sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Eike Batista usou informações privilegiadas da Petrobras para conquistar as melhores áreas.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O comentarista Mario Assis nos envia importante artigo do engenheiro Diomedes Cesário, ex-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), reproduzido do site da entidade.
Como se sabe, jornais, revistas e televisões têm apresentado anúncios da OGX informando o “início da produção de petróleo no Brasil por uma empresa privada brasileira”.
A OGX faz parte do grupo EBX, de Eike Batista, o empresário mais rico do Brasil e um dos maiores do mundo. Para o leitor desavisado, parece tratar-se de uma história de dedicação, esforço próprio e alto risco, como dos pioneiros da indústria de petróleo em todo mundo. Infelizmente, a história é bem mais obscura.
###
OGX E A QUESTÃO DO TALENTO, CONHECIMENTO E ÉTICA
Diomedes Cesário
A OGX foi criada após Eike contratar Rodolfo Landim, ex-diretor de Exploração da Petrobrás, em 2006, e adquirir blocos para exploração de petróleo no 9º Leilão, promovido pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em pleno governo Lula.
Para escolher as áreas, contratou o geólogo Paulo Mendonça, até então Gerente Executivo de E&P da Petrobrás, responsável pelas locações e detentor de informações acumuladas pelo corpo técnico da empresa.
No 9º Leilão, em novembro de 2007, a empresa de Eike arrematou diversos blocos, com o assessoramento da equipe de técnicos da Petrobrás. Foi exatamente neste leilão que 41 áreas em torno de Tupi foram retiradas por fazer parte do pré-sal, descoberto pela Petrobrás, após décadas de estudo, pesquisas e investimentos. A estatal, de posse das informações recém obtidas nos poços pioneiros, alertou o governo federal que não fazia sentido mantê-las, pois seria uma doação e não um leilão. A partir deste episódio, o governo Lula iniciou a discussão que resultou na mudança do regime do pré-sal de concessão para partilha.
###
INFORMAÇÕES RESERVADAS
Segundo Ildo Sauer, professor titular da USP e diretor da Petrobrás entre 2003-2007, em artigo na revista Retrato do Brasil, de novembro de 2009, “Vários setores do próprio governo lutavam pela manutenção das regras liberais, mesmo diante de várias descobertas feitas na camada pré-sal. A primeira se deu no bloco de Parati, em 2005. E o primeiro poço com resultados espetaculares foi o 1-RJS-628, de Tupi. Estranhamente, porém, foram mantidos os 11 blocos do chamado ‘arco de Cabo Frio’, arrematados pela OGX, que recrutara a equipe de exploração da Petrobras, sem reação por parte do governo.”
A equipe de técnicos da Petrobrás foi paga a preço de ouro, é claro. Somente Landim – que acabou saindo, em 2009, após desentendimento com Eike – recebeu 165 milhões de reais nos quatro anos em que trabalhou no grupo. Em poucos meses ganhou mais que em toda sua vida na Petrobrás.
O salário médio dos diretores da OGX em 2010 foi de 5,96 milhões de dólares por anos, com um máximo de 11,9 milhões de dólares. O salário médio de um diretor da Petrobrás no mesmo período foi de 691 mil dólares – um décimo da OGX – com um máximo de 728 mil dólares, conforme Retrato do Brasil de outubro de 2011.
###
QUESTÃO DE ÉTICA
A pergunta óbvia é: é legal e moral um empregado ou diretor sair da empresa, onde foi formado e detendo informações estratégicas, para trabalhar imediatamente numa concorrente? A questão é ainda mais grave se esta empresa é controlada pela União Federal.
Em algumas áreas do governo, há períodos de carência que – dizem -, muitas vezes, acabam sendo burlados por contratos de gaveta. O que importa, na verdade, é o posicionamento ético, como o relatado por Celso Furtado, em entrevista no livro “Seca e Poder”:
“Eu me recordo de uma história curiosa com Raul Prebisch, o criador do Banco Central da Argentina, de tremenda influência na América Latina. Ele me contou que quando saiu do Banco Central passou por grandes dificuldades financeiras, teve até de vender o piano da mulher. Eu arregalei os olhos: quem passara tantos anos chefiando o BC da Argentina teria o emprego que quisesse! E ele disse: “Mas Celso, eu conhecia a carteira de todos os bancos, administrava o redesconto por telefone, era o homem mais bem informado! Todos queriam me contratar, mas eu não podia trabalhar para nenhum.”
A história de sucesso de Eike termina uma de suas propagandas afirmando: “Um marco importante para uma empresa que tem como essência realizar e transformar. Afinal, recursos naturais só se transformam em riqueza para o país quando se tem talento para descobrir onde estão e o conhecimento para se chegar até eles.”
Deixou de informar que o talento – se é que se pode chamar de talento -, ao contrário do que sugere o texto, não foi descobrir o petróleo, mas, onde estavam os detentores de informações e “o conhecimento para se chegar a eles”.
###
TECNOLOGIA E PATENTE BRASILEIRA
Por fim, a questão tecnológica. Apesar de elogiar a Petrobrás pela inovação e patente, Eike segue caminho diverso. Em entrevista à revista Carta Capital de novembro de 2011, informava:
“Eu não ia conseguir montar o FPSO (navio-plataforma) sem a ajuda da Hyundai. Mas vou trazer isso, com estrutura e tecnologia. Será que só eu consigo? Nossos estaleiros vão virar a Embraer dos mares. Um estaleiro com todo o know-how coreano transferido para o Brasil. O bacana é que eu fiz o inverso. Não precisei de 20, 30 anos de pesquisa e desenvolvimento para criar know-how. Comprei tudo, e em quatro ou cinco anos vai estar tudo absorvido e a gente vai virar patente brasileira.”
Como Eike irá descobrir – se permanecer no negócio e não repassá-lo aos chineses ou às “big oil” – a tarefa é bem mais complicada do que aparenta.

                                                                                                    by tribunadaimprensa

Nenhum comentário:

Em Alta

Novo HamburgoRS - Hospital do RS fecha UTI e transfere pacientes após detectar superbactéria considerada uma das mais perigosas do mundo

Acinetobacter baumannii, espécie detectada no hospital do RS, foi listada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2024 como resistente a ...

Mais Lidas