quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

As 48 leis do poder

  Imagem criada para apostagem pela IAGemini

by Deise Brandão

1. Não ofusque o brilho do mestre.

Para agradar não exagere seus talentos, faça o mestre parecer mais brilhante. Mas se ele for fraco, apresse discretamente sua queda, contudo se ele for muito fraco, deixe o tempo se encarregar dessa queda para não manchar sua imagem.

2. Não confie demais nos amigos e aprenda a usar os inimigos.

Pessoas próximas podem sentir inveja e te derrubar facilmente pelo acesso que têm a você, cuidado. Inimigos próximos, por sua vez, te deixam alerta e se dedicam mais porque precisam se provar.

3. Oculte suas intenções.

Quando seus planos são ocultos as pessoas não poderão te prejudicar com ações prévias e más intenções. Porém, cuidado com cortinas de fumaça constantes que são descobertas e trazem uma imagem de charlatanismo. Se for necessário, assuma o erro e se mostre arrependido para reconquistar a confiança do público.

4. Diga menos que o necessário.

Quanto mais você diz, mais comum parece ser e mais pode dizer besteiras. Torne as coisas inexatas, amplas e enigmáticas para parecer original e instigante. Contudo, nem sempre é sensato ser vago, principalmente para não fomentar hipóteses prejudicais a você ou suspeitas e insegurança nos outros.  Seja cauteloso ao usar essa lei.

5. Muito se depende da reputação, então dê a própria vida para defendê-la.

Saiba qual reputação quer nutrir e aja conscientemente para construí-la e mantê-la de acordo com seus desejos. Não permita que outros construam sua reputação ou ficará a mercê deles.

6. Chame atenção a qualquer custo.

Destaque-se e fique visível a qualquer preço, porém com cuidado para não parecer excessivamente ansioso pela atenção, pois isso transmite insegurança, o que afasta o poder.

7. Faça os outros trabalhem por você, mas sempre fique com o crédito.

Use a sabedoria, o conhecimento e o esforço físico dos outros em causa própria. Porém, para que esse uso seja efetivo, sua posição tem de ser inabalável, ou você será acusado de fraude. Saiba quando dividir créditos pode ser útil para você.

8. Faça as pessoas virem até você, inclusive usando uma isca, se necessário.

É sempre melhor fazer seu adversário vir até você, abandonando seus próprios planos no processo. Use uma isca de ganhos fabulosos e atraia as pessoas para o campo de batalha que você domina. Porém, se surgir uma oportunidade para atacar de forma a vencer rapidamente seus inimigos, faça.

9. Vença por suas atitudes e não por discussões.

Vencer por discussão traz ressentimento e má vontade nas pessoas, é melhor fazer os outros concordarem com você pelas suas atitudes, sem dizer uma palavra. Só apele para um discurso persuasivo quando for para salvar sua pele e, nesse caso, mesmo sabendo que está mentindo, passe toda convicção possível, com a emoção certa e a segurança adequada.

10. Evite os infelizes e azarados e associe-se aos felizes e afortunados.

Associe-se aos felizes e afortunados, pois os estados emocionais são tão contagiosos quanto doenças. Os infelizes às vezes provocam a própria infelicidade; vão provocar a sua também.

11. Aprenda a manter as pessoas dependentes de você.

Quanto mais dependerem de você, mais liberdade você terá. Faça com que as pessoas dependam de você para serem felizes e prósperas, e você não terá nada o que temer. Mas lembre-se que toda independência tem o seu preço, aprenda a lidar com essa pressão para não sucumbir.

12. Use honestidade e generosidade seletivas para desarmar as pessoas.

Um gesto sincero e honesto encobrirá dezenas de outros desonestos. Até as pessoas mais desconfiadas baixam a guarda diante de atitudes francas e generosas. Porém quando você já tem um histórico de dissimulações, não há honestidade, generosidade ou gentileza que consiga enganar as pessoas.

13. Ao pedir ajuda, apele para o egoísmo das pessoas, jamais para a sua misericórdia ou gratidão.

Se precisar pedir ajuda a um aliado, não se preocupe em lembrar a ele a sua assistência e boas ações no passado, em vez disso revele algo na sua solicitação, ou na sua aliança com ele, que o vá beneficiar, e exagere na ênfase. Porém lembre que há pessoas que preferem uma oportunidade qualquer de exibir o quão são boas, nesse caso dê isso a elas.

14. Banque o amigo, mas aja como espião.

Use espiões para colher informações preciosas que o colocarão um passo à frente e ajudarão a conhecer melhor seu rival. Melhor ainda: represente você mesmo o papel de espião. Mas lembre-se que assim como você espiona, outros te espionarão também, então se for necessário espalhe algumas mentiras para te proteger. 

15. Aniquile totalmente o inimigo.

O inimigo perigoso deve ser esmagado totalmente, tanto física quanto espiritualmente. Se restar uma só brasa, por menor que seja, acabará se transformando em uma fogueira.Porém se tiver a chance de deixar ou mesmo promover que ele se autodestrua sozinho, melhor ainda.

16. Use a ausência para aumentar o respeito e a honra.

Circulação em excesso faz os preços caírem: quanto mais você é visto e escutado, mais comum vai parecer. Você deve saber quando se afastar. Crie valor com a escassez. Porém essa lei só se aplica se você já alcançou um certo nível de poder, afaste-se cedo demais e você será esquecido.

17. Mantenha os outros em um estado latente de suspense: cultive uma atmosfera de imprevisibilidade.

A sua previsibilidade lhes dá um senso de controle. Vire a mesa: seja deliberadamente imprevisível para deixar seus inimigos desorientados. Mas use a previsibilidade quanto for necessário deixar as pessoas ao seu redor se sentindo à vontade e tranquilas de forma que consiga direcioná-las para onde você quer.

18. Não construa fortalezas para se proteger, pois o isolamento é perigoso.

O isolamento expõe você a mais perigo do que o protege deles. Você fica isolado de informações valiosas, transforma-se em um alvo fácil e evidente. Melhor circular entre as pessoas, descobrir aliados e se misturar. A multidão serve de escudo contra seus inimigos. Contudo, o isolamento pode ser necessário para elaboração mais detalhada de um plano sem influências confusas alheias, mas use isso por um tempo curto para não perder de vista a realidade da vida.

19. Saiba com quem está lidando para não ofender a pessoa errada.

Engane ou passe a perna em certas pessoas e elas vão passar o resto da vida procurando se vingar de você. Portanto, cuidado ao escolher suas vítimas e adversários e jamais ofenda ou engane a pessoa errada.

20. Não se comprometa com ninguém.

Não se comprometa com partidos ou causas, só com você mesmo. Mas lembre-se que as pessoas vão lhe exigir um partido, saiba quando escolher algum lado pelas aparências e conquistar mais aliados.

21. Faça-se de otário para pegar os otários, pareça bobo para desarmar as pessoas.

O truque é fazer com que as pessoas se sintam espertas, e não só espertas, como também mais espertas do que você. Uma vez convencidas disso, elas jamais desconfiarão que você possa ter segundas intenções. Atenção apenas quando estiver subindo no poder, momento em que vale mostrar discretamente sua inteligência e capacidades acima da concorrência.

22. Use a tática da rendição: transforme a fraqueza em poder.

Se você é o mais fraco, não lute só por uma questão de honra; é preferível se render. Rendendo-se, você tem tempo para se recuperar, tempo para atormentar e irritar o conquistador, tempo para esperar que ele perca seu poder. Apenas cuidado para que sua rendição não te leve ao seu próprio extermínio, nesse caso deixe para lá o martírio e se proteja para ressurgir mais forte quando o tempo certo chegar.

23. Concentre suas forças.

Preserve suas forças e sua energia concentrando-as no seu ponto mais forte. Ao procurar fontes de poder para promovê-lo, descubra um ponto forte seu e o desenvolva com profundidade.

24. Represente o cortesão perfeito.

Domine a arte da dissimulação; adule, ceda aos superiores e assegure o seu poder sobre os outros da forma mais gentil e dissimulada. Porém não se arrisque a ser apanhado nas suas manobras e não deixe que as pessoas vejam seus artifícios e truques para eles não se voltarem contra você.

25. Recrie-se.

Não aceite os papeis que a sociedade lhe impinge. Recrie-se forjando uma nova identidade, uma que chame atenção e não canse a plateia. Apenas cuidado para não criar um papel que seja tão exagerado que seja visto como um canastrão e se volte contra você.

26. Mantenha suas mãos limpas.

Você deve parecer um modelo de civilidade e eficiência: suas mãos não se sujam com erros e atos desagradáveis. Mantenha essa aparência impecável fazendo os outros de joguete e bode expiatório para disfarçar a sua participação. Mas lembre-se de ficar atento caso isso comece a gerar revolta, se perceber esse movimento aja para pará-lo. 

27. Jogue com a necessidade que as pessoas têm de acreditar em alguma coisa para criar um séquito de devotos.

As pessoas têm um desejo enorme de acreditar em alguma coisa. Torne-se o foco desse desejo oferecendo a elas uma causa, uma nova fé para seguir. Para isso use palavras vazias de sentido, mas cheias de promessas. Contudo, lembre-se que lidar com uma multidão também traz perigo, uma vez que venham a se desiludir, serão muitos para você lidar.

Fique atento e tenha planos de contenção se surgirem sinais.

28. Seja ousado.

Todos admiram o corajoso, ninguém louva o tímido. Melhor agir com coragem. Qualquer erro cometido com ousadia é facilmente corrigido com mais ousadia. Porém a ousadia não deve ser uma estratégia por trás de todas as suas ações, ela deve ser usada no momento certo. Isso tanto para não cansar quanto para não gerar tantos distúrbios que não se possa controlá-los.

29. Planeje até o fim.

O desfecho é tudo. Planeje até o fim, considerando todas as possíveis consequências, obstáculos e reveses que possam anular o seu esforço e deixar que os outros fiquem com os louros. Mas tenha flexibilidade, pois sempre é necessário ajustes diante de acontecimentos inesperados. Nesse sentido, a flexibilidade sábia pode te salvar.

30. Faça suas conquistas parecerem fáceis.

Seus atos devem parecer naturais e fáceis. Toda técnica e esforço necessários para a sua execução, e os truques, devem estar dissimulados. Não caia na tentação de revelar o trabalho que você teve, pois isso despertará dúvidas, e não ensine a ninguém seus truques ou eles serão usados contra você. Contudo, há momentos também em que vale a pena revelar o esforço dos sues projetos. Tudo depende do gosto da sua plateia e da época em que você opera.

31. Controle as opções: quem dá as cartas é você.

Faça parecer que as pessoas têm opções, assim elas acham que estão no controle. Dê às pessoas opções que sempre gerem resultados favoráveis a você. Porém, há situações em que é mais vantajoso deixar as pessoas com mais liberdade. Vendo-as agir, você tem oportunidade para espionar, reunir informações e ter novas ideias.

32. Desperte a fantasia das pessoas.

Em geral evita-se a verdade porque ela é feia e desagradável. A vida é tão dura e angustiante que as pessoas capazes de criar romances ou invocar fantasias são como oásis no meio do deserto: todos correm até lá. Há um enorme poder em despertar fantasia das massas, mas também um grande risco ao despertar esse tipo de paixão.  Aja com cautela. 

33. Descubra o ponto fraco de cada um.

Todo mundo tem um ponto fraco que, em geral, é uma insegurança, uma emoção, uma necessidade incontrolável ou pode também ser um pequeno prazer secreto. Seja como for, uma vez encontrado esse ponto fraco, é ali que você deve apertar. Contudo, lembre que tirar proveito da fraqueza alheia pode desencadear ações que você não vai conseguir controlar.

34. Seja aristocrático ao seu próprio modo, aja como um rei para ser tratado como um tal.

A maneira como você se comporta, em geral, determina como você é tratado, agindo com realeza e confiança nos seus poderes, você se mostra destinado a usar uma coroa. Porém cuidado com o exagero, não é bom ficar muito acima da multidão para não criar repulsa, nem se tornar um alvo fácil.

35. Domine a arte de saber o tempo certo.

Mostre-se sempre paciente, como se soubesse que tudo acabará chegando até você. Fareje o espírito dos tempos e as tendências que o levarão ao poder. Aprenda a esperar quando ainda não é hora, e atacar ferozmente quando for propício.

36. Despreze o que não puder ter: ignorar é a melhor vingança.

Quanto mais atenção você der a algo, mais forte você o torna, às vezes é melhor deixar as coisas como estão. Se existe algo que você quer, mas não pode ter, mostre desprezo. Quanto menos interesse você revelar, mais superior vai parecer. Porém cuidado com o desprezo, há situações que se resolvem sozinhas, mas há aquelas que precisam sim de atenção e cuidado.

37. Crie espetáculos atraentes.

Imagens surpreendentes e grandes símbolos criam uma aura de poder e todos reagem a eles. Encene espetáculos para os que o cercam, repletos de elementos visuais interessantes e símbolos radiantes que realcem a sua presença. Deslumbrados com as aparências, ninguém notará o que você realmente está fazendo.

38. Pense como quiser, mas comporte-se como os outros.

Se você alardear que é contrário às tendências da época, ostentando suas ideias pouco convencionais e modos não ortodoxos, as pessoas vão achar que você está apenas querendo chamar atenção e se julga superior.Acharão um jeito de punir você por fazê-las se sentir inferiores, então é muito mais seguro juntar-se a elas e desenvolver um toque comum. Compartilhe a sua originalidade só com os amigos tolerantes, com aqueles que certamente apreciarão a sua singularidade ou quando seu poder alcançar um nível que permita esse tipo de comportamento sem que você perca poder.

39. Agite as águas para atrair os peixes.

Raiva e reações emocionais são contraproducentes do ponto de vista estratégico. Você precisa se manter sempre calmo e objetivo. Mas, se conseguir irritar o inimigo sem perder a calma, você ganha uma inegável vantagem. Desequilibre o inimigo: descubra uma brecha na sua vaidade para confundi-lo e é você quem fica no comando. Contudo é preciso ter cuidado quando se joga com as emoções das pessoas, às vezes é melhor deixar alguns peixes no fundo do lago.

40. Despreze o que vier de graça.

O que é oferecido de graça é perigoso – normalmente é um ardil ou tem uma obrigação oculta.Se tem valor, vale a pena pague o valor integral e não deva nada a ninguém.Mas lembre-se que as pessoas são essencialmente preguiçosas e preferem que tudo lhes caiam no colo a ter que trabalhar. Se for você, prometa ganhos fáceis e elas não enxergarão mais nada.

41. Evite seguir os passos de um grande homem.

Não fique perdido na sombra de outras pessoas famosas que vieram antes de você, ou preso a um passado que não foi obra sua: estabeleça o seu próprio nome e identidade mudando de curso. Se enxergar oportunidade, se aproprie de coisas do passado que possam te aproximar do poder, mas depois disso menospreze o legado e se firme no poder com sua própria luz.

42. Ataque o pastor e as ovelhas se dispersam.

Em geral, a origem dos problemas pode estar em um único individuo: o agitador, o subalterno arrogante, o envenenador da boa vontade. Não espere os problemas que eles causam se multiplicarem e não tente negociar com eles, neutralize a sua influência isolando-os ou banindo-os. Mas lembre-se de fazer isso de forma astuta para que o agitador não tenha tempo para criar ações de contra-ataque e acabar te derrubando.

43. Conquiste corações e mentes.

A coerção provoca reações que acabam funcionando contra você. É preciso atrair as pessoas para que elas queiram vir até você de bom grado, pois a pessoa seduzida torna-se um peão fiel.

44. Desarme e enfureça com o efeito espelho.

Quando você espelha os seus inimigos, agindo exatamente como eles agem, eles não entendem a sua estratégia. O efeito espelho os ridiculariza e humilha, fazendo com que reajam exageradamente. Porém cuidado com o tipo de memória que o reflexo pode provocar nas pessoas, que pode te destruir. Tenha muita cautela ao usar essa lei.

45. Pregue a necessidade de mudança, mas não mude muita coisa ao mesmo tempo.

Teoricamente, todos sabem que é preciso mudar, mas na prática as pessoas são criaturas de hábitos. Muita inovação é algo traumático e conduz à rebeldia. Se você é novo numa posição de poder, ou alguém de fora tentando construir a sua base de poder, mostre explicitamente que respeita a maneira antiga de fazer as coisas. Se a mudança é necessária, faça-a parecer uma suave melhoria do passado. Apenas cuidado para não se associar a um passado funesto cujo fim é inclusive já esperado pelas pessoas.

46. Não pareça perfeito demais.

Parecer melhor do que os outros é sempre perigoso, mas o que é perigosíssimo é parecer não ter falhas ou fraquezas. Exiba ocasionalmente alguns defeitos e vícios inofensivos, para desviar a atenção e parecer mais humano e acessível. Apenas se seja perfeito diante dos invejosos que tentarem te destruir, contra eles sua perfeição pode ser disparada com precisão e astúcia.

47. Não ultrapasse a meta estabelecida, na vitória aprenda a parar.

O momento da vitória é quase sempre o mais perigoso. No calor da vitória, a arrogância e o excesso de confiança podem fazer você avançar além da sua meta e, ao ir longe demais, você conquista mais inimigos do que derrota. Seja implacável com o seu inimigo, mas não crie outros avançando além do necessário. Fixe a meta e, ao alcançá-la, pare.

48. Evite ter uma forma definida.

Em vez de assumir uma forma que o seu inimigo possa agarrar, mantenha-se maleável e em movimento.A melhor maneira de se proteger é ser tão fluido e amorfo como a água; não aposte na estabilidade ou na ordem permanente. Até porque tudo muda.

Fontes:

GREENE, Robert. As 48 leis do poder. Rio de Janeiro: Rocco, 2021.

As 48 Leis do Poder de Robert Greene. em: <https://www.youtube.com/watch?v=dQUApn0G-8c>.

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Margaret E. Knight: a inventora que destruiu um ladrão… usando provas



by Deise Brandão

Washington, 1871. Uma mulher entra no tribunal carregando cadernos, não argumentos vazios. Quatro anos de desenhos, cálculos, protótipos e datas. Cada página era uma peça mecânica, cada anotação, uma engrenagem.Margaret E. Knight estava ali para recuperar o que lhe roubaram: sua invenção.

Do outro lado, Charles Annan, que tentou patentear a máquina dela como se fosse dele. Sua defesa foi tão simples quanto ofensiva:“Nenhuma mulher conseguiria criar algo tão complexo.” Era assim que a ciência do século XIX explicava o roubo de ideias: diminuindo mulheres.

De menina da fábrica a engenheira sem diploma

Margaret nunca quis bonecas. Preferia ferramentas. Aos 12 anos, trabalhando em fábricas de algodão, viu um trabalhador ser ferido por uma lançadeira. Sem estudo formal, criou um dispositivo de segurança que evitou acidentes semelhantes. Salvou vidas, não recebeu crédito.Aprendeu a criar. Depois, aprendeu a se proteger.

A sacola que mudou tudo

Já adulta, em uma fábrica de sacos de papel, encontrou um problema que ninguém resolvia: as sacolas não ficavam de pé.

Ela projetou uma máquina que as cortava, dobrava e colava automaticamente, criando o fundo plano que usamos até hoje. Peça por peça, construiu um protótipo… até Annan roubar seus planos e correr ao escritório de patentes antes dela. Mas Margaret estava preparada para a guerra.

Quando provas valem mais do que discursos

O julgamento durou 16 dias. Margaret mostrou cada desenho, cada cálculo manuscrito, testemunhos de maquinistas, datas de testes, protótipos. Annan não apresentou nada além da velha desculpa: “mulheres não entendem de máquinas”.

A justiça, desta vez, ouviu fatos.
Em 11 de julho de 1871, Margaret Knight recebeu a patente nº 116.842. Uma das primeiras vitórias formais de uma mulher em disputas de patentes na história dos EUA. Ela não ganhou por simpatia. Ganhou porque provou.

O mundo carregou o futuro nas mãos

As sacolas criadas por sua máquina espalharam-se por mercearias, livrarias, escolas. O cotidiano passou a caber dentro de uma invenção de uma mulher.

Margaret continuou inventando até sua morte em 1914. Acumulou mais de 20 patentes e cerca de 100 invenções. Foi chamada de “a Edison feminina”, título que nunca precisou. Ela era Margaret Knight. Nunca se casou, nunca enriqueceu, nunca deixou de trabalhar. Só abriu caminho.

Toda sacola tem história

Cada vez que abrimos um saco de papel, tocamos o trabalho de alguém que provou—em tribunal e no mundo—que talento não tem gênero, que invenção não é privilégio masculino e que a verdade vence quando é documentada.

Charles Annan estava errado.
Margaret Knight estava certa.

Lembre o nome, não o adjetivo.
Margaret E. Knight: a inventora do fundo plano e do fim das desculpas.

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Fonte: Livro / Biografia "Mothers of Invention: From the Bra to the Bomb, Forgotten Women and Their Inventions"Autora: B. Weinberg — 1988

Nise da Silveira: quando cuidar era insubordinação


Foto criada por IA - Gemini

by Deise Brandão

Enquanto a psiquiatria celebrava eletrochoque, lobotomia e camisa de força como avanços modernos, uma mulher caminhava devagar pelos corredores de um hospital no Rio de Janeiro. Não carregava agulhas, nem contenções. Levava cadernos, tintas e uma teimosia feroz: enxergar pessoas onde o sistema via apenas diagnósticos.

O nome era Nise da Silveira — alagoana, única mulher de sua turma de Medicina, e a médica que escolheu o território mais temido da psiquiatria: a loucura.

Lá dentro, recusou o protocolo. Chamou de tortura o que outros chamavam de ciência. Negou eletrochoques, insulinoterapia, lobotomia, camisa de força. Pagou o preço. Foi ridicularizada, tratada como ingênua, acusada de “não entender psiquiatria”.

Nise respondeu criando o impensável: oficinas de pintura, modelagem, música, jardins, e até cães que circulavam entre pessoas consideradas “irrecuperáveis”. Não viu “delírios sem sentido”. Viu linguagem. Criou o Museu de Imagens do Inconsciente para guardar aquilo que a medicina se recusava a ouvir.

Enquanto hospitais defendiam violência travestida de técnica, Nise aproximava Jung do Brasil, discutia símbolos, sonhos, mitos, e propunha algo subversivo: tratar com afeto. Sua Terapêutica Ocupacional se tornou laboratório vivo de um outro modo de cuidar — o que mais tarde inspiraria a luta antimanicomial.

Hoje, prêmios, centros culturais e documentários levam seu nome. Mas a revolução real está escondida naquilo que ninguém vê: gente que deixou de ser amarrada para poder criar, famílias reencontradas, profissionais que passaram a olhar diferente.

Nise não “doceficou” a psiquiatria. Ela quebrou o concreto e plantou jardim no porão.
Humanizar tratamento mental não é romantizar dor — é recusar barbárie como protocolo.

O Falso Juiz

 


by Deise Brandão

O Falso Juiz, documentário do jornalista português Sérgio Tavares, promete retratar o ministro Alexandre de Moraes como um “psicopata” e um “falso juiz”. Porém, o filme não entrega um perfil psicológico do ministro. O título é mais um alerta político do que uma tese comprovada.

A obra acumula dezenas de acontecimentos da política recente — soltura de Lula, governo Bolsonaro, pandemia, eleições, 8 de janeiro de 2023 — com Moraes sempre presente, mas não exatamente como figura central capaz de explicar tudo. As conexões entre os fatos são sugeridas, não explicadas.

Essa escolha enfraquece a clareza do documentário: há excesso de informação e pouca estrutura. O espectador sai com indignação e urgência, mas não com um argumento organizado. O filme funciona mais como provocação do que como investigação.

Mesmo com essa fragilidade, o documentário é relevante. O acúmulo de casos mostra um Brasil difícil de compreender, com abusos simultâneos e contradições que escapam de qualquer narrativa única. A obra atinge seu objetivo maior: mostrar ao mundo que há algo muito errado acontecendo no país, ainda que sem explicar totalmente o quê.

O ponto mais forte do filme surge quando Tavares dá voz aos presos do 8 de janeiro. Sem defendê-los, o documentário os humaniza, mostrando histórias que foram ocultadas pela narrativa dominante — pessoas transformadas em rótulos (“terroristas”, “golpistas”) voltam a ter rosto, nome e contexto.

No fim, o filme não comprova que exista um “psicopata” comandando o Judiciário, mas expõe um cenário político urgente e nebuloso. Em vez de respostas, exige reação. E talvez, diante da complexidade atual, isso seja o mais importante.

🕒 145 min — Classificação livre — Disponível no YouTube

John Lennon: o lado B do “paz e amor”

 



by Deise Brandão


Por décadas, John Lennon foi vendido como porta-voz do amor universal.
Um guru pop da paz, pregando que o mundo era lindo, desde que o ego ficasse desarmado e todos cantassem “Imagine”.
Mas bastou sair da música para entrar na vida real: Lennon não era exatamente um símbolo de paz. Pelo contrário.

Se o slogan era “Love is all you need”, faltou combinar com a família, com o filho, com as mulheres e com ele mesmo. Infância torta, obsessões e um “diário” perturbador

Lennon cresceu colecionando abandonos: pai ausente, mãe instável, culpa, revolta e um ego gigante.

Em áudios gravados em 1979, o mito do pacifismo confessou fantasias sexuais com a própria mãe quando tinha 14 anos, e disse acreditar que ela “talvez tivesse permitido”.
Ninguém nunca viu John pedir desculpas por isso — muito menos por coisa pior.
O pacifista que batia em casa

Cynthia Powell, sua primeira esposa, não conheceu o Lennon da utopia hippie. Conheceu o Lennon real: agressivo, infiel e cruel.
Sua biografia descreve violência, humilhações e traições.

E o filho Julian, ainda criança, apanhava, era ridicularizado pelo próprio pai e ignorado em quase tudo que dizia respeito à sua vida.
Uma governanta da família relatou, em carta, episódios de agressões que fariam o “ícone da paz” perder qualquer fã sensato.
Lennon pregava amor no microfone e praticava o oposto dentro de casa.

Julian resumiu a contradição melhor do que qualquer crítico: “Meu pai defendia a paz e o amor no mundo. Mas não conseguia demonstrar um pouco de paz e amor pela própria família.”
O mito, a amante e a narrativa conveniente.

Cynthia era esposa no papel — Lennon a tratava como “namoradinha descartável”.
Quando a traição com Yoko Ono não dava mais para esconder, ele simplesmente ficou bêbado… e contou tudo. Como um adolescente orgulhoso de uma aventura proibida.

Yoko, depois, quis reescrever a história — como se Cynthia tivesse atrapalhado o amor épico dos ídolos.Ironia: até Yoko foi traída. Lennon manteve um relacionamento paralelo com sua própria assistente, May Pang, durante 18 meses. E Yoko ainda achou “não prejudicial”.

O homem que cantou sobre amor livre não falava sobre liberdade. Falava sobre posse.
A paz morre quando vira marketing.

John Lennon se tornou ícone por aquilo que dizia, não por aquilo que vivia.
Assim como muita gente hoje faz discurso “de bem”, enquanto destrói quem está perto.

O que morreu não foi a paz.
O que morreu foi a ilusão vendida como paz.
A violência sempre esteve lá. Só não aparecia na capa do disco.
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Fontes:

Vice (Vice News / Vice Magazine)

Matérias que abordam os áudios gravados por Lennon, suas confissões e o relacionamento com Cynthia e Julian.
Trechos citados sobre:

  • gravações de 1979 (fantasia com a mãe);

  • relacionamento extraconjugal com May Pang;

  • postura de Yoko Ono ao comentar o caso.

The Times (Reino Unido)
Publicação da carta de Dorothy Jarlett, governanta da família Lennon, revelada apenas em 2015.
Fonte da informação sobre:

  • agressões a Julian;

  • bullying com aparência e comportamentos do filho;

  • infidelidade e drogas dentro de casa.

Biografia de Cynthia Powell Lennon – “John” (2005)
Livro de memórias da primeira esposa.
Fontes das informações sobre:

  • violência doméstica;

  • descrições do comportamento de Lennon;

  • abandono afetivo com Julian.

Biografia: “John Lennon: A Life” – Philip Norman (2008/2009)
Livro investigativo com entrevistas, documentos privados e relatos de pessoas próximas.
Confirma abusos, padrões de comportamento e o vínculo problemático com a fama.

Obras complementares frequentemente usadas em matérias sobre o tema

  • Bob Spitz – “The Beatles: A Biography” (2007)
    Confirma o comportamento agressivo e autodestrutivo.

  • Steve Turner – “Beatles 1966: O Ano Revolucionário” (2016/2018)
    Contextualiza a transformação da imagem pública de Lennon em “ativista”.

Em Alta

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