sábado, 22 de novembro de 2025

Quatro Presidentes presos: o sintoma de um ESTADO apodrecido

 

by Deise Brandão

Desde a redemocratização, em 1989, quatro presidentes da República já foram presos: Fernando Collor, Luiz Inácio Lula da Silva, Michel Temer e, agora, Jair Bolsonaro.
O que deveria ser uma excepcionalidade histórica virou rotina institucional, revelando uma doença profunda: corrupção endêmica, sistêmica e epidêmica.

Não há nada a comemorar.
Há, no máximo, o reconhecimento tardio de que o país falhou repetidas vezes em impedir que seus líderes tratassem o Estado como propriedade particular.

Collor: o primeiro sintoma
Fernando Collor inaugurou o triste ciclo.
Foi afastado em 1992 e, anos depois, tornou-se réu e condenado por corrupção.
Sua queda, à época, parecia um alívio — como se o sistema estivesse se purificando.
Hoje sabemos: era só o começo.

Lula: a era das ilusões
Luiz Inácio Lula da Silva, símbolo de esperança para milhões, acabou preso em 2018 após desdobramentos da Lava Jato. 
A prisão, anulada posteriormente por questões processuais, não apagou o cenário que se revelou ao país: contratos superfaturados, empreiteiras, partidos e estatais operando em engrenagens de corrupção crônica.
Aos que ainda esperam alguma redenção institucional, bastou observar os últimos anos para entender que o problema nunca foi uma pessoa — mas um sistema inteiro moldado para se proteger.

Temer: a normalização do absurdo
Michel Temer foi preso duas vezes em 2019, envolvido em esquemas de corrupção que atravessaram décadas na política paulista. Sua prisão escancarou algo gravíssimo: até os bastidores “silenciosos” do poder estavam contaminados.
A sensação pública já não era choque.
Era cansaço.

Bolsonaro: a continuação previsível
Em 2025, Jair Bolsonaro se torna o quarto ex-presidente preso desde 1989.
Não é exceção, não é surpresa, não é choque.
É somente mais um capítulo do mesmo roteiro vergonhoso.
O que sobra é a constatação:
a maior parte dos presidentes eleitos após a redemocratização terminou o ciclo sob suspeita, acusação ou prisão.
Isso não é acaso.
Isso é diagnóstico.

Um país que não aprende
O Brasil tem duas doenças simultâneas: uma elite política que age como casta hereditária, intocável, blindada e repetidamente criminosa e um povo que, enganado ou cansado, acaba aceitando o teatro da “salvação” a cada quatro anos.

Quando quatro ex-presidentes terminam algemados, investigados ou condenados, não estamos diante de “casos isolados”. Estamos diante de um Estado falido moralmente.
Não há herói. 
Não há santo. 
Não há renascimento político possível.

Lula e Bolsonaro sintetizam a polarização mais destrutiva da história recente: um país mantido refém de dois polos que se alimentam um do outro, se retroalimentam do caos e transformam o debate público em trincheira.

A prisão de Bolsonaro revela o óbvio: não existe lado “do bem”.
Existe um sistema inteiro podre, que usa seus líderes como peças descartáveis.
 
Veredito histórico
Enquanto o povo paga a conta, Brasília segue mudando as figuras, mas nunca o jogo.
Quatro presidentes presos não são sinal de justiça funcionando.
São sinal de justiça tardia, impunidade prolongada e sistema contaminado de alto a baixo.

O Brasil não precisa de salvadores.
Precisa de ruptura institucional, transparência real e fim do pacto silencioso que normalizou a corrupção como paisagem administrativa.Até lá, o ciclo continuará:prisões, escândalos, impunidade, histeria coletiva — e a eterna sensação de que o país vive num loop viciado.

A celebração do caos: quando a anomalia vira rotina
A reação pública à prisão de Bolsonaro — comemorações, fogos, memes — não é sinal de maturidade democrática.É sinal de anestesia coletiva.Quando o país comemora a queda de mais um ex-presidente, não percebe que está celebrando sua própria tragédia:Enquanto a corrupção segue, o povo aprende a rir de sua própria ruína. E isso é, em si, um colapso moral.

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Coisas que só existem de verdade quando ninguém está olhando

 

by Deise Brandão

Há coisas que só existem de verdade quando ninguém está olhando.
Um gesto simples, um passo tranquilo, minha Berê de cia e a filha que fez a foto e 
 um tapete vermelho que nasceu não do luxo, mas da liberdade de passar — e ser.
Numa noite qualquer de 2022, eu caminhei pela cidade assim.
Sem palco, sem anúncio, sem texto celebrando elegância urbana.
Era só espontâneo. Era só real. Era só bom. Era só Eu sendo Eu.


Curioso como certas ideias só ganham “valor” quando são embaladas, plastificadas e vendidas como novidade por quem nunca teve sensibilidade de enxergar quando elas nasceram.

O mesmo tapete que ontem era detalhe, hoje rende likes, discursos e autoelogios.
Ontem ninguém viu. Ninguém sentiu. Ninguém viu a diferença.
Hoje virou conceito.

E qual é o problema de repetir uma ideia boa?”
Nenhum.
O problema não é repetir.
É fazer parecer que nasceu ali, quando não nasceu.
Autoria importa. Criatividade importa. 

O que nasce verdadeiro permanece, mesmo quando imitado.
Deixo o palco para quem precisa dele.
Eu fico com a autoria — e com a data registrada.
Porque tapete vermelho, eu não piso.
Eu inauguro. 😉

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

POR QUE APENAS EM PORTUGUÊS O “VERMELHO” VEM DE UM VERME

Quando pensamos em cores, imaginamos fogo, sangue, paixão, calor. Mas, em português, a palavra que nomeia tudo isso — vermelho — não nasceu do fogo nem do sangue.



by Deise Brandão

Nasceu de um bicho.
Enquanto quase todas as línguas europeias seguiram o caminho do latim ruber (origem de rojo, rosso, rouge, rubro), o português tomou uma rota diferente e profundamente material: escolheu nomear a cor com base no corante extraído de um inseto.
A nossa palavra “vermelho” vem de:vermiculus → “pequeno verme” → cochonilha.
Esses pequenos insetos, esmagados desde a Antiguidade, produzem um pigmento intenso, o carmim, usado para tingir tecidos, mantos reais, arte sacra e roupas de alto prestígio.
O corante era tão marcante — e tão valioso — que acabou vencendo a disputa lexical.
Em vez de chamar a cor pelo nome clássico (ruber), o português a associou ao material que de fato produzia o vermelho mais vivo da época.
É uma escolha linguística rara:  dar nome à cor pela sua origem, e não pela sua aparência.

VERMELHO: a cor que chega pelo tato, não pelos olhos
O curioso é que, por muito tempo, “vermelho” não descrevia exatamente o que hoje chamamos de vermelho.
O termo podia se aproximar de tons escuros, profundos, às vezes até tocar o que chamamos de púrpura.
O vocabulário português medieval ainda preferia “rubro”, “encarnado”, “purpúreo”.
Com o avanço do comércio de pigmentos, o carmim tornou-se dominante.
E a palavra ligada ao inseto — vermiculus — acabou vencendo o uso cotidiano.
A língua seguiu o caminho concreto:
não o fogo, não o sangue, não a abstração,mas a matéria-prima.

 Enquanto isso, no resto da Europa…
As demais línguas europeias ficaram no sistema clássico:rosso (italiano),rojo (espanhol),rouge (francês),rot (alemão, com raiz semelhante), red (inglês, influenciado pelo germânico e pelo latim)
Todas conectadas ao mesmo conceito antigo: ruber, o vermelho brilhante, visível, solar.
O português não.
O português olhou para o chão, não para o céu.
O nosso vermelho tem corpo, tem cheiro, tem peso.
É fruto de um trabalho manual: esmagar insetos para extrair cor.

 A lição oculta na palavra
“Vermelho” nos lembra que a língua não nasce de ideias abstratas.
Ela nasce da vida real: das mãos que esmagam o pigmento, dos tecidos tingidos, do comércio, do ofício.
É a cor que não vem de um símbolo — vem de um processo.
A cor que não vem do brilho — vem do esforço.
A cor que não nasce da imagem — nasce da matéria.
Em português, o vermelho é a cor da origem física.
É a cor que sangra, mas não do corpo humano — da cochonilha.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

FUNGOS “MUTANTES” DE CHERNOBYL? A VERDADE POR TRÁS DO SENSACIONALISMO SOBRE A VIDA NA RADIAÇÃO


by Deise Brandão 

De tempos em tempos, a internet resgata Chernobyl — quase sempre misturando ciência com ficção científica. A moda da vez é a história dos “fungos negros mutantes que se alimentam de radiação”, supostamente transformados em uma “nova besta” dentro das paredes do reator destruído.
O texto viral fala em zonas inabitáveis por 20 mil anos, mutação descontrolada e até cientistas misteriosos citados pela Forbes. Um pacote perfeito de medo, pânico e engajamento barato.

Mas o que realmente existe ali?
E onde começa a fantasia?

A verdade, como quase sempre, é muito mais interessante — e muito menos apocalíptica — do que o sensacionalismo sugere.

O QUE É REAL: SIM, EXISTEM FUNGOS MELANIZADOS QUE SOBREVIVEM À RADIAÇÃO

Desde os anos 1990, pesquisadores encontraram nas paredes internas do reator de Chernobyl fungos escuros, ricos em melanina, que conseguem crescer em ambientes extremamente radioativos.
As espécies mais estudadas são:

  • Cladosporium sphaerospermum

  • Cryptococcus neoformans

  • Wangiella dermatitidis

A melanina — a mesma substância que pigmenta pele humana, cabelos e olhos — parece ajudar esses fungos a converter radiação em energia química, em um processo chamado radiossíntese.
É como uma prima distante da fotossíntese, só que muito menos eficiente e entendida.

Ou seja: não é que os fungos “comam” radiação.
Eles apenas usam as condições extremas para sobreviver, adaptando o metabolismo celular.

Esse fenômeno é real. É pesquisado.
E interessa até à NASA, por um motivo nobre: entender como proteger astronautas da radiação.

O QUE É MITO: NÃO, NÃO EXISTE “BESTA MUTANTE” EM CHERNOBYL

A parte inventada começa quando transformam uma descoberta científica séria em roteiro de filme:

  • “nova criatura”

  • “fungo mutante que se alimenta de radiação”

  • “ameaça desconhecida”

Nada disso existe.

Esses fungos não atacam ninguém, não se deslocam, não produzem toxinas misteriosas, não evoluíram para monstros.
São fungos comuns, só que extremamente resistentes.

Trata-se de um mecanismo biológico, não de um novo ser vivo ameaçador.

O QUE É EXAGERO: PRAZOS DE 3 MIL ANOS A 20 MIL ANOS

Outro clássico das narrativas sobre Chernobyl: estimativas aleatórias sobre quanto tempo a região ficará inabitável.

A área de exclusão tem bolsões muito diferentes entre si:

  • algumas partes já recebem turistas

  • outras seguem altamente contaminadas

  • algumas podem levar séculos para ficar seguras

  • não existe consenso sobre “3 mil anos” ou “20 mil anos”

São números usados para criar impacto emocional e aumentar o drama.

O QUE É FAKE: A CITAÇÃO DE “SCOTT TRAVERS, DA FORBES”

O nome aparece muito em textos virais.
Só tem um problema: não existe esse pesquisador na literatura científica ligada a Chernobyl.
É uma citação criada para dar credibilidade de autoridade — truque clássico de viral.

POR QUE ESSE TIPO DE CONTEÚDO CIRCULA TANTO?

Porque mexe com três gatilhos perfeitos:

  1. Medo

  2. Mistério científico

  3. Desconfiança do Estado e das instituições

E Chernobyl, por si só, é um terreno fértil para imaginação coletiva — especialmente quando misturam eventos reais (desastre nuclear) com elementos de fantasia (mutação, radiação, monstros, “terra proibida”).

O resultado é sempre o mesmo: uma história que parece plausível, mas que não resiste a 30 segundos de pesquisa séria.

O QUE DE FATO MERECE ATENÇÃO

O fenômeno real — fungos melanizados que modulam melanina para crescer em ambientes radioativos — é fascinante.
Ele abre portas para:

  • novas formas de blindagem contra radiação

  • biotecnologia aplicada

  • compreensão da adaptabilidade da vida em ambientes extremos

  • projetos de exploração espacial

Ou seja: a parte verdadeira é científica e promissora.
A parte falsa é apenas espetáculo.

CONCLUSÃO: NÃO TEM BICHO MUTANTE. TEM CIÊNCIA.

O desastre de Chernobyl foi real e devastador.
Seus efeitos ainda são estudados e sentidos décadas depois.
Mas transformar pesquisa séria em terror barato só nos distancia da verdade e alimenta a desinformação.

O que existe ali não é uma “nova besta”.
É vida insistindo em existir, até no solo mais hostil do planeta — e isso diz muito mais sobre a força da biologia do que sobre ameaças imaginárias.

Se alguém quer assustar, que escreva ficção.
Se quer informar, que traga dados.

Aqui, ficamos com a segunda opção.

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

China inicia era dos humanoides industriais — e o que isso realmente significa para nós

     Imagem criada pela IA Gemini para o blog

by  Deise Brandão

Aconteceu em silêncio, mas é gigante:

a China acaba de realizar a primeira entrega em massa de robôs humanoides da história.

A responsável é a UBTECH Robotics, e o modelo chama-se Walker S2 — um humanoide capaz de:

  • carregar peças,

  • montar componentes,

  • realizar inspeções,

  • trabalhar lado a lado com humanos,

  • e até trocar a própria bateria sem intervenção humana.

Não é um protótipo, não é demonstração de feira, não é vídeo conceitual.
É produção real, para funcionar em linhas de montagem reais, substituindo — ou dividindo espaço com — trabalhadores reais.

É aqui que a ficção científica perde o brilho e a realidade começa.

O que está acontecendo de verdade

A China não inventou robôs.
Ela inventou a escala.

Enquanto o Ocidente discute “futuro do trabalho”, “ética da IA” e “como será o mundo daqui a 30 anos”, a China age: automatiza, testa, produz e entrega.

Hoje o país:

  • é o maior usuário de robôs do mundo;

  • é líder em automação industrial;

  • vê robôs como política de Estado, não como moda;

  • e agora inaugura a fase dos humanoides funcionalmente úteis.

O Walker S2 não anda fazendo dancinha para marketing.
Ele trabalha.

E isso muda tudo.

A nova fronteira: humano + máquina no mesmo chão de fábrica

Especialistas estão dizendo o óbvio que ninguém queria admitir: Entramos oficialmente na era em que robôs humanoides são força de trabalho.

Não auxiliares, não experimentos — trabalhadores.

Não substituindo apenas força física.
Mas ocupando tarefas complexas, com autonomia e tomada de decisão baseada em IA.

E isso não é uma previsão para o futuro.
É notícia.

E o Brasil? Onde isso bate?

Aqui, enquanto discutimos:

  • polarização,

  • memes políticos,

  • promessas de governo,

  • e burocracias que travam até o básico,

o mundo está avançando para um cenário em que:

  • fábricas terão equipes mistas (humanos + robôs),

  • cidades inteligentes serão operadas por IA,

  • e países inteiros reorganizarão sua economia interna em torno da automação.

A pergunta não deveria ser “isso é bom ou ruim?”, mas: O Brasil está pronto para competir num mundo onde trabalhadores podem ser máquinas?

Porque a resposta, infelizmente, é quase sempre a mesma: não estamos sequer discutindo isso.

Humanoides são tecnologia. O problema — ou solução — é humano.

A China não avançou porque tem tecnologia.
Avançou porque tem estratégia.

Enquanto isso, por aqui:

  • a educação patina,

  • a inovação é punida,

  • a burocracia engole quem tenta empreender,

  • e a automação ainda é vista como ameaça, não como oportunidade.

Mas a realidade independe da opinião:
os robôs já chegaram.
E chegam em massa.

Quem não se preparar, vai competir com máquinas… com as piores condições possíveis.

Talvez o futuro não tenha chegado cedo demais.

Talvez tenhamos demorado demais para percebê-lo.

Os vídeos do novo humanoide chinês viralizam como curiosidade.
Mas a notícia não é “um robô bonitinho carregando caixas”.
A notícia é "esta é a primeira geração de trabalhadores que não precisam dormir, comer, faltar, adoecer, cansar ou se aposentar.

Isso não é bom nem ruim.
É o que é.

A diferença — como sempre — será feita pelos países que souberem pensar, se adaptar e agirE pelos que continuarão discutindo nada enquanto o futuro passa na frente. 

Em Alta

Felicidade é responsabilidade minha

    Imagem criada pelo Gemini, para o texto. by Deise Brandão Em meu entendimento,  viver não é uma linha reta nem uma lista de metas cumpri...

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