sábado, 22 de dezembro de 2018

Fortuna de João de Deus inclui garimpo e fazenda de R$ 2 milhões
























































 


segunda-feira, abril 23, 2012

Venda de remédios
 faz parte do faturamento
 do médium

O apego do médium João de Deus (foto) às coisas materiais fez com que ele formasse uma fortuna cujo montante ninguém sabe ao certo, mas inclui um garimpo de ouro e pelo menos uma fazenda no valor estimado de R$ 2 milhões. Ela tem 597 alqueires, o que equivale a 18 parques do tamanho do Ibirapuera, na zona sul da cidade de São Paulo.

A assessoria de imprensa do médium admite que ele tem outras propriedades rurais, mas não diz onde ficam e qual é o seu valor. Em 2008, a revista Galileu publicou que o médium tinha quatro fazendas. 

João Teixeira de Faria, 69, é o nome de cartório do médium mundialmente famoso. Ele dá atendimento a cerca de 3.000 fiéis por semana na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO), cidade de 15 mil habitantes a 79 km de Goiânia. O médium não cobra nada pelas consultas e operações espirituais, mas vende os remédios prescritos por ele e fabricados por uma farmácia de manipulação, a JTF (iniciais do seu nome), cujos proprietários são Ana Keyka Teixeira, 33, sua mulher, e o seu motorista e caseiro Abadio da Cruz, 41. Abadio nem imagina como é a rotina da farmácia. A Folha de S.Paulo estima que João de Deus obtenha com a venda de um único remédio, um calmante à base de passiflora, cerca de meio milhão de reais por mês. O frasco do medicamento tem 175 cápsulas e custa R$ 50. 

Na casa, João de Deus também lucra com uma livraria, lojas de cristais benzidos e uma lanchonete. Uma garrafa de água é vendida a R$ 1 e a “energizada”, R$ 3. Há também o banho de cristal, que custa R$ 20 por 20 minutos.


O médium ainda tem cinco apartamentos que são alugados a quem o procura para uma consulta. A diária é de R$ 90, com a opção de serem alugados por R$ 1.000 por mês. Ele também é sócio do filho em uma clínica odontológica. 
João de Deus tem o garimpo de ouro há mais de 40 anos. João Américo Franca Vieira, 52, garimpeiro e amigo dele há 29 anos, disse que o médium sempre gostou de garimpo e que essa atividade responde pela maior parte do patrimônio do xará, além de cobrir os gastos com a Casa Dom Inácio de Loyola. 

O médium é semianalfabeto funcional. Ele diz incorporar mais de uma dezena de entidades, algumas delas foram médicos em vida. Há testemunhos de que João cura doenças graves, como câncer. Ele já tratou de pessoas famosas, como ex-presidente Lula, Xuxa e a atriz Shirley MacLaine. Mas o próprio médium é frequentador habitual de um hospital, porque sofre do coração  já recebeu o implante de três stents.

Vieira acredita que os espíritos orientam o médium também nos negócios com o garimpo. “Às vezes ele aciona [a mediunidade]”, disse o amigo, conforme relato dos repórteres Catia Seabra, Alan Marques e Breno Costa. “Ele disse: 'Você vai pra lá, você vai achar um negócio assim, assim, assim'. E aí deu certo. Cheguei lá e achei."
Não é de hoje que o médium tem forte queda para a materialidade. Nos anos 90, ele foi sócio de um bingo em Goiás, em uma época em que esse jogo era permitido. Mas hoje ele não tem do que se queixar de suas finanças porque o curandeirismo pode ser é tão lucrativo quanto o jogo de azar.

João de Deus e os limites entre curandeirismo, charlatanismo, exercício irregular da medicina e a proteção da f



Saiu na Folha de hoje (23/4/12):

“João de Deus S.A.

Em Abadiânia, a fé move montanhas. De dinheiro. Atraídos pelo dom do médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, cerca de 3.000 fiéis visitam, semanalmente, a Casa Dom Inácio de Loyola, em Goiás (…)

Hoje, aos 69 anos, João de Deus é dono de pelo menos uma fazenda de 597 alqueires - o correspondente a 18 parques como o do Ibirapuera (zona sul de São Paulo) - na divisa de Goiás com Mato Grosso. Lá, uma propriedade dessa dimensão não vale menos do que R$ 2 milhões. O médium tem o garimpo como fonte de renda.

Apesar de o atendimento ser gratuito, a casa, fundada em 1976, conta com farmácia de manipulação, livraria, lanchonete e loja de cristais benzidos pelo médium. Até a água fluidificada tem valor agregado. A garrafa custa R$ 1. Energizada, vale R$ 3.
O grosso do dinheiro arrecadado vem da venda de frascos de passiflora, calmante natural fabricado pelo grupo (…) 

O frasco, com 175 cápsulas, custa R$ 50. Como a média de atendimento é calculada em mil pessoas por dia, três vezes por semana, a receita com a venda pode chegar a R$ 500 mil ao mês (…)
O complexo oferece ainda sete cabines de banho de cristal - camas em que pacientes passam por imersão de luz. O preço cobrado é de R$ 20 por 20 minutos de sessão.

Relatos sobre procedimentos do médium, que incluem cirurgias com corte, a depender da escolha do consulente, garantiram-lhe notoriedade internacional (...)

Num pátio de acesso ao salão, vídeos exibem cenas de intervenções com corte, a maior parte no olho e na barriga”.

Para a lei não há milagres. Não é que a lei diz que milagres não existem, ou que existem. Mas aquilo que não pode ser observado e explicado racionalmente, não interessa à lei. É uma questão íntima das pessoas e a lei apenas protege a religiosidade, a fé, as diferenças culturais etc. Ela não diz que religião elas devem seguir ou mesmo se devem crer (ou deixar de crer) em algo.

Mas isso não quer dizer que religião e crença não seja importante para a lei. São. Há, em especial, dois artigos no Código Penal que indiretamente lidam com a exploração da fé das pessoas.

O primeiro chama-se charlatanismo, que é uma espécie de mentira utilizando a crença do outro. Nele, o criminoso inculca ou anuncia cura por meio secreto ou infalível.

Simplesmente dizer que você pode curar alguém não é crime (se fosse, todos os médicos estariam presos). Mas dizer ou propagandear que a cura é infalível ou que você possui um meio secreto de curar as pessoas é crime. É aí que entra o charlatanismo.

Ninguém pode garantir que haverá cura (nem mesmo para um simples resfriado). Garantir que você irá curar alguém – mesmo usando meios convencionais, e ainda que você seja um ótimo médico – é crime. Da mesma forma, se você propagandeia que seu método, ainda que não gere cura garantida, é secreto, você também está cometendo o crime. Em ambos os casos, a ideia é proteger a sociedade contra pessoas que desrespeitam premissas básicas da ciência: que a cura nunca é certa e que todo método de cura precisa ser replicável e validado pela comunidade científica.

A lei não exige que alguém acredite no que foi dito ou propagandeado, e muito menos que alguém seja prejudicado por isso. Basta que a pessoa diga ou propagandeie. O que se exige é que o criminoso saiba que ele não será capaz de curar a pessoa, que seu método não seja eficaz, ou que, ainda que seja eficaz, não gere cura garantida.

Já se a pessoa acredita que seu método irá de fato curar o doente, ele pode estar cometendo um outro crime: exercício ilegal da medicina, que é “exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem autorização legal ou excedendo-lhe os limites”, que é, na verdade, um crime mais grave (a pena é maior: até dois anos, enquanto o curandeirismo a pena máxima é de um ano).

Um segundo crime importante é o curandeirismo, que é diagnosticar, receitar, entregar ao consumo ou aplicar qualquer substância (não importa que ela seja um placebo), ou usar gestos, palavras (incluindo ‘rezas’) ou qualquer outro meio de cura para tratar a doença de alguém. É o casa das benzedeiras e das pessoas que vendem chás para curarem doenças graves.

Ainda que a lei não diga que o criminoso precise praticar esse crime de forma habitual para que o crime seja configurado, os juristas tendem a dizer que se a pessoa comete o crime apenas se faz qualquer das ações acima com habitualidade.

Esse crime é muito mais complexo do que parece porque ele esbarra na liberdade religiosa. Usar gestos e palavras é algo que quase todas as religiões fazem. A benção do padre, por exemplo, é uma forma de cura espiritual para os fiéis. O uso das mãos é importante para os espíritas, o sinal da cruz é parte dos rituais de cura espiritual para os católicos, e assim por diante. 

Isso quer dizer que esses religiosos estão exercendo o curandeirismo?

Não, porque a Constituição protege os rituais de fé. O limite – que muitas vezes é confuso – é quando esse ritual de fé passa a colocar a saúde das pessoas em perigo. Se o padre disser ao doente que ele não precisa procurar o médico porque sua benção já basta, aí sim, pode haver crime.

E o caso de quem pratica operações espirituais? Bem, a lei diz que é curandeirismo tratar alguém com “gestos, palavras ou qualquer outro meio”. O problema está na expressão “qualquer outro meio”. Os juristas dizem que não é simplesmente qualquer outra forma, mas qualquer outra forma similar a (na mesma classe de) um gesto ou palavra. E cirurgias mediúnicas não é similar a gesto ou palavra.

Logo, o diagnóstico e as palavras podem configurar curandeirismo, mas o corte em si, não. Ele, na verdade, pode ser outro crime: a lesão corporal. Afinal, a vítima sofreu um corte desnecessário, ainda que ela tenha permitido.

Existem mais alguns detalhes desse crime que são importantes: o curandeiro, por definição, é a pessoa inculta que acredita que possa de fato curar. Se ela sabe o que está fazendo, ela não está praticando curandeirismo: ela é uma charlatã (se sabe que está mentindo) ou pode estar exercendo a medicina irregularmente (se acredita de fato que pode curar a vítima sem estar autorizada a exercer a medicina ou, estando autorizada, vai além de sua autorização).

E se ela está usando a prática para tirar proveito econômico da vítima, aí temos um outro crime: o estelionato, no qual o criminoso mente para a vítima para que ela lhe dê parte de seu patrimônio.


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