terça-feira, 16 de setembro de 2025

Execução de Ruy Ferraz Fontes: por que a pressa em carimbar PCC?

 

by Deise Brandão

Praia Grande (SP), 16set.2025 — O ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, 63, foi executado na noite de segunda (15) em Praia Grande, quando deixava a sede da prefeitura, onde exercia o cargo civil de secretário de Administração desde 2023. A emboscada usou ao menos um fuzil e somou mais de 20 disparos — dinâmica típica de execução planejada. O carro da vítima foi alvejado e acabou batendo em um ônibus; os criminosos abandonaram e incendiaram veículo na sequência. 

Fato: Ruy chefiou a Polícia Civil entre 2019 e 2022 e ganhou notoriedade por investigar e prender lideranças do PCC desde os anos 2000 (ataques de 2006). Hoje, porém, era gestor municipal e estava aposentado da ativa policial

O rótulo “PCC” — e as lacunas

Nas primeiras 24 horas, a hipótese de mando do PCC circulou forte — muito por causa do histórico de confronto e do padrão de ataque pesado. Mas não há, até aqui, prova pública de autoria: o que existe é linha de investigação. O GAECO foi acionado para apoiar o inquérito, sinal de caso complexo, mas sem conclusão. 

Perguntas que precisam de resposta antes de cravar facção:

  1. Vínculo orgânico: onde estão as mensagens, pagamentos, logística e nomes que conectem executores a uma Sintonia do PCC?

  2. Motivação específica em 2025: qual fato novo justificaria matar agora um ex-delegado que saiu do comando da corporação em 2022 e virou secretário municipal em 2023?

  3. Cadeia logística: armas, carros, casas de apoio, olheiros, levantamentos de rotina — quem bancou e coordenou? (A polícia já identificou dois carros roubados usados no crime, um Jeep Renegade e uma Hilux, padrão comum em execuções para despistar autoria).

A tese de que “o PCC espera a vítima se aposentar” exige lastro: qual o precedente? Em qual investigação recente isso se comprovou? Sem tais respostas, o rótulo apressado mais contamina do que esclarece.

O que os fatos indicam (até agora)

  • Cenário e alvo: saída da Prefeitura de Praia Grande (bairro Nova Mirim). Alvo previsível, rotina pública. 

  • Execução com fuzil e mais de 20 tirosperseguição e carro incendiado após a ação — assinatura de grupo organizado, mas não exclusiva do PCC. 

  • Veículos roubados e abandonados — tática clássica de quadrilhas paulistas em homicídios sob encomenda. 

  • Repercussão institucional: velório na Alesp e entrada do GAECO no caso, reforçando prioridade política e pressão por resultado. 

Três hipóteses que a polícia precisa testar (sem hierarquia)

  1. Retaliação tardia de facção
    Possível pelo histórico — Ruy foi protagonista contra o PCC. Mas precisa demonstrar mando (comunicações, financiadores, armas com “histórico” em casos do PCC) e propósito (recado? disputa interna? dívida antiga?). Sem lastro, continua suposição. 

  2. Conflito administrativo local / interesses contrariados
    Ruy comandava a Secretaria de Administração (contratos, pessoal, rotinas sensíveis). Mudanças, fiscalizações, cortes e exonerações podem gerar inimigos com dinheiro e logística para contratar execução. Exige varredura: últimos atos oficiais, licitações, afastamentos, pressões políticas.

  3. Acerto de contas de quadrilhas não faccionadas (“consórcio”)
    SP e Baixada têm histórico de homicídios sob encomenda com tática e armamento similares, sem vínculo formal a facções. A balística e a inteligência (IBIS, LPR de placas, antenas) dirão se as armas/carros dialogam com outros casos

Checklist investigativo (o mínimo técnico)

  • Balística: cascas e projéteis no local → IBIS → hits com outros homicídios.

  • Veículos: trilhar a cadeia de posse dos carros roubados (quem roubou, onde foram “esquentados”, quem abasteceu e estacionou). 

  • Câmeras: rota completa (prefeitura → vias de fuga → ponto de incêndio) + OCR de placas na malha da Baixada. 

  • Dados financeiros/comunicações: quebras direcionadas (alvos por geofencing e vínculos com roubos dos veículos).

  • Âmbito municipal: mapa de decisões recentes da Administração (contratos, glosas, sindicâncias), com cruzamento de ameaças e desavenças. 

Linha do tempo essencial

  • Anos 2000 — Ruy desponta no enfrentamento ao PCC e a roubo a banco; ganha visibilidade nos ataques de 2006.

  • 2019–2022 — Delegado-geral de SP. 

  • Jan/2023 — Assume Secretaria de Administração de Praia Grande.

  • 15.set.2025 — Execução em emboscada na saída do trabalho. Investigação em curso; GAECO dá suporte. 

    Por que a hipótese PCC não basta — e o risco de repetir o caso VitóriaA pressa da Polícia Civil em apontar o PCC como mandante do assassinato de Ruy Ferraz Fontes ecoa um padrão conhecido: transformar uma hipótese em “verdade oficial” sem apresentar, de imediato, provas concretas. Até agora, nenhuma interceptação, prisão ou documento foi divulgado para sustentar a ligação direta da facção com a execução. A justificativa — histórico do delegado contra o crime organizado e modus operandi típico — não responde às perguntas centrais: por que matar agora, anos após sua saída da corporação, e por que expor tanto os executores num ataque à luz do dia em frente à prefeitura? Sem respostas sólidas, corre-se o risco de repetir o enredo do caso Vitória, em que a narrativa inicial não correspondeu ao desfecho e a autoria segue nebulosa. Para a sociedade, o perigo é duplo: uma investigação enviesada pode tanto absolver os verdadeiros mandantes quanto alimentar mitos convenientes.

  • Timing: se a motivação fosse exclusivamente “vingança histórica”, por que não ocorreu antes, quando ele era delegado-geral e simbolicamente mais “valioso”? (Resposta exige prova, não suposição).

  • Exposição desnecessária: ataque de alto ruído em frente à prefeitura aumenta risco de erro, flagrante e comoção — custo que nem sempre está na cartilha da facção, que costuma reduzir exposição dos executores. É preciso ver quem eram os atiradores, de onde vieram e quem os banca, antes de carimbar autoria.

No momento, há indícios de planejamento e poder de fogo, mas não há prova pública de mando do PCC. Pressa em etiquetar o crime pode servir interesses narrativos, não a verdade. O eixo racional é: mando comprovadomotivação clara em 2025 e cadeia logística rastreável. Até lá, a hipótese prefeitura/administrativa tem que ficar na mesma mesa da facção — e ser investigada com a mesma fome.

Matéria baseada em informações de CNN BrasilAgência BrasilInfoMoney/Estadão e Jovem Pan publicadas em 15–16.set.2025.

Tratamentos Reais para Lesão Medular: O Que Já Foi Conquistado


by Deise Brandão

Lesões na medula espinhal causam perda parcial ou total de função motora e/ou sensação abaixo do nível da lesão. Cientistas vêm estudando várias abordagens: células-tronco, estimulação elétrica, dispositivos de reabilitação combinados. Embora ainda não haja “cura universal”, há resultados animadores em humanos, com melhorias funcionais importantes.

Estudos mais recentes e estatísticas

1.  ARC-EX Therapy: estimulação elétrica

  • Um ensaio clínico multicêntrico recente com 60 participantes com lesão cervical crônica (braço/pulso) avaliou a terapia chamada ARC-EX. Nature

  • Resultados:

    • 72% dos participantes tiveram melhora acima do limiar mínimo considerado clinicamente significativo em ambas as áreas de força e desempenho funcional da mão e do braço. Nature

    • Também houve melhora significativa na força de “pinça” entre dedos, preensão e sensibilidade. Nature

    • Nenhum evento adverso grave relacionado ao dispositivo foi reportado. Nature+1

  • Importância: mostra que estimulação elétrica externa + reabilitação pode recuperar funções mesmo em lesões crônicas. Nature+1

2. Terapia com células-tronco

  • Meta-análise (BMC Medicine, 2022): revisou 62 estudos envolvendo 2.439 pacientes com lesão medular tratados com diferentes tipos de células-tronco. BioMed Central

    • Aproximadamente 48,9% dos pacientes apresentaram melhora de pelo menos um grau na escala ASIA (escala de gravidade da lesão medular) após tratamento com células-tronco. BioMed Central

    • Funções urinárias melhoraram em ~ 42,1% dos casos. BioMed Central

    • Funções gastrointestinais melhoraram em ~ 52,0% nos casos avaliados. BioMed Central

    • Efeitos adversos foram comuns, mas majoritariamente menores (espasmos musculares, dor neuropática, sintomas transitórios). Nenhum tumor relatado nos seguimentos curtos/médios. BioMed Central

  • Estudo da Mayo Clinic (fase 1) com células mesenquimais derivadas de tecido adiposo: 10 adultos com lesão traumática medular. Mayo Clinic News Network

    • 7 dos 10 participantes tiveram melhoria na escala ASIA: sensação (ponta de agulha, toque leve), força em músculos motores, recuperação de contração voluntária relevância para função intestinal ou anal. Mayo Clinic News Network

    • O estudo confirmou que o uso foi seguro, sem grandes eventos adversos. Mayo Clinic News Network

3.  Novos ensaios clínicos de fase inicial

  • Griffith University (Austrália) iniciou recentemente um ensaio fase 1 para lesões crônicas com uso de olfactory ensheathing cells (células de revestimento olfatório, vindas do nariz). News-Medical

    • Objetivo: avaliar segurança e efeitos funcionais (movimento dos dedos, função de bexiga/intestino, etc.). News-Medical

    •  O que ainda falta / limites

  • Muitas das melhorias observadas não correspondem a recuperação total, e variam muito entre pacientes.

  • O tempo entre a lesão e o tratamento influencia bastante: tratamentos iniciados logo após a lesão tendem a apresentar melhores resultados.

  • Número de participantes ainda é pequeno em muitos estudos; seguimento (tempo de observação) muitas vezes é curto.

  • Há variabilidade em tipos de células, método de administração, intensidade/tempo da reabilitação, que dificulta comparações.

  • Segurança: embora não haja eventos graves nos estudos recentes maiores, efeitos menores são comuns; precisamos de seguimento para ver efeitos a longo prazo (por décadas).

Para leitores interessados:

  • Já é real que células-tronco, estimulação elétrica externa (como ARC-EX) e novos protocolos de reabilitação combinados estão dando resultados mensuráveis.

  • Podemos dizer que ~ metade dos pacientes submetidos a terapia com células-tronco podem experimentar ao menos uma melhora modesta (pelo menos 1 grau na escala ASIA).

  • Importante sublinhar: melhorias sensoriais e motoras são mais frequentes do que recuperação completa da mobilidade.

  • Segurança geral parece aceitável nos estudos menores; porém é necessário cuidado e mais observação, especialmente para efeitos tardios.

Psicologia Junguiana e a ciência atual

     

by Deise Brandão

. O que é a abordagem junguiana

  • Psicologia Analítica: Jung criou uma abordagem própria da psique, chamada de Psicologia Analítica. Ela se diferencia da psicanálise freudiana porque amplia a noção de inconsciente para além do pessoal, introduzindo o inconsciente coletivo — um reservatório de símbolos universais (arquétipos) compartilhados pela humanidade.

  • Arquétipos: Formas ou padrões universais (o Herói, a Sombra, a Anima, o Velho Sábio, etc.) que influenciam sonhos, mitos, arte, comportamento e cultura.

  • Processo de individuação: O caminho de desenvolvimento psicológico no qual a pessoa integra aspectos inconscientes à consciência, tornando-se um “eu” mais completo.

  • Função simbólica: Sonhos, mitos e símbolos são entendidos como linguagem natural da psique, não apenas como produtos secundários.

2. Conexões com ciência atual

a) Psicologia profunda e neurociência

  • Inconsciente: Hoje, a neurociência reconhece que grande parte do processamento mental é inconsciente. Pesquisas sobre tomada de decisão, vieses cognitivos e memória implícita confirmam que há camadas automáticas e não conscientes do funcionamento cerebral — embora Jung usasse termos míticos, a ideia central (o inconsciente molda a consciência) é compatível com achados atuais.

  • Arquétipos e redes neurais: Estudos de psicologia evolutiva e neurociência social sugerem que certos padrões emocionais e narrativos (por exemplo, estruturas de histórias, papéis familiares, comportamentos altruístas) podem ser predisposições herdadas — o que lembra, de certo modo, a noção de arquétipos.

b) Psicoterapia e clínica

  • Imaginação ativa: Técnicas junguianas (como dialogar com figuras dos sonhos ou imagens internas) se aproximam hoje de abordagens de mindfulness, terapia de aceitação e compromisso (ACT) e EMDR, que também trabalham com imagens mentais para integrar experiências traumáticas.

  • Sonhos e criatividade: Pesquisas mostram que o sono REM e os sonhos têm papel importante na consolidação de memória, aprendizado e criatividade — validando a ideia de que os sonhos têm função adaptativa, não apenas “descargas” neuronais.

c) Mitologia, narrativa e cultura

  • Ciências cognitivas da religião: Pesquisam por que certas narrativas e símbolos se repetem em culturas distintas. Esse campo dialoga com a hipótese junguiana de arquétipos universais, só que com base em seleção natural, pressões cognitivas ou transmissão cultural.

  • Storytelling em neurociência: Experimentos com fMRI mostram que histórias ativam circuitos emocionais, de linguagem e empatia, reforçando o poder dos símbolos para moldar a mente — algo central para Jung.

d) Física e sincronicidade

  • Jung dialogou com Wolfgang Pauli (prêmio Nobel de Física) sobre sincronicidade — a ideia de coincidências significativas.

  • Hoje, embora a física quântica não confirme “sincronicidade” como princípio científico, estudos sobre percepção, vieses de confirmação e redes complexas ajudam a explicar por que vemos padrões e coincidências e como o cérebro busca significado.

3. Aplicações práticas na ciência contemporânea

  • Psicologia positiva e bem-estar: Estuda propósito, sentido e valores, temas próximos à individuação junguiana.

  • Psiquiatria e psicoterapia integrativa: Reconhecem o papel da espiritualidade, imaginação e narrativas pessoais na saúde mental.

  • Neuroestética: Pesquisa como símbolos, formas e padrões artísticos evocam emoções universais — algo que Jung antecipava com os arquétipos.

  • Inteligência artificial e estudos de linguagem: Modelos computacionais começam a mapear padrões narrativos universais em textos, reforçando a ideia de estruturas simbólicas recorrentes.

4. Limites e críticas

  • Conceitos não testáveis: Muitos conceitos de Jung (arquétipos, inconsciente coletivo) são mais metafóricos que mensuráveis. A ciência atual busca operacionalizar essas ideias em termos de genética, neurobiologia e cognição.

  • Risco de essencialismo: Se interpretados rigidamente, arquétipos podem virar estereótipos. Hoje, a ciência enfatiza plasticidade e diversidade.

  • Sincronicidade: Continua sendo tema controverso — mais uma ideia filosófica do que um fenômeno comprovado.

    A psicologia junguiana continua inspirando pesquisas, ainda que seus conceitos sejam reinterpretados em termos científicos. O que era “arquétipo” hoje pode ser descrito como predisposição cognitiva, rede neural ou meme cultural. O que era “inconsciente coletivo” pode ser visto como legado evolutivo compartilhado ou viés cognitivo universal.

A grande contribuição de Jung para a ciência atual não é tanto comprovar literalmente suas teorias, mas abrir espaço para entender o ser humano de forma simbólica, integrando razão e mito, cérebro e imaginação, dados e sentido.

Quem são os Arcontes

                            

by Deise Brandão

Definição básica

  • A palavra arconte vem do grego archon, que significa “governante”, “líder”. Mitologia Viva

  • Na Grécia antiga, os arcontes eram magistrados que tinham funções políticas e judiciais na Atenas clássica. Mitologia Viva

  • Mas em correntes mais místicas ou esotéricas, especialmente no gnosticismo, o termo adquire outro sentido: seres espirituais ou entidades metafísicas que têm algum tipo de poder ou influência sobre o mundo material. Mitologia Viva

Papel no Gnosticismo

No contexto gnóstico:

  • Os Arcontes são geralmente descritos como guardiões ou regentes do mundo material, que impedem a centelha divina humana de se reconectar com sua fonte espiritual. Mitologia Viva

  • Eles mantêm, segundo muitos textos gnósticos, uma realidade de ignorância ou ilusão, para que os seres humanos não percebam sua verdadeira natureza. Mitologia Viva

  • Nem sempre estão retratados como mal absoluto: em algumas versões, cumpririam um papel (negativo ou limitador, mas funcional) no cosmos, parte da estrutura que separa o espiritual do material. Mitologia Viva

Aspectos simbólicos e filosóficos

Mais do que seres mitológicos literais, os Arcontes podem ser vistos como metáforas ou arquétipos:

  • Limitação interna: medos, crenças rígidas, dogmas, ignorância — tudo aquilo que “aprisiona” a consciência humana em padrões repetitivos. Mitologia Viva

  • Ilusão e controle: estruturas simbólicas ou reais (sociais, culturais, mentais) que mantêm as pessoas afastadas de uma liberdade espiritual ou de uma visão mais profunda da realidade. Mitologia Viva

  • Dualidade mundo material vs espiritual: os Arcontes servem como um símbolo do que nos separa da “verdade” espiritual ou do real, segundo a visão gnóstica. Mitologia Viva

Narrativas antigas e comparações

  • No Gnosticismo, os textos da Biblioteca de Nag Hammadi mencionam os Arcontes como agentes do demiurgo ou de entes criadores interpostos entre Deus (ou o princípio supremo) e o mundo sensível, exercendo domínios sobre elementos da criação. Mitologia Viva

  • Comparações são feitas com figuras de outras mitologias:

    • nos mitos gregos: Titãs, e em geral entidades que ocupam posições primitivas, pré-olímpicas. Mitologia Viva

    • no hinduísmo: Asuras — forças que se opõem aos Devas. Mitologia Viva

    • no budismo: Māra, que representa ilusão, tentação, distração dos caminhos espirituais. Mitologia Viva

Aplicações modernas e interpretações contemporâneas

  • Há quem veja os Arcontes não como “seres externos”, mas simbologias para as estruturas de poder instaladas socialmente — instituições, regimes, sistemas de mídia, crenças coletivas etc. que moldam nossa percepção da realidade. Mitologia Viva

  • Também usados como metáforas para desafios pessoais: os “Arcontes internos” seriam os traumas, os condicionamentos, os medos que precisamos reconhecer e superar. Mitologia Viva

  • A dualidade entre ver esses seres como inimigos maléficos ou como elementos necessários ao desenvolvimento espiritual é tema de debate: talvez “vencê-los” não seja eliminá-los, mas transcender a influência deles com consciência. Mitologia Viva

Críticas e pontos de atenção

  • Sobra de metáfora: muitos estudiosos alertam para o perigo de se tomar narrativas gnósticas de forma literal, sem considerar o contexto histórico, simbólico ou psicológico.

  • Fontes fragmentárias: grande parte do que se sabe do gnosticismo vem de textos antigos em condições de preservação imperfeitas, ou de comentários posteriores. Há variações grandes entre diferentes seitas gnósticas quanto ao que exatamente os Arcontes fazem ou representam.

  • Risco de dualismos simplistas: se tudo for visto como “bem vs mal”, “espiritual vs material”, pode-se cair numa visão maniqueísta que ignora as nuances — a ambiguidade, o papel construtivo-estruturante do mundo material, ou a interdependência entre espiritualidade e vida concreta.

Por fim, os  Arcontes, seja como mitos, símbolos, ou pressupostas entidades metafísicas, têm um papel muito interessante como espelho da condição humana: eles nos lembram da existência de forças invisíveis (internas ou externas) que limitam nossa liberdade — seja o medo, a ignorância, os sistemas sociais ou a percepção distorcida.

A jornada para conhecer ou “superar” os Arcontes é também uma jornada de autoconhecimento: identificar onde estamos presos, quais crenças nos limitam, o que precisamos ver para despertar.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Simbiose: Células do bebê ajudam a reparar o coração da mãe, aponta pesquisa inovadora


by Deise Brandão

Um elo biológico surpreendente

Pesquisadores da Escola de Medicina Mount Sinai, em Nova York, identificaram um fenômeno impressionante: células-tronco originadas do feto conseguem atravessar a placenta e migrar até áreas danificadas do coração materno, contribuindo para sua reparação. A descoberta lança luz sobre um potencial regenerativo natural que ocorre durante a gestação e que até agora era pouco compreendido.

Como funciona esse “socorro” celular

Segundo o estudo, essas células fetais chegam ao tecido cardíaco lesionado e se adaptam ao ambiente materno, transformando-se em componentes-chave, como células musculares lisas, células dos vasos sanguíneos e até cardiomiócitos — as unidades responsáveis pela contração do coração. Em testes realizados em laboratório, algumas dessas células começaram inclusive a bater de forma espontânea, sinalizando atividade cardíaca funcional.

Um recurso natural de alto potencial

O achado sugere que a gravidez aciona um mecanismo reparador próprio, no qual o organismo materno recebe ajuda direta das células do bebê para se recuperar de lesões. Essa integração ocorre sem rejeição imunológica significativa — um dos grandes desafios da medicina regenerativa — graças à origem compartilhada entre mãe e feto.

Implicações para terapias futuras

Como a placenta é descartada após o parto, as células-tronco derivadas dela se tornam uma alternativa viável e eticamente mais aceitável para uso clínico. A pesquisa abre caminho para o desenvolvimento de tratamentos que imitem ou potencializem esse processo natural, beneficiando não só gestantes, mas pacientes cardíacos em geral.

Conclusão

A descoberta reforça a ideia de que a gestação não é apenas um período de formação do bebê, mas também um momento de troca ativa de recursos biológicos entre mãe e filho. Esse “presente” celular pode inaugurar uma nova fronteira na medicina regenerativa, transformando um mecanismo natural em terapias que salvam vidas.

domingo, 14 de setembro de 2025

Niilismo Ativo x Niilismo Passivo: O Diagnóstico de Nietzsche Para o Mundo Atual


by Deise Brandão

Um diagnóstico de crise

No coração da filosofia de Nietzsche, o niilismo não é só uma ideia abstrata: é um diagnóstico da doença do homem moderno. Para ele, a história do Ocidente, de Platão ao cristianismo, criou valores que negaram a vida e projetaram o sentido para além do mundo real. Esse processo gerou uma crise de significado que o filósofo chamou de “morte de Deus” — o colapso dos valores supremos que sustentavam a civilização.

Dois tipos de niilismo

O estudo de Michelle Ferreira de Lima, publicado na Revista Paranaense de Filosofia, destaca como Nietzsche divide o niilismo em duas forças:

  • Niilismo Passivo: sinal de fraqueza, cansaço e resignação. Manifesta-se quando a pessoa percebe que os antigos valores perderam sentido, mas se refugia em paliativos — religião, consumo, ideologias — para anestesiar a falta de sentido.

  • Niilismo Ativo: sinal de força e criação. Aqui, o indivíduo não foge da crise, mas a encara como oportunidade para destruir velhos valores e criar novos, elevando-se a uma existência mais livre e desalienada..

A negatividade produtiva

Nietzsche não via o niilismo como um fim, mas como um estado intermediário — um “passar pelo fogo”. O niilismo ativo, ao contrário do passivo, é negatividade produtiva: uma força de destruição que abre espaço para novos sentidos. É o antídoto feito do próprio veneno.

Por que isso importa hoje

O contraste entre niilismo passivo e ativo ressoa fortemente no presente:

  • Redes sociais e consumo podem ser vistos como formas modernas de niilismo passivo: dopamina rápida, discursos prontos, crenças fáceis.

  • Arte, ativismo criativo e inovação são expressões possíveis do niilismo ativo: quebrar paradigmas, criar novas narrativas, reinventar valores.

Assim como Nietzsche propunha “acelerar o curso” para enfrentar o niilismo até o fim, vivemos uma era em que crises ambientais, políticas e tecnológicas exigem escolher entre declínio lento e ruptura criativa.

O convite de Nietzsche

Em vez de fugir do vazio, Nietzsche convida a transformá-lo em potência criadora. Criar novos valores, novas formas de viver e de pensar. Como ele próprio escreveu, “quem nada cria, cria um nada”.

No século XXI, o niilismo nietzschiano não é apenas um conceito acadêmico: é um alerta. Ele nos desafia a perceber que o mundo não tem sentido “pronto” e que, diante disso, temos duas escolhas: anestesiar a crise (passivo) ou transformá-la em arte, ação e novos valores (ativo). A questão não é se haverá niilismo, mas como vamos atravessá-lo.

A Revolução dos Bichos” de Orwell: Um Espelho Para o Presente

                   

by Deise Brandão 

O livro e seu significado

Publicado em 1945, A Revolução dos Bichos (original Animal Farm) é uma fábula política escrita por George Orwell. À primeira vista parece uma história infantil sobre animais que tomam uma fazenda; na verdade, é uma sátira sobre regimes totalitários e sobre como revoluções populares podem ser corrompidas por líderes autoritários.

Na trama, os animais expulsam o fazendeiro humano para criar uma sociedade igualitária. Porém, aos poucos, os porcos — liderados por Napoleão — assumem o poder, distorcem as regras e instauram um regime ainda mais opressivo que o anterior.

O mantra dos animais

A frase “Todos os animais são iguais” vira, com o tempo, “Mas alguns são mais iguais que os outros”. Essa inversão mostra o processo de traição dos ideais iniciais, em que slogans bonitos encobrem novas formas de dominação.

Por que a fábula continua atual

Mais de 70 anos depois, A Revolução dos Bichos ainda serve de alerta. Em democracias frágeis, redes sociais, grandes corporações ou movimentos sociais, vemos repetições desse roteiro:

  • Líderes que se apresentam como libertadores, mas acumulam poder.

  • Regras que vão sendo flexibilizadas “temporariamente”, até virarem privilégio permanente.

  • Palavras que mudam de significado para manter o controle (um duplipensar na prática).

Lições para hoje

  1. Questionar slogans — Toda promessa política precisa de transparência e vigilância.

  2. Olhar para as estruturas — O problema não está apenas em líderes individuais, mas no sistema que permite concentração de poder.

  3. Participação cidadã — Democracia precisa de fiscalização constante para não se tornar só um rótulo.

A Revolução dos Bichos não é apenas sobre o passado ou sobre regimes totalitários distantes. É sobre como qualquer sociedade pode repetir esse ciclo se não houver consciência crítica, educação política e participação coletiva. É um lembrete de que igualdade sem vigilância se transforma em privilégio.

Duplipensar Hoje: O Conceito de Orwell no Século XXI

by Deise Brandão

O que é “Duplipensar”

No romance 1984, George Orwell criou o termo Duplipensar (Doublethink) para descrever a capacidade de aceitar simultaneamente duas ideias opostas como verdadeiras — e acreditar em ambas, sem perceber a contradição. Exemplo clássico do livro: “Guerra é Paz”, “Liberdade é Escravidão”, “Ignorância é Força”.

O duplipensar não é apenas hipocrisia; é um mecanismo psicológico e político para controlar o pensamento coletivo, enfraquecer a crítica e fortalecer regimes autoritários.

Por que isso importa hoje

Mesmo sem regimes totalitários explícitos, vemos o duplipensar se manifestar em várias áreas da vida contemporânea:

  • Redes sociais: plataformas que pregam liberdade de expressão mas usam algoritmos que limitam o alcance ou promovem polarização.

  • Publicidade e consumo: marcas que falam em sustentabilidade enquanto incentivam consumo excessivo.

  • Política e discurso público: governos e instituições que defendem “transparência” enquanto escondem dados ou censuram informações.

  • Cotidiano pessoal: pessoas que defendem “empatia” online mas praticam ódio e cancelamento em massa.

Como reconhecer o duplipensar

  • Contradição normalizada: quando slogans ou discursos usam termos positivos para encobrir práticas negativas.

  • Repetição e linguagem emocional: quanto mais repetido, mais aceito.

  • Culpa ou medo: induz o público a aceitar a contradição sem questionar.

O impacto na sociedade

O duplipensar moderno mina o senso crítico. Ao aceitar contradições, as pessoas se tornam mais fáceis de manipular — seja por propaganda, seja por líderes carismáticos ou algoritmos. O resultado é apatia política, polarização e desinformação.

Caminhos para resistir

  • Educação midiática: aprender a analisar fontes e discursos.

  • Pensamento crítico: questionar palavras, números e intenções por trás das mensagens.

  • Transparência pessoal: alinhar valores e práticas no dia a dia, evitando ser parte da contradição.

O “Duplipensar” de Orwell não é só um conceito literário: é um alerta permanente. Em um mundo de redes sociais, fake news e disputas de narrativas, reconhecer as contradições e nomeá-las é um ato de liberdade. Como dizia o próprio livro: “Ver o que está diante do nariz requer um esforço constante”.

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