sábado, 6 de dezembro de 2025

Felicidade é responsabilidade minha

    Imagem criada pelo Gemini, para o texto.


by Deise Brandão

Em meu entendimento,  viver não é uma linha reta nem uma lista de metas cumpridas.

Às vezes a gente acorda inteira, às vezes passa o dia quebrada. E não tem problema.
Tem dias que a cabeça pesa, que o corpo desiste, que o coração cala — e nada disso significa fracasso.

Nem toda batalha foi feita pra vencer. Algumas servem só pra mostrar que não vale a pena morrer tentando. Não sou obrigação de ninguém, nem escudo de ninguém, nem energia de reserva pra quem só me procura quando falta luz.

.Não sou máquina. Não sou muro. Não sou filtro de rede social.A vida real não tem música de fundo, não tem dancinha, não tem edição que apaga o cansaço. Dentro de casa, cada um tem os seus vazios, as suas dores escondidas e aquele pensamento que a gente finge não ter. Cansei dessa força que esperam da gente o tempo todo, como se ser forte fosse profissão, e sentir fosse defeito

Mesmo assim, eu sigo. Não pra impressionar, não pra agradar, não pra provar nada.
Sigo porque preciso, porque quero, porque cresci, porque desde o início tenho o entendimento que  a minha felicidade não cabe na mão de ninguém. Ela é responsabilidade minha. 

E isso, curiosamente, é o que acaba me salvando.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

A Revolução Silenciosa de Wilma Mankiller, a Mulher Que Não Esperou a Vez

 


by Deise Brandão

Algumas histórias começam com um convite.
A de Wilma Mankiller começou justamente com a ausência dele.

Quando entrou numa grande reunião intertribal, ela carregava o peso de uma novidade incômoda: era a primeira mulher na história moderna a assumir o comando da Nação Cherokee. O suficiente para que muitos decidissem não apenas desconsiderá-la, mas deixá-la de fora de forma planejada — como quem tenta esconder a mudança por trás de uma porta fechada.
A sala estava preparada para isso.
Cadeiras perfeitamente distribuídas.
Discursos alinhados.
Olhares ensaiados para atravessar o corpo de uma mulher como se fosse ar.
E então — ali, num canto — uma cadeira sem dono.
Não oferecida.
Não aguardada.
Apenas largada contra a parede, como se dissesse: você não cabe aqui.
Wilma puxou a cadeira.
O som arranhou o chão, a formalidade, a tradição e o ego de muita gente.
E se sentou.
Esse gesto simples bastou para anunciar:
não haverá retrocesso.

Uma infância interrompida — e a semente da insubmissão
Wilma nasceu em 1945, em Tahlequah, Oklahoma — o coração físico e espiritual dos Cherokee.
Cresceu entre histórias, responsabilidades comunitárias e um senso profundo de pertencimento. Até que o governo decidiu “modernizar” sua família.
O nome oficial era política de realocação indígena.
O efeito real era bem mais cruel: arrancar povos inteiros de sua terra, espalhando-os em cidades onde a tradição não passava de um eco distante.
Para muitos, foi um projeto federal.
Para Wilma, foi desenraizamento.
E quem perde a terra cedo aprende a nunca mais abrir mão dela.

Quando a liderança veio acompanhada de ameaça
Décadas depois, já de volta ao território Cherokee, Wilma decidiu disputar o cargo de vice-chefe. O que recebeu em troca não foi debate político — foi guerra psicológica.
Pneus rasgados.
Telefonemas agressivos.
Cartazes queimados.
Acusações de que uma mulher eleita seria “motivo de chacota” entre as tribos.

Ainda assim, venceu.
Quando o então Chefe Principal foi chamado para um cargo no governo dos EUA, Wilma assumiu sua posição — e pela primeira vez, uma mulher passou a comandar uma das maiores nações indígenas do país.
O título era novo.
A resistência, velha conhecida.
Mas ela não se dobrava.
E não se desculpava por existir.

O que uma comunidade pode fazer quando alguém acredita nela
A obra mais simbólica de Wilma não nasceu de discursos — nasceu de pá, enxada, e trabalho coletivo.
Bell, uma pequena comunidade Cherokee, estava esquecida, sem água encanada e sem perspectivas. O governo federal ignorava. O município não tinha recursos.
Wilma convocou os próprios moradores.
Eles cavaram, carregaram, construíram e instalaram quilômetros de tubulação.
Resgataram prédios comunitários.
Recriaram espaço comum.
Reacenderam a confiança de que o futuro não chega pronto: ele é construído.
A revolução de Wilma não foi ideológica.
Foi prática.
Foi cotidiana.
Foi coletiva.
E foi vitoriosa.

A década em que um povo voltou a se enxergar
Sob sua liderança a população registrada quase triplicou. programas educacionais floresceram, nasceram centros infantis, clínicas e projetos de soberania, empregos tribais se multiplicaram e a Nação Cherokee recuperou o que mais lhe tinham tirado: voz.
Em 1991, 83% dos votos garantiram sua reeleição — um recado claro de que a resistência inicial havia se transformado em respeito sólido.
Em 1998, recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade — mas, para ela, a verdadeira medalha eram as torneiras funcionando em Bell.

O gesto que continua ensinando
Wilma morreu em 2010, aos 64 anos, depois de anos enfrentando problemas de saúde com a mesma serenidade obstinada que levou para a política.Mas seu legado segue pulsando, especialmente naquele primeiro gesto:
Ela não pediu permissão.
Ela puxou a cadeira.
E sentou bem no centro da sala que tentaram negar a ela.
Há lideranças que gritam.
Há lideranças que negociam.
E há líderes como Wilma Mankiller — que transformam a estrutura simplesmente por se recusarem a desaparecer.

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