by Deise Brandão
Entre o cálculo e a lucidez, há quem aprenda a ver o mundo como ele é — não como gostaria que fosse.
Há quem nasça acreditando na bondade natural das pessoas.
E há quem, depois de cair o bastante, aprenda o idioma dos lobos.
Maquiavel pertenceu a esse segundo grupo.
E quem sobreviveu ao caos também.
Ser maquiavélico não é ser cruel — é enxergar a engrenagem do poder sem o verniz das ilusões.
É saber que, quando as máscaras caem, o que move o mundo não são promessas nem virtudes, mas estratégia, coragem e leitura fria do cenário.
Maquiavel se aprende quando a vida obriga a ver o que os outros fingem não ver:
os falsos aliados, os aplausos interesseiros, o discurso travestido de moralidade.
Aprende-se Maquiavel quando se descobre que quem mais fala de ética teme ser exposto,
e que quem é acusado de dureza é, muitas vezes, o único lúcido em meio aos disfarces.
O maquiavelismo não nasce da frieza — nasce da lucidez.
De quem já confiou e foi traído, acreditou e foi usado, perdoou e foi ferido outra vez.
É o estágio evolutivo de quem cansou de perder por jogar limpo num jogo sujo.
Maquiavel não defendia o mal. Defendia a clareza.
Não dizia “trapaceie”, mas sim: “entenda o jogo antes de jogar”.
E quem entende o jogo muda o tabuleiro.
Ser maquiavélico é agir com propósito, não com impulsos.
É controlar o que os outros chamam de sorte.
E, quando o caos chega, moldá-lo com mãos firmes — porque o caos não se convence com gentilezas.
Maquiavel também se aprende.
Aprende-se nas ausências, nas traições silenciosas, nas vezes em que a verdade custou caro demais.
E se aprende, principalmente, quando se descobre que sobreviver também é uma forma de governar.