sábado, 25 de fevereiro de 2023

'Não tem como a pessoa ir para casa', diz trabalhador resgatado em condições análogas à escravidão em Bento Gonçalves

Um empresário que prestava serviços para vinícolas da região foi preso. Foram relatados casos de violência com choque elétrico e spray de pimenta. Ginásio da cidade recebe os trabalhadores.

Por Ana Julia Griguol, g1 RS e RBS TV

23/02/2023 15h58 


Empresário é preso por manter 150 trabalhadores em condições análogas à escravidão no RS

O primeiro grupo de trabalhadores resgatados na noite de quarta-feira (22) em situação análoga à escravidão chegou ao ginásio Darcy Pozza em Bento Gonçalves, na Serra, na tarde desta quinta (23). O local servirá de alojamento aos cerca de 200 homens resgatados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Inicialmente, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informou que eram 150 pessoas. O número foi atualizado no fim da tarde desta quinta (23). Um dos homens relatou à RBS TV as condições em que ele e os colegas viviam na acomodação oferecida pelos empregadores e a relação com a empresa responsável pela contratação.

"Todos os dias, a gente amanhece com o pensamento de ir para casa. Mas não tem como a pessoa ir para casa, porque eles prendem a gente de uma forma que ou a gente fica ou, se não quiser ficar, vai morrer. Se a gente quiser sair, quebrar o contrato, sai sem direito a nada, nem os dias trabalhados, sem passagem, sem nada. Então, a gente é forçado a ficar", contou.

A operação foi realizada por PRF, MTE e Polícia Federal (PF), após três trabalhadores procurarem a PRF em Caxias do Sul, afirmando que tinham fugido do alojamento em que eram mantidos contra sua vontade. Eles contaram que vieram da Bahia para trabalhar na colheita da uva com promessa de salários superiores a R$ 3 mil, além de acomodação e alimentação.

Imagens de espaços onde eram mantidos os trabalhadores em Bento Gonçalves — Foto: Polícia Rodoviária Federal/Divulgação

No entanto, ao chegarem no RS, os trabalhadores relataram enfrentar atrasos nos pagamentos dos salários, violência física, longas jornadas de trabalho e oferta de alimentos estragados. Também disseram que eram coagidos a permanecer no local sob a pena de pagamento de uma multa por quebra do contrato de trabalho. Foram relatados casos de violência com choque elétrico e spray de pimenta, conforme relata o gerente regional do MTE.

"Alguns diziam que tinham recebido um adiantamento, mas nunca tiveram pagamento do que foi prometido. Em contrapartida, tinham essa indicação: 'vai lá e compra no mercadinho que te vende fiado', e esse mercadinho praticava preços elevados. Foi identificado um saco de feijão a R$ 22. O empregado ficava sempre devendo e não conseguia sair sem pagar a conta, não recebia o salário e ficava essa situação, de ficar preso no local por conta da dívida. Isso foi uma das coisas que caracterizou o trabalho escravo, além dessa história das agressões. Nossa fiscalização apreendeu no local uma máquina de choque elétrico e spray de pimenta que era usado contra os empregados que reclamavam da situação. É uma situação escandalosa de tratamento das pessoas", conta Vanius Corte, gerente regional do Ministério do Trabalho e Emprego.

Situação de escravidão: espaço onde ficavam trabalhadores em Bento Gonçalves — Foto: Polícia Rodoviária Federal/Divulgação

Prisão e pagamento de fiança

O responsável pela empresa, que mantinha esses trabalhadores nessas condições, segundo a polícia, foi preso e encaminhado, inicialmente, para a delegacia da Polícia Federal (PF) em Caxias do Sul. Após, foi transferido para um presídio em Bento Gonçalves. Ele foi liberado nesta quinta após pagar fiança de cerca de R$ 40 mil. O homem tem 45 anos de idade e é natural de Valente, na Bahia.

Segundo a PF, a empresa tem contratos com diversas vinícolas da região, presta serviços de apoio administrativo e os trabalhadores teriam sido contratados para atuar na colheita da uva.

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