O homem verde
Mas os assassinos da Amazönia matam as árvores incömodas, e tambem matam as pessoas incömodas.
Pessoas como Chico Mendes.
Seus pais, escravos por dívidas, haviam chegado aos seringais vindos do distante deserto do Ceara.
Francisco Alves Mendes Filho se fosse vivo teria completado 69 anos de idade, no último dia 15 de dezembro. Criado na Floresta Amazônica, sem jamais freqüentar uma escola e tendo de trabalhar desde os nove anos como seringueiro, foi responsável pela mais eficaz militância ecológica já ocorrida no país, tornando-se símbolo mundial da luta pela preservação da Amazônia.
Em meados da década de 80, fundou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (Acre), abrangendo quase somente trabalhadores da borracha. No ano de 1985, fundou o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS). Homem tolerante e diplomático encetou diálogos proveitosos entre os índios e os seringueiros, dois grupos desde sempre avessos, mas reconciliados por Chico Mendes, que inspirou mesmo a criação de uma associação cívica denominada de "Povos da Floresta".
Provocou, no entanto, a ira de fazendeiros da região, sendo assassinado, de fato, às 18 horas e 45 minutos do dia 22 de Dezembro de 1988, à porta da cozinha da sua casa em Xapuri no Acre. Assassinado a mando de um fazendeiro, por nome Darli Alves da Silva. O executante foi o filho deste, Darci, que disparou à queima-roupa uma espingarda de caça.
A sua consciência ecologista era notável, ainda que de nada lhe tenha valido. Numa mensagem de despedida escrita em 5 de Dezembro de 1988, antevendo o seu fim trágico, feito de forma cobarde e odiosa, escreveu: "Não quero flores no meu enterro, pois sei que vão arrancá-las da floresta. Quero apenas que o meu assassinato sirva para acabar com a impunidade dos jagunços, sob a proteção da Polícia Federal do Acre e que, de 1975 para cá, já mataram mais de 50 pessoas". Acusou uma série de autores de homicídios e "justiças de fazendeiros", ainda que a Polícia Federal não tenha usado tais informações, que acabariam por se provar com a morte de Chico.
A ultima noticia obtida pela rede, da viúva de Chico, data de outubro de 2010.
Casa de viúva de Chico Mendes sofre tentativa de invasão no Acre
KÁTIA BRASIL
DE MANAUS
DE MANAUS
A casa de Ilzamar Mendes --viúva do líder seringueiro Chico Mendes (1944-1988)-- ficou vigiada neste sábado pela Polícia Civil, após uma tentativa de invasão ao imóvel, localizado em Rio Branco (AC).
Na sexta-feira, por volta das 20h30, bandidos tentaram invadir a casa a residência, que fica a 8 km do centro da capital, no bairro de Vila Acre.
Ilzamar, 45, estava acompanhada de Maria Luiza, sua neta de 6 anos, quando aconteceu o caso.
Eu ouvi um barulho, abri a janela do meu quarto vi que tinha três homens. Eles arrombaram e derrubaram o meu portão no chão. Permaneceram ali por cinco minutos. E depois saíram caminhando normalmente pela rua", afirmou a viúva à Folha. Ela disse ainda que chamou a polícia e prestou queixa.
À reportagem, ela afirmou que não crê em relação política na tentativa de invasão de sua casa. Ilzamar tem aparecido na propaganda eleitoral gratuita na TV do presidenciável José Serra (PSDB). Ela pede apoio ao candidato dizendo que ele "representa a causa ambiental, a grande bandeira de luta de Chico Mendes".
Ela atribuiu a tentativa de invasão à violência no Acre. "Eu estou aparecendo na mídia [no programa do Serra] e isso me preocupou, mas não quer dizer que é [a tentativa de invasão] uma questão política."
Ilzamar disse que recebeu segurança da Polícia Civil. "Esta invasão fez com que minha família lembrasse da violência que nós sofremos [quando houve o assassinato de Chico Mendes] e que vai fazer 22 anos em dezembro."
Procurado pela reportagem, o delegado geral da Polícia Civil do Acre, Emilson Farias, disse que foi aberto um inquérito para investigar o caso. Segundo ele, Ilzamar revelou aos policiais que estava sofrendo ameaças --o que não foi dito à Folha antes da declaração do delegado.
Farias disse ainda que peritos foram ao local e coletaram provas, como impressões digitais. Os acusados não foram localizados até as 19h.
Depois de falar com o delegado, a reportagem procurou Ilzamar para questionar sobre as ameaças, mas não conseguiu.
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