de sentenças judiciais e movimentações financeiras suspeitas, dando origem à operação da Polícia Federal (veja detalhes abaixo).

As investigações identificaram um esquema de corrupção envolvendo lavagem de dinheiro, criado para disfarçar pagamentos milionários de propinas em troca de decisões judiciais favoráveis, dadas por um magistrado do Tribunal de Justiça de Mato Grosso.

Por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), estão sendo cumpridos três mandados de busca e apreensão em Mato Grosso e o magistrado foi afastado do cargo, teve seus bens e valores bloqueados, totalizando cerca de R$ 30 milhões.

O passaporte dele também foi recolhido como parte das ações da operação.

Entenda o caso

Advogado é morto a tiros dentro de carro na frente de escritório em MT 

Roberto Zampieri foi morto com 10 tiros dentro do próprio carro em frente ao escritório. Uma câmera de segurança registrou o momento do crime (veja acima). Nas imagens, é possível ver que ele foi surpreendido por um homem de boné, que disparou pelo vidro do passageiro, e fugiu em seguida.

As equipes de socorro médico foram até o local, mas a vítima não resistiu aos ferimentos. O suspeito chegou a ficar cerca de uma hora aguardando a vítima sair do local.

Saiba quem são os suspeitos

Infográfico - Investigação revelou grupo de extermínio e esquema de vendas de sentença. — Foto: Arte/g1

Confira abaixo os nomes dos envolvidos na morte do advogado, de acordo com a Polícia Civil:

Aníbal Manoel Laurindo (mandante);
Coronel Luiz Caçadini (financiador);
Antônio Gomes da Silva (atirador);
Hedilerson Barbosa (intermediador, auxiliar do atirador e dono da pistola 9mm usada no assassinato);
Gilberto Louzada da Silva (ainda não se sabe a função dele no grupo)

Segundo a Polícia Civil, eles deverão responder por homicídio duplamente qualificado pela traição, por emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido.

Ainda de acordo com a polícia, outro agravante do crime foi o fato de ter sido praticado mediante pagamento ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe.

Da direita para à esquerda: Aníbal Manoel Laurindo, Coronel Luiz Caçadini, Antônio Gomes da Silva e Hedilerson Barbosa — Foto: Reprodução

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Entenda a diferença entre DMT, Ayahuasca e Jurema

Conversa com um psicólogo e um indígena Huni Kuin para esclarecer sobre o assunto


O chá da Ayahuasca é feito através da mistura de um cipó e uma planta - Foto: Reprodução | iStock

A Polícia Federal (PF) desmantelou, nesta quinta-feira, 10, um esquema internacional de tráfico de DMT (dimetiltriptamina), que é extraído da planta Jurema Preta e presente no chá da Ayahuasca. No entanto, essa substância faz parte de práticas antigas que transcendem culturas nativas e gerações.

O DMT é procurado por muitas pessoas para uma busca de “expansão da consciência”. Seja presente nos chás da Jurema ou da Ayahuasca, ele possui características únicas tanto do ponto de vista científico quanto indígena. Além do dimetiltriptamina, a investigação da PF apreendeu mescalina, outra substância comum em tradições nativas.

Para explicar os conceitos de cada substância, o Portal A TARDE conversou com o psicólogo Iago Lobo, especializado em psicologia analítica junguiana e mestrando em saúde coletiva, e o cacique Tuwe Inu Bake, do povo Huni Kuin, da Aldeia São Vicente (Acre).

Segundo o psicólogo, os elementos citados são de uma classe de substância psicoativas que funcionam de forma diferente no sistema nervoso central. Elas não estimulam, não deprimem e nem diminuem as atividades, afirma Iago.

“Hoje usamos as palavras neurogênese, que fala da formação de novos neurônios e a neuroplasticidade, que fala da produção de novas conexões sinápticas no cérebro. Essas substâncias se distinguem de muitas outras que são apreendidas como tráfico, justamente porque os psicodélicos tem cada vez mais comprovação de efeitos psicoterapêuticos. Além disso, eles têm outra característica muito interessante que é não ter um potencial de abuso, porque são substâncias que criam uma tolerância muito grande”, explica o especialista.

O que é DMT?
O DMT é o princípio ativo presente na Jurema e na Ayahuasca, como explica o psicólogo. Ele também é encontrado em muitas plantas, animais e seres humanos.

“Tem muitas especulações de qual a função do DMT no nosso corpo mas tem algumas hipóteses que pode ter a ver justamente com o momento da morte humana, com as experiências místicas que podem se ter durante as experiências de quase morte. Já teve gente que chamou o DMT da molécula do espírito, então também historicamente vem sendo associada no campo místico, o sagrado”, destaca Iago.

A folha da chacrona, usada para o feitio de Ayahuasca Foto:
Reprodução | iStock

O que é Ayahuasca?
A forma mais tradicional de consumir o DMT, no Brasil, é na consagração do chá da Ayahuasca. O líquido é feito através da mistura de um cipó e uma folha que contém a substância.

“É essa a combinação que faz com que o chá tenha um efeito psicoativo, porque a folha contém o DMT, só que a gente tem uma enzima no estômago que degrada a substância. Então, se a gente comer aquela folha pura, a gente não vai sentir o efeito psicoativo. O cipó tem a molécula IMAO, que é o inibidor da monoamina oxidase. Ela inibe essa enzima do estômago e deixa de degradar o DMT. Nisso, a gente passa a ingerir e consequentemente ter os efeitos psicoativos. A Ayahuasca é essa combinação do DMT com as propriedades do cipó, que são tanto o IMAO, mas também harminas e outros tipos de compostos”, explica o psicólogo.

Na língua materna do povo Huni Kuin, a Ayahuasca é chamada de Nixi Pae. O cacique Tuwe Inu Bake detalha que é no processo de preparar o chá que se transforma em um líquido “sagrado”.

“A gente consagra essa medicina de uma forma ritualizada, dentro da tradição do nosso povo. Então, para nós, ela é o professor dos professores, é a nossa biblioteca, a nossa universidade. Quando a gente bebe, a gente tem que ter um propósito. A partir do momento que a gente bebe, a gente vai pra outra dimensão espiritual se conectando com nossos ancestrais, se conectando com a natureza e muitas vezes a gente mira o nosso passado, o nosso presente e o nosso futuro”, ressalta Tuwe.

O que é Jurema?
A Jurema é uma árvore nativa do semiárido do nordeste, sagrada para os indígenas desta região e é encontrado DMT nas suas raízes, como explica o psicólogo. Além disso, também é uma religião afro-indígena que tem a presença do chá da planta.

“A Jurema tem uma tradição de uso indígena, ritualístico, que quase foi perdida durante o processo de colonização. Toda essa cultura da Jurema estava ali principalmente nesses povos do nordeste, com acesso ao mar e foram logo afetados, mortos, tornando a cultura da Jurema enfraquecida. Nas últimas décadas, muitos povos indígenas estão retomando o uso da Jurema e hoje tem um conjunto de tradições. Tem as tradições indígenas e tem a religião da Jurema, que é mais comum no nordeste também. Cada tradição dessa vai ter seus modos de preparo da bebida da Jurema”, pontua Lobo.

O que é Mescalina?
A Mescalina é o princípio ativo do Cacto Peyote ou do Cacto São Pedro, presentes nas regiões andinas. Ela pode ser utilizada em pó, em chá ou ao mastigar os seus botões.

“É uma substância psicodélica natural, que tem uma história ritualística associada aos povos nativos da América Central que faziam uso em rituais. Essa tradição indígena é autorizada legalmente dentro desse contexto religioso da igreja nativa americana. Ela tem um potencial de experiências sagradas ou místicas”, descreve Iago.

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