Correio do Povo
Como dizia Guy Debord, “o espetáculo não canta os homens e suas armas, mas a mercadoria e suas paixões”.
O cachê de R$ 170 mil para Gabriel, o pensador, cujos pensamentos permanecem incógnitos, participar da Feira do Livro de Bento Gonçalves é um sintoma. O sintoma de uma época em que mesmo quem vive e ama os livros valoriza mais o mundo da imagem, da música, da televisão, da mídia, a chamada cultura do espetáculo.
Bento Gonçalves prometeu R$ 1 mil para cada autor gaúcho.
E R$ 170 mil para Gabriel.
Gabriel vale 170 vezes mais do que qualquer gaúcho convidado?
Essa desproporção faz pensar no complexo de inferioridade cultural dos gaúchos.
Vivemos dizendo que somos ótimos, mas valorizamos mais o que vem “de fora”. Falamos assim.
E, principalmente, o que vem de fora e tem alto valor de mídia.
Quando Passo Fundo premiou um livro de Chico Buarque, ainda que inconscientemente, o que é difícil imaginar, estava sonhando em receber, como recebeu, o artista Chico Buarque, o cantor, a estrela do espetáculo.
Para ter atrativos, as feiras de livro, a exemplo da afetada Flip de Parati, precisam de artistas, de cantores, de personagens midiáticos, de celebridades, que, obviamente, levam cachês sempre maiores.
O mundo do livro não tem autonomia.
Precisa atrair um leitor que pouco lê e pode se entediar ouvindo uma palestra. Quer música.
Bento Gonçalves vai comprar dois mil exemplares de um livro de Gabriel.
Dificilmente faria isso com um escritor, ainda mais com um escritor gaúcho.
Eu sou a favor de cobrar por palestras. É um trabalho. Mas desconheço no Brasil quem mereça um cachê de R$ 170 mil por uma palestra. Ou até mesmo por cinco palestras. Eu não pagaria isso nem a Lula nem a FHC.
Gabriel, autodenominado pensador, é medíocre. Digo isso por inveja?
Claro, certamente, toda crítica é invejosa.
Ainda Debord: “o espetáculo apresenta-se como uma enorme positividade, indiscutível e inacessível. Não diz nada além de ‘o que é aparece é bom, o que é bom aparece’”.
Toda crítica, portanto, é ressentimento.
Se Gabriel aparece e leva 170 mil é porque é bom.
Quem é bom levará também 170 mil.
E quem não levar? Não é bom.
Tem os bons marqueteiros como Fabrício Carpinejar.
Que aproveitam e viram jogo. Publicam manifesto.
Aparecem.
Se aparecem, são bons.
O espetáculo responde aos seus críticos: tudo choro de quem não aparece, de perdedor.
Márcia Tiburi não é medíocre. Mereceria muito mais um cachê de R$ 170 do que Gabriel.
Eu pagaria um cachê desses até para o poeta Luiz de Miranda, mas jamais para o Gabriel.
Quem vai proteger as crianças de Bento Gonçalves dos pensamentos do Gabriel?
De que forma poderá Gabriel, o pensador, fazer Bento Gonçalves aparecer no cenário nacional?
Que retorno fantástico é esse que ele dará à cidade?
Algo me diz que Gabriel vendeu uma catedral para o pessoal de BG.
Nossos agentes culturais deslumbram-se com o brilho midiático dos lá de fora, de Rio, São Paulo, que passam na televisão, dão entrevistas para Jô – não se diz Jô Soares –, para Gabi – não se diz Marília Gabriela.
Vai começar a chover feira de livro com palestras de Rafinha Bastos e Danilo Gentilli a 170 mil paus.
A cultura cedeu ao valor de troca.
Tudo é mercadoria.
Os R$ 170 para Gabriel, o pensador, são mais um sintoma do fim de uma época, a época do livro.
Como dizia o incontornável e eternamente rebelde Guy Debord, na sua famosa tese 4, “o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens”.
O cachê de R$ 170 mil para Gabriel, o pensador, cujos pensamentos permanecem incógnitos, participar da Feira do Livro de Bento Gonçalves é um sintoma. O sintoma de uma época em que mesmo quem vive e ama os livros valoriza mais o mundo da imagem, da música, da televisão, da mídia, a chamada cultura do espetáculo.
Bento Gonçalves prometeu R$ 1 mil para cada autor gaúcho.
E R$ 170 mil para Gabriel.
Gabriel vale 170 vezes mais do que qualquer gaúcho convidado?
Essa desproporção faz pensar no complexo de inferioridade cultural dos gaúchos.
Vivemos dizendo que somos ótimos, mas valorizamos mais o que vem “de fora”. Falamos assim.
E, principalmente, o que vem de fora e tem alto valor de mídia.
Quando Passo Fundo premiou um livro de Chico Buarque, ainda que inconscientemente, o que é difícil imaginar, estava sonhando em receber, como recebeu, o artista Chico Buarque, o cantor, a estrela do espetáculo.
Para ter atrativos, as feiras de livro, a exemplo da afetada Flip de Parati, precisam de artistas, de cantores, de personagens midiáticos, de celebridades, que, obviamente, levam cachês sempre maiores.
O mundo do livro não tem autonomia.
Precisa atrair um leitor que pouco lê e pode se entediar ouvindo uma palestra. Quer música.
Bento Gonçalves vai comprar dois mil exemplares de um livro de Gabriel.
Dificilmente faria isso com um escritor, ainda mais com um escritor gaúcho.
Eu sou a favor de cobrar por palestras. É um trabalho. Mas desconheço no Brasil quem mereça um cachê de R$ 170 mil por uma palestra. Ou até mesmo por cinco palestras. Eu não pagaria isso nem a Lula nem a FHC.
Gabriel, autodenominado pensador, é medíocre. Digo isso por inveja?
Claro, certamente, toda crítica é invejosa.
Ainda Debord: “o espetáculo apresenta-se como uma enorme positividade, indiscutível e inacessível. Não diz nada além de ‘o que é aparece é bom, o que é bom aparece’”.
Toda crítica, portanto, é ressentimento.
Se Gabriel aparece e leva 170 mil é porque é bom.
Quem é bom levará também 170 mil.
E quem não levar? Não é bom.
Tem os bons marqueteiros como Fabrício Carpinejar.
Que aproveitam e viram jogo. Publicam manifesto.
Aparecem.
Se aparecem, são bons.
O espetáculo responde aos seus críticos: tudo choro de quem não aparece, de perdedor.
Márcia Tiburi não é medíocre. Mereceria muito mais um cachê de R$ 170 do que Gabriel.
Eu pagaria um cachê desses até para o poeta Luiz de Miranda, mas jamais para o Gabriel.
Quem vai proteger as crianças de Bento Gonçalves dos pensamentos do Gabriel?
De que forma poderá Gabriel, o pensador, fazer Bento Gonçalves aparecer no cenário nacional?
Que retorno fantástico é esse que ele dará à cidade?
Algo me diz que Gabriel vendeu uma catedral para o pessoal de BG.
Nossos agentes culturais deslumbram-se com o brilho midiático dos lá de fora, de Rio, São Paulo, que passam na televisão, dão entrevistas para Jô – não se diz Jô Soares –, para Gabi – não se diz Marília Gabriela.
Vai começar a chover feira de livro com palestras de Rafinha Bastos e Danilo Gentilli a 170 mil paus.
A cultura cedeu ao valor de troca.
Tudo é mercadoria.
Os R$ 170 para Gabriel, o pensador, são mais um sintoma do fim de uma época, a época do livro.
Como dizia o incontornável e eternamente rebelde Guy Debord, na sua famosa tese 4, “o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens”.
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