sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Congresso aprova projeto que abre crédito de R$ 3,3 bilhões para o Executivo, que usará parte para quitar débitos com organismos internacionais. País terá que depositar, até 31 de dezembro, pelo menos US$ 113 milhões para as Nações Unidas


AF
Augusto Fernandes
postado em 18/12/2020 06:00


(crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press)


Com o Brasil correndo o risco de ser punido pela Organização das Nações Unidas (ONU) com a perda do direito de voto na Assembleia Geral, devido a uma dívida milionária na instituição, o governo Jair Bolsonaro recebeu uma importante ajuda do Congresso Nacional, ontem, depois da aprovação de um projeto que abriu crédito extra de R$ 3,3 bilhões ao Executivo. Parte do valor será destinada justamente à quitação de débitos com organismos internacionais.

O país tem até 31 de dezembro para desembolsar ao menos US$ 113,5 milhões (pouco mais de R$ 574,1 milhões, com cotação do dólar de ontem a R$ 5,07) de uma dívida de US$ 390 milhões (cerca de R$ 1,97 bilhão) com a ONU e evitar ficar impedido de votar já a partir do primeiro dia de 2021. Ciente desse risco, o governo pediu uma suplementação do Orçamento ao Congresso.

A saída foi um projeto apresentado ao parlamento, em setembro, no qual o Executivo solicitava um reforço R$ 48,3 milhões. Mas, nesta semana, o valor foi reajustado para mais de R$ 3 bilhões pelo Ministério da Economia.

A matéria foi aprovada com 317 votos favoráveis eQUEM VITOU  contrários na Câmara, e em votação simbólica no Senado. Segundo o texto, R$ 917 milhões do crédito extra serão exclusivos para o governo federal resolver pendências com organismos internacionais e, deste montante, 67% (R$ 614,39 milhões) estão reservados para amortizar a dívida com a ONU. O texto está pronto para a sanção de Bolsonaro.

Alerta

Nesta semana, o embaixador do Brasil nas Nações Unidas, Ronaldo Costa Filho, já tinha sido avisado pelo secretário-geral adjunto, Chandramouli Ramanathan, sobre a necessidade do pagamento “imediato” de, ao menos, o valor mínimo da dívida. A comunicação foi feita em uma carta endereçada à Missão do Brasil na instituição, divulgada pelo portal de notícias Bloomberg.

“Em nome do secretário-geral, peço, por meio do senhor, que seu governo envie de imediato os valores. 135 estados-membros já pagaram suas contribuições para o orçamento regular em 2020 e em todos os anos anteriores”, escreveu Ramanathan.

Segundo a ONU, três nações acumulam dívidas: Somália, Ilhas Comores e São Tomé e Príncipe. Apesar disso, mantêm o direito de voto por terem alegado que passam por uma crise econômica severa, o que lhes garantiu o perdão da comunidade internacional.

Advogado brasileiro é habilitado para atuar no Tribunal Penal, em Haia

Brasil tem apenas três representantes que podem trabalhar junto à mais importante Corte Criminal do mundo; Bolsonaro pode entrar na mira dela

Por Juliana Castro Atualizado em 12 mar 2021, 12h50 - Publicado em 12 mar 2021, 12h28

O advogado Rodrigo Faucz Pereira e Silva foi habilitado para atuar no Tribunal Penal Internacional, em Haia Divulgação/Divulgação

O Brasil tem um novo representante habilitado para atuar no Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda. O TPI é a mais importante Corte Criminal do mundo, responsável pelo julgamento dos crimes de maior gravidade perante a comunidade internacional (genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade e de agressão entre países). O advogado Rodrigo Faucz Pereira e Silva, oriundo de Curitiba e criminalista há 15 anos, é o terceiro brasileiro na lista de profissionais do Direito admitidos no tribunal. Com isso, pode representar acusados e vítimas, além de apresentar petições e representações perante a Corte.

Existem apenas 14 advogados em toda a América Latina habilitados. A seleção é um processo complexo, que envolve investigação sobre casos em que o advogado tenha atuado. É exigido notável conhecimento em direito criminal e internacional, fluência tanto da forma escrita quanto falada do inglês ou francês, experiência superior a 10 anos e reputação ilibada.


Casos envolvendo Bolsonaro

Relatos sobre a atuação do presidente Jair Bolsonaro envolvendo violações de direitos humanos, genocídio e crimes contra a humanidade chegaram até o gabinete da Promotoria do Tribunal, embora nenhum deles tenha chegado sequer à fase de investigação preliminar, o mais básico passo para o desenrolar do caso na Corte. É somente depois de uma apuração preliminar que a Promotoria requer ao TPI autorização para iniciar uma investigação formal. Um caso que seja admitido depois dessa fase vai a julgamento perante três juízes do Tribunal.

Bolsonaro foi citado por organizações diversas por genocídio, tendo como base a sua atuação durante a pandemia da Covid-19, e crime ambiental (ecocídio), pelas queimadas na Amazônia. Não há uma lista pública com as denúncias, mas VEJA apurou que há ao menos cinco delas. A Promotoria do Tribunal Penal Internacional ainda não se manifestou sobre se há “base razoável” para iniciar uma investigação oficial contra o presidente brasileiro.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

Meta ameaça tirar Instagram e Facebook do ar em alguns países


8 DE FEVEREIRO DE 2022
  GIOVANNA CAMIOTTO CINEMA E TV 





A Meta, firma de Mark Zuckerberg (antes conhecida como Facebook), está metida em polêmicas mais uma vez – agora, na Europa.

Um novo relatório preliminar da Comissão de Proteção de Dados da Irlanda apontou, nesta última quinta-feira (3), que a transferência dos dados dos europeus, que utilizam redes como o Instagram e o Facebook, não estão em conformidade com o Regulamento Geral de Proteção.

No entanto, a Meta declarou por meio de um comunicado que pode chegar a um acordo com a legislação da União Europeia ainda este ano. Caso contrário, as plataformas de redes sociais deixarão de funcionar nos países da região.

Vale considerar que, dentre as restrições, o Regulamento de Dados da Europa impede que as informações dos cidadãos sejam tratadas em servidores dos Estados Unidos, por exemplo. Muito embora a Meta afirme que esse processamento dos usuários é crucial para os negócios.

“Se não pudermos transferir dados entre países e regiões em que operamos, ou se formos impedidos de compartilhar dados entre nossos produtos e serviços, isso poderá afetar nossa capacidade de fornecer nossos serviços”.

A regulamentação dos dados funciona desde 2020, quando se instalou a disputa entre ‘Meta x Europa’. A vigência deste também já aplica centenas de multas a empresas como o Google – que também se baseia na coleta das informações europeias para o uso de publicidade dirigida.

Meta é o nome da empresa do Facebook

Quando o assunto é rede social, não há como não se lembrar do Facebook, a principal referência mundial na área. Seu fundador é Mark Zuckerberg, que o criou inicialmente apenas para estudantes da renomada universidade de Harvard e tinha o nome original de thefacebook.

Aos poucos, a rede social começou a se expandir para outras universidades americanas até se tornar acessível para todas as pessoas do planeta. Pelo Facebook, seus usuários podem criar um perfil e postar fotos, vídeos e mensagens para amigos, participar de grupos, vender produtos, entre outras coisas.

No entanto, a rede social também possui suas controvérsias e polêmicas. Por exemplo, Mark Zuckerberg foi acusado de roubar a ideia de outros estudantes de Harvard.

O Facebook também se envolveu em um escândalo sobre o roubo de dados pessoais dos seus usuários e costuma ser usado para propagar fake news.

Facebook: o que é esse tal de metaverso que Zuckerberg quer criar?

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

18 características de um bom mentiroso




Por Ana Carolina Prado 
Super Interessante
jULHO 2011

Já dizia o doutor House: as pessoas mentem. Algumas, muito mais e muito melhor do que as outras. Por isso, é normal desconfiar das histórias absurdas do amigo ou acreditar que o seu colega de trabalho pode ser um psicopata. Mas não há motivos para a paranoia.

A revista Scientific American mencionou recentemente o trabalho de uma equipe de pesquisadores liderados pelo psicólogo holandês Aldert Vrij, da Universidade de Portsmouth, que listou características típicas de mentirosos convicentes para ajudar a identificá-los:

1- São manipuladores. Segundo o artigo, manipuladores mentem frequentemente e não têm escrúpulos morais – por isso, sentem menos culpa. Eles também não têm medo de que as pessoas desconfiem e não precisam de muito esforço cognitivo para fazer isso. A coisa meio que acontece naturalmente.

2- São bons atores. Quem sabe atuar tem mais facilidade em mentir e se sente confiante ao fazer isso, pois sabe que é capaz de fingir muito bem. (Antes que comece a polêmica, não estamos dizendo aqui que bons atores são necessariamente mentirosos. A lógica é oposta: bons mentirosos é que são, geralmente, bons atores)

3- Conseguem se expressar bem. “Pessoas expressivas geralmente são benquistas”, dizem os pesquisadores. Elas dão uma impressão de honestidade porque seu comportamento sedutor desarma suspeitas logo de início, além de conseguirem distrair os outros facilmente.

4- Têm boa aparência. Pesquisas já mostraram que pessoas bonitas tendem a ser mais queridas e vistas como honestas, o que ajuda quem curte enganar os outros.

5- São espontâneos. Para acreditarmos num discurso, ele precisa parecer natural. Quem não tem a capacidade de ser espontâneo acaba parecendo artificial – e fica difícil convencer alguém desse jeito.

6- São confiantes enquanto mentem. Bons mentirosos geralmente sentem menos medo de serem desmascarados do que as outras pessoas. Então, mantêm uma atitude confiante em relação à sua habilidade de mentir.

7- Têm bastante experiência em mentir. Assim como nas outras coisas, o treino também leva à perfeição quando se trata de mentir. Quem está acostumado a isso já sabe bem o que é necessário para convencer as pessoas e conseguem lidar mais facilmente com suas próprias emoções.

8- Conseguem esconder facilmente as emoções. Em algumas situações mais arriscadas, mesmo um mentiroso veterano pode sentir medo e insegurança. Nesse caso, é fundamental conseguir camuflar bem essas emoções. Além disso, já dissemos que mentirosos geralmente são pessoas expressivas, né? Pois é: eles costumam ser bons em fingir sentimentos que não estão realmente sentindo, mas também tendem a manifestar seus verdadeiros sentimentos espontaneamente. Por isso, é necessário ter habilidade em mascará-los para que não venham à tona.

9- São eloquentes. Pessoas eloquentes conseguem confundir mais facilmente as pessoas com jogos de palavras e conseguem enrolar mais nas respostas caso lhe perguntem algo que exija outras mentiras.

10- São bem preparados. Mentirosos planejam com antecedência o que vão fazer ou dizer para evitar contradições.

11- Improvisam bem. Mesmo estando preparado, é preciso estar pronto a improvisar caso alguém comece a desconfiar da história que ele inventou ou as coisas não saiam como esperava.

12- Pensam rápido. Para improvisar bem, é preciso pensar rápido. Quando imprevistos acontecem, e fica fácil desconfiar quando a pessoa fica sem resposta ou tenta ganhar tempo dizendo “ahhn” ou “eee”. Bons mentirosos não têm esse problema e conseguem pensar em uma saída rapidamente.

13- São bons em interpretar sinais não verbais. Um bom mentiroso está sempre atento à linguagem corporal do seu ouvinte e consegue interpretar sinais não-verbais que possam indicar desconfiança. Caso identifique indícios de suspeitas, ele muda de atitude ou melhora a história.

14- Afirmam coisas que são impossíveis de se verificar. Por motivos óbvios, bons mentirosos costumam fazer afirmações sobre fatos que sejam impossíveis de se provar e evitam inventar histórias mirabolantes que poderiam ser facilmente desmascaradas.

15- Falam o mínimo possível. Quando é impossível falar algo que não pode ser verificado, o mentiroso simplesmente não diz nada. Se a peguete pergunta ao mentiroso onde estava naquela noite em que não atendeu ao telefone, ele vai preferir responder algo como “honestamente, eu não me lembro”. Melhor do que inventar que teve de levar a avó ao médico. Quanto menos informação fornecer, menos oportunidade ele terá de ser desmascarado.

16- Têm boa memória. Quem quer desmascarar um mentiroso procura por contradições no seu discurso, porque muitas vezes eles podem simplesmente se confundir ou esquecer detalhes que inventaram. Mas não se impressione se a pessoa conseguir se lembrar e repetir cada vírgula do que lhe contou anteriormente. Bons mentirosos geralmente têm ótima memória.

17- São criativos. Eles conseguem pensar em saídas e estratégias que você nunca imaginaria. Mas não se deixe levar pelo seu brilhantismo – afinal, é isso o que eles querem.

18- Imitam pessoas honestas. Mentirosos procuram imitar o comportamento que, no imaginário das pessoas em geral, são típicos de quem só diz a verdade – e evitam se parecer com a imagem que se tem dos mentirosos.

Apesar deste parecer um manual para ajudar as pessoas a mentir melhor, os pesquisadores têm certeza de que essa lista não é capaz de melhorar a capacidade mentirosa de ninguém. Isso porque a maioria dessas características são inerentes à pessoa e têm a ver com aspectos da sua personalidade. Para a ciência, o melhor mentiroso é aquele que nasceu assim.

domingo, 6 de fevereiro de 2022

A técnica dos psicólogos para saber quando alguém está mentindo



Jessica Seigel
BBC Future (Knowable Magazine)*8 maio 2021

A polícia achou que Marty Tankleff, de 17 anos, parecia calmo demais depois de encontrar os corpos da mãe esfaqueada e do pai espancado na casa da família em Long Island, no Estado de Nova York, nos EUA.As autoridades não acreditaram em suas alegações de inocência, e ele passou 17 anos na prisão pelos assassinatos.
Em outro caso, a polícia achou que Jeffrey Deskovic, de 16 anos, estava aflito e ansioso demais para ajudar os detetives depois que seu colega de escola foi encontrado estrangulado.
Um deles não estava transtornado o suficiente. O outro estava transtornado demais. Como esses sentimentos opostos podem ser pistas reveladoras de culpa?
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Não são, diz a psicóloga Maria Hartwig, pesquisadora do John Jay College of Criminal Justice da Universidade da Cidade de Nova York.
Ambos os rapazes, posteriormente inocentados, foram vítimas de uma concepção errônea generalizada: que você pode identificar um mentiroso pela maneira como ele age.
Em diferentes culturas, as pessoas acreditam que certos comportamentos — como desviar o olhar, inquietação e gagueira — entregam os mentirosos.
Mas, na verdade, pesquisadores encontraram poucas evidências para apoiar essa crença, apesar de décadas de pesquisas.
"Um dos problemas que enfrentamos como pesquisadores da mentira é que todo mundo pensa que sabe como a mentira funciona", afirma Hartwig, coautora de um estudo sobre pistas não-verbais para mentira publicado na revista acadêmica Annual Review of Psychology.
Esse excesso de confiança levou a erros judiciais graves, como Tankleff e Deskovic sabem muito bem."Os erros de detecção de mentira custam caro para a sociedade e para as pessoas vítimas de erros de julgamento", explica Hartwig."Tem muita coisa em jogo."
Sinais errados
Os psicólogos sabem há muito tempo como é difícil identificar um mentiroso.
Em 2003, a psicóloga Bella DePaulo, agora afiliada à Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, e seus colegas examinaram a literatura científica existente e reuniram 116 experimentos que comparavam o comportamento das pessoas ao mentir e ao dizer a verdade.
Os estudos avaliavam 102 possíveis pistas não-verbais, incluindo desviar o olhar, piscar, falar mais alto (uma pista não-verbal porque não depende das palavras usadas), encolher os ombros, mudar a postura e movimentar a cabeça, mãos, braços ou pernas.
Nenhuma delas provou ser um indicador confiável de um mentiroso, embora algumas fossem levemente correlacionadas, como pupilas dilatadas e um pequeno aumento — indetectável ao ouvido humano — no tom de voz.
Três anos depois, DePaulo e o psicólogo Charles Bond, da Texas Christian University, também nos EUA, revisaram 206 estudos envolvendo 24.483 observadores que julgaram a veracidade de 6.651 comunicações de 4.435 indivíduos.
Nem os especialistas em segurança pública, nem os estudantes voluntários foram capazes de distinguir as afirmações verdadeiras das falsas mais do que 54% das vezes — um pouco acima do acaso.
Em experimentos individuais, a precisão oscilou de 31 a 73% — e variou mais amplamente em estudos menores.
"O impacto da sorte é aparente em estudos pequenos", diz Bond. "Em estudos de tamanho suficiente, a sorte se nivela."
Este efeito em relação ao tamanho sugere que a maior precisão relatada em alguns dos experimentos pode apenas se resumir ao acaso, explica o psicólogo e analista de dados aplicados Timothy Luke, da Universidade de Gotemburgo, na Suécia.
"Se não encontramos grandes efeitos até agora", diz ele, "é porque provavelmente não existem."
A sabedoria popular diz que você pode identificar um mentiroso pela forma como ele soa ou age.
Mas quando os cientistas analisaram as evidências, descobriram que muito poucas pistas realmente tinham qualquer relação significativa com mentir ou dizer a verdade.
Mesmo as poucas associações que eram estatisticamente significativas não eram fortes o suficiente para serem indicadores confiáveis.
Os peritos da polícia, no entanto, frequentemente apresentam um argumento diferente: que os experimentos não eram realistas o suficiente.
Afinal de contas, eles dizem, os voluntários — a maioria estudantes — instruídos a mentir ou dizer a verdade em laboratórios de psicologia não enfrentam as mesmas consequências que os suspeitos de crimes na sala de interrogatório ou no banco dos réus.
"Os 'culpados' não tinham nada em jogo", afirma Joseph Buckley, presidente da John E Reid and Associates, que treina milhares de policiais todos os anos em detecção de mentiras baseada em comportamento. "Não era uma motivação real, consequente."
CRÉDITO,A. VRIJ ET AL/AR PSYCHOLOGY 2019/KNOWABLE MAGAZINE

É difícil identificar um mentiroso com testes
Samantha Mann, psicóloga da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, achava que as críticas da polícia eram pertinentes quando começou a pesquisar sobre a mentira há 20 anos.
Para aprofundar a questão, ela e o colega Aldert Vrij assistiram a horas de entrevistas em vídeo da polícia com um serial killer condenado e identificaram três verdades conhecidas e três mentiras conhecidas.
Mann pediu então a 65 policiais ingleses que vissem as seis declarações e julgassem quais eram verdadeiras e quais eram falsas. Como as entrevistas eram em holandês, os oficiais julgaram inteiramente com base em pistas não-verbais.
Os policiais estavam corretos 64% das vezes — melhor do que o acaso, mas ainda não muito precisos, diz ela.
E aqueles que se saíram pior foram os que disseram confiar em estereótipos não-verbais como "mentirosos desviam o olhar" ou "mentirosos são inquietos".
Na verdade, o assassino manteve contato visual e não se inquietou ao mentir.
"Esse cara estava claramente muito nervoso, sem dúvida", afirma Mann, mas controlou seu comportamento para contrariar estrategicamente os estereótipos.
Em um estudo posterior, também realizado por Mann e Vrij, 52 policiais holandeses não se saíram melhor do que o acaso ao tentar distinguir entre declarações verdadeiras e falsas de familiares que haviam matado seus parentes e negado isso veementemente em coletivas de imprensa.
Notavelmente, os policiais com pior desempenho foram aqueles que acreditaram que as demonstrações de emoção eram genuínas. Mas o que isso significa?
"Se o marido matou a esposa, ele poderia estar perturbado por uma série de razões, como remorso ou (medo de) ser preso", diz Mann.
"O comportamento não-verbal é tão idiossincrático. Se você se concentrar no comportamento não-verbal, como as emoções, você vai cometer erros."
Confirmando esses resultados em larga escala, anos depois, Hartwig e Bond revisaram a literatura de estudos que comparavam as habilidades das pessoas para detectar mentiras de alto e baixo risco.
Eles não encontraram evidências de que as pessoas detectassem melhor as mentiras contadas por criminosos ou suspeitos acusados ​​injustamente em investigações policiais do que aquelas contadas por voluntários em laboratório.
Algo a esconder
De assassinos em série a estudantes mentindo em experimentos de laboratório, as mentiras em todos esses experimentos foram ditas oralmente.
Em um estudo publicado em 2019, Mann examinou a farsa não-verbal, como quando alguém está tentando esconder uma atividade ilícita — um tipo de mentira relevante para detectar terroristas ou contrabandistas.
Ela recrutou 52 estudantes universitários voluntários e pediu a metade deles que transportasse um laptop que supostamente continha fotos confidenciais em um trajeto de balsa entre duas cidades.
Os voluntários foram orientados a tentar se misturar em meio à multidão e não parecerem "suspeitos", porque haveria pessoas tentando identificá-los.
A outra metade do grupo recebeu um telefone celular comum para transportar, sem instruções para esconder o que estavam fazendo.
Quando Mann mostrou os vídeos das viagens de balsa para 104 outros voluntários e pediu que identificassem os "contrabandistas", os observadores não se saíram melhor do que o acaso.
Em entrevistas posteriores, os "contrabandistas" disseram que estavam nervosos, mas conscientemente tentaram agir normalmente e controlar o nervosismo com táticas como ouvir música ou usar seus telefones.
Em seguida, Mann aumentou o nível de tensão do experimento. Metade de um novo grupo de 60 voluntários recebeu um envelope com moedas russa, egípcia e coreana para esconder, enquanto a outra metade não "contrabandeou" nada.
Mas, desta vez, Mann enviou dois pesquisadores para andar pela balsa e analisar os passageiros, aparentando comparar seus rostos com fotos em um telefone celular.
Desta vez, 120 observadores que tentavam identificar os "contrabandistas" no vídeo acertaram apenas 39,2% das vezes — bem menos do que o acaso.
A razão, diz Mann, é que os "contrabandistas" conscientemente se esforçaram para parecer normais, enquanto os voluntários "inocentes" do grupo de controle agiram com naturalidade.
A surpresa deles com a vigilância inesperada pareceu aos observadores um sinal de culpa.
Disfarçar bem
A descoberta de que mentirosos podem esconder o nervosismo com sucesso é a peça que faltava na pesquisa sobre mentira, diz o psicólogo Ronald Fisher, da Universidade Internacional da Flórida, nos EUA, que treina agentes do FBI, a polícia federal americana.
"Não são muitos os estudos que comparam as emoções internas das pessoas com o que os outros percebem", diz ele."A questão toda é que os mentirosos ficam mais nervosos, mas isso é um sentimento interno, ao contrário do modo como eles se comportam, conforme observado pelos outros." Estudos como estes levaram os pesquisadores a abandonar em grande parte a busca por pistas não-verbais para a mentira.
Mas existem outras maneiras de identificar um mentiroso?
CRÉDITO,ALAMY
Ideias preconcebidas sobre como as pessoas se comportam ao mentir resultaram em erros judiciais
Hoje, os psicólogos que investigam a mentira estão mais propensos a se concentrar em pistas verbais e, particularmente, em maneiras de ampliar as diferenças entre o que dizem os mentirosos e quem fala a verdade.
Por exemplo, os interrogadores podem reter evidências estrategicamente por mais tempo, permitindo que um suspeito fale mais livremente, o que pode levar os mentirosos a contradições.
Em um experimento, Hartwig ensinou essa técnica a 41 policiais em treinamento, que na sequência identificaram corretamente os mentirosos em cerca de 85% das vezes — em comparação com 55% de outros 41 recrutas que ainda não haviam recebido o treinamento."Estamos falando de melhorias significativas nas taxas de precisão", diz Hartwig.
Outra técnica de interrogatório explora a memória espacial ao pedir que suspeitos e testemunhas descrevam uma cena relacionada a um crime ou um álibi para ser desenhada.
Como isso reforça a lembrança, quem diz a verdade pode apresentar mais detalhes.
Em um estudo simulado de missão de espionagem publicado por Mann e seus colegas no ano passado, 122 participantes se encontraram com um "agente" no refeitório da escola, trocaram um código e, em seguida, receberam um pacote.Posteriormente, os participantes instruídos a dizer a verdade sobre o que aconteceu forneceram 76% mais detalhes sobre a experiência durante uma entrevista para ilustrar o ocorrido do que aqueles solicitados a encobrir a troca de código-pacote. "Quando você ilustra, está revivendo um evento — então isso ajuda a memória", diz Haneen Deeb, psicóloga da Universidade de Portsmouth, coautora do estudo.
O experimento foi desenvolvido com a contribuição da polícia do Reino Unido, que regularmente recorre a entrevistas para ilustração e trabalha com pesquisadores de psicologia, como parte da transição para os interrogatórios de presunção de inocência, que substituiu oficialmente os interrogatórios do tipo acusatório nas décadas de 1980 e 1990 no país após escândalos envolvendo condenações injustas e abusos.
Mudança lenta
Nos EUA, porém, essas reformas baseadas na ciência ainda precisam ser introduzidas significativamente na polícia e em outras autoridades de segurança.
CRÉDITO,ALAMY
As técnicas de detecção de mentira desenvolvidas no século 20 são notoriamente imprecisas
A Administração de Segurança de Transporte (TSA, na sigla em inglês) do Departamento de Segurança Interna dos EUA, por exemplo, ainda usa pistas não-verbais de mentira para selecionar passageiros para interrogatório nos aeroportos.
A lista de verificação de triagem comportamental secreta da agência instrui os agentes a procurar pistas que indiquem supostos mentirosos, como desviar o olhar — considerado um sinal de respeito em algumas culturas —, olhar fixo prolongado, piscar rapidamente, reclamar, assobiar, bocejar de forma exagerada, cobrir a boca ao falar e inquietação ou cuidados pessoais excessivos.
Todas essas pistas foram completamente desacreditadas por pesquisadores.
Com os agentes se baseando em fundamentos tão vagos e contraditórios para suspeita, talvez não seja surpreendente que passageiros tenham apresentado 2.251 queixas formais entre 2015 e 2018, alegando que foram selecionados com base na nacionalidade, raça, etnia ou outros motivos.
O escrutínio do Congresso em relação aos métodos de triagem da TSA em aeroportos remonta a 2013, quando o General Accounting Office (GAO)​ — o órgão de auditoria do Congresso americano — revisou as evidências científicas para detecção de comportamento e descobriu que eram insuficientes, recomendando a TSA a limitar seu financiamento e restringir seu uso.
Em resposta, a TSA eliminou o uso de oficiais de detecção de comportamento independentes e reduziu a lista de verificação de 94 para 36 indicadores, mas manteve muitos elementos sem respaldo científico, como suor intenso.
Em resposta ao novo escrutínio do Congresso, a TSA prometeu em 2019 melhorar a supervisão da equipe para reduzir a criação de perfis. Ainda assim, a agência continua a ver valor na triagem comportamental.
CRÉDITO,ALAMY
Ao serem interrogadas, as pessoas podem ficar nervosas ou angustiadas por uma série de motivos, não apenas por estarem escondendo a verdade
Como um oficial da Segurança Interna disse aos investigadores do Congresso, vale a pena incluir indicadores comportamentais de "bom senso" em um "programa de segurança racional e defensável", mesmo que não atendam aos padrões acadêmicos de evidência científica.
O gerente de relações com a imprensa da TSA, R Carter Langston, diz que o órgão "acredita que a detecção comportamental fornece uma camada crítica e eficaz de segurança dentro do sistema de transporte do país."
A TSA cita dois casos distintos de detecção comportamental bem-sucedidos nos últimos 11 anos que impediram três passageiros de embarcar em aviões com dispositivos explosivos ou incendiários.
Mas, como diz Mann, sem saber quantos supostos terroristas escaparam da segurança sem serem detectados, o sucesso de tal programa não pode ser medido.
E, na verdade, em 2015, o chefe interino da TSA foi afastado após agentes infiltrados do Departamento de Segurança Interna contrabandearem com sucesso, em uma investigação interna, dispositivos explosivos falsos e armas reais por meio da segurança do aeroporto 95% das vezes.
Em 2019, Mann, Hartwig e 49 outros pesquisadores universitários publicaram uma revisão de estudos avaliando as evidências da triagem de análise comportamental, concluindo que os profissionais de segurança pública deveriam abandonar essa pseudociência "fundamentalmente equivocada", que pode "prejudicar a vida e a liberdade dos indivíduos".
Hartwig, por sua vez, se juntou ao especialista em segurança nacional Mark Fallon, ex-agente especial do Serviço de Investigação Criminal da Marinha dos Estados Unidos e ex-diretor assistente de Segurança Interna, para criar um novo currículo de treinamento para investigadores mais solidamente baseado na ciência.
"O progresso tem sido lento", diz Fallon.
Mas ele espera que reformas futuras salvem as pessoas do tipo de condenações injustas que marcaram as vidas de Jeffrey Deskovic e Marty Tankleff.
Para Tankleff, os estereótipos de mentirosos se revelaram ferrenhos.
Em anos de campanha para ser absolvido e recentemente para exercer advocacia, o rapaz reservado e estudioso teve que aprender a mostrar mais sentimento "para criar uma nova narrativa" de inocente injustiçado, diz Lonnie Soury, gerente de crise que foi sua coach nesse esforço.
Funcionou, e Tankleff finalmente conseguiu ser admitido na Ordem de Nova York em 2020. Por que demonstrar emoção era tão importante?"As pessoas", diz Soury, "são muito tendenciosas".

*Este artigo foi publicado originalmente na Knowable Magazine e republicado aqui com permissão.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.




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