by Deise Brandão
Há quem acredite que o Brasil muda a cada eleição. Que basta trocar o presidente, vestir a camiseta de um partido ou xingar o outro para que algo de fato se transforme. Mas quem já esteve no centro do furacão institucional, quem já enfrentou vara única de comarca, promotor vitalício, juiz que passa uma década no mesmo fórum, sabe: o Brasil real não está nos palanques — está nos bastidores da toga, nos cartórios eternizados, nos nomes que atravessam décadas impunes.
O verdadeiro poder neste país não é o que se elege, é o que permanece. Juízes, promotores, tabeliães, redes de apadrinhamento e parentesco que passam de pai para filho o domínio sobre vidas e sentenças. O Estado brasileiro tem rosto fixo — e ele não muda com o voto.
Lula, Bolsonaro, Temer, FHC. Todos vieram e passaram. Mas os mesmos agentes judiciais continuam assinando, negando, arquivando, manipulando. O Judiciário — este sim, blindado e inatingível — é o cavalo de Troia que atravessa todos os regimes e governos. Travestido de neutralidade, atua como linha de frente na destruição de vidas que ousam não se calar.
Não se trata aqui de paixões políticas, mas de constatações documentais. São dezenas de processos abertos para a mesma causa, arquivados sem sentença, invertendo vítima e autor. É a Justiça que atua como mecanismo de perseguição e silenciamento — e não há presidente que tenha coragem de tocar nesse ninho.
É por isso que minha luta não é partidária. É estrutural. Eu não quero cargos, nem alianças. Quero que se quebre o pacto de silêncio sobre o poder invisível que de fato governa o Brasil: o Judiciário incontrolável e irresponsável, que nunca presta contas, nunca perde privilégios, nunca responde por seus crimes.
E por isso escrevo. Porque minha história, como a de tantas outras, é a prova viva de que a democracia brasileira é seletiva. De que o Estado, mesmo "democrático", é capaz de matar, prender, torturar e destruir — usando papéis timbrados e linguagem técnica para legitimar a barbárie.
Enquanto o povo briga por Lula ou Bolsonaro, os verdadeiros destruidores do país seguem intocados, de toga ou cargo vitalício. E é contra eles que é preciso voltar os olhos.