Houve época em que os reis mandavam matar os mensageiros que lhes traziam más notícias. Os fatos desagradáveis, claro, não melhoravam nem um pouco com a morte dos portadores da informação. Não faz mal: o hábito se mantém até hoje. Até nos pontos mais civilizados do país: só que, nestes, embora não haja ordem de matar fisicamente os mensageiros, há a tentativa coordenada de matá-los profissionalmente, tentando desgastar sua credibilidade. Claro que os apagões continuam, apesar de tudo que se fala mal de quem publica as notícias; e continuam também os riscos de descontrole da inflação, o PIB que não cresce, a falta de competitividade da indústria. Não faz mal: basta botar a culpa na zelite, na imprensa golpista, nozianque, na subserviência da imprensa a quem anuncia.
Verdade? Não (e o jornalista Eugênio Bucci, que trabalhou com o presidente Lula, gosta do presidente Lula, mas gosta ainda mais dos fatos como ele são, desmonta essa besteirada toda num belíssimo artigo para a revista Época, muito bem embasado, com números mostrando onde estão os erros desse tipo de análise).
Quem leu esta nota até aqui pensa num texto antipetista. Mas não é: o líder tucano José Serra cansou de brigar com jornalistas que faziam perguntas de que não gostava, alegando que tinham “pautas petistas”. E se tivessem? Uma dos dogmas do jornalismo é que não há perguntas inconvenientes. O que pode ser inconveniente é a resposta. Basta responder às perguntas com precisão, sem irritação, mostrando o que está errado, ou distorcido, nelas. É uma capacidade que um político sempre deve ter; ainda mais quando já exerceu cargos legislativos e executivos e disputou várias campanhas eleitorais.
O ex-presidente Lula vive se queixando, a presidente Dilma chega a exigir dos repórteres que a entrevistam que só perguntem o que ela quer. O caso petista tem uma curiosidade: o jornalismo chapa-branca defende o tal “controle social da imprensa” que, garantem, não é censura, é apenas dispor de mecanismos para evitar que poucos grupos dominem a área de comunicação. Uma das coisas censuráveis, para eles, é a propriedade cruzada dos meios de comunicação (este colunista, a propósito, também é contra, embora a internet e a convergência digital estejam tornando esse objetivo cada vez mais difícil).
Mas a TVT, ligadíssima ao Partido dos Trabalhadores, já têm uma série de emissoras de rádio e TV, jornais, revistas – exatamente aquilo que é condenável, segundo os profetas do “controle social da mídia”.
Como dizia Millôr Fernandes, “democracia é quando eu mando em você, e ditadura é quando você manda em mim”.
by blog observatorio de imprensa
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