Em três casos, Pimentel reconhece que não chegou a produzir relatórios. Noutro, disse ter feito um texto “não muito extenso.” Numa das transações, nem contrato foi celebrado.


As últimas entrevistas de Pimentel foram concedidas aos repórteres Leandro Loyola e Marcelo Rocha (aqui) e a Fernando Rodrigues (aqui). Vão abaixo algumas das peculiaridades recolhidas das duas conversas:

1. Fiemg: A Federação das Indústrias de Minas Gerais borrifou R$ 1 milhão na caixa registradora da P-21, a firma de consultoria de Pimentel. O ministro exibe a nota fiscal. Instado a mostrar as provas da execução do trabalho, Pimentel disse que coube ao cliente preparar os relatórios: “A Fiemg produziu material.” Curioso. A entidade que paga a consultoria e ela mesma cuida dos relatórios. O consultor entra apenas com o gogó:
“Essa consultoria […] foi de orientação. E de um pré-planejamento de quase todos os programas que a Fiemg desenvolveu nesses quase dois anos”, disse Pimentel.
2. Convap: a empreiteira pagou a Pimentel R$ 514 mil. Para quê? “A construção pesada começou a aquecer no Brasil, com o PAC”, explicou o ministro.
“Eu ajudei a fazer um plano de negócios. Nada a ver com influenciar resultado de licitação no setor público.”
De novo, Pimentel não teve de fazer relatórios. Nesse caso, nem contrato houve. O dono da empresa, Flávio Vieira, 85, “foi amigo do meu pai”, declarou Pimentel.
“Se eu pedir ao doutor Flávio para fazer um contrato comigo, ele vai ficar ofendidíssimo. O contrato é a nota fiscal”.
3. QA Consulting: sobre o terceiro cliente, uma empresa de informática, Pimentel disse: “Os sócios são filhos de meu sócio na P-21, Otílio Prado.”
Acrescentou: “Eles me pediram ajuda num plano de negócios.” De novo, não há relatórios. “Sugeri que fizessem um serviço de cabeamento para a [construtora] HAP.”
Na conta de Pimentel, o serviço sugerido por ele rendeu que à QA algo entre R$ 230 mil e R$ 240 mil. Bem menos que o valor da consultoria: R$ 400 mil.
Ou seja: a QA pagou ao consultor quase o dobro da cifra que logrou faturar com o serviço "sugerido" por ele.
4. Eta: indústria de bebidas sediada em Pernambuco, a Eta pagou a Pimentel R$ 130 mil em duas parcelas.
Na nota fiscal está escrito: “Consultoria para aprimoramento da gestão empresarial com elaboração de projeto na área econômica e tributária."
Nesse caso, Pimentel disse ter redigido “um diagnóstico de mercado.” Como assim? Foi “um diagnóstico de possibilidades, pois esse negócio de refrigerantes é complicado…”
“…Eles iriam entrar em um mercado em que se enfrenta gigantes, como a Ambev. Então, eu fiz um trabalho para eles.”
Para municiar o cliente na guerra contra os “gigantes”, Pimentel disse ter feito um documento raso. “Não foi muito extenso, mandei e nunca mais tive contato.”
Depois de se consultar com Pimentel, a Eta foi vendida. “Os que compraram nem sabem desse trabalho”, disse o ministro. A empresa encontra-se desativada.
Pimentel não sabe explicar por que uma empresa de tubaína do Nordeste foi procurá-lo em Minas para obter aconselhamento sobre os meandros do setor de bebidas.
5. Provas: insistiu-se com Pimentel para que exibisse as provas dos trabalhos que realizou. O ministro declarou que cabe aos clientes mostrar, “se quiserem”.
“No caso da Fiemg, eles vão ter material para mostrar”, disse Pimentel numa entrevista. Noutra, acrescentou:
“Você vai perguntar: 'Mas isso foi ele [Pimentel] que escreveu?' Não escreveu pessoalmente, mas o que está aqui foi discutido, foi orientado.”
 
Nos outros casos, afirmou Pimentel, seus clientes não dispõem senão de “material interno”. A exceção foi a Eta: ”Nessa, até fiz uma coisa por escrito.”
Aos que insinuam que seus negócios ocultam tráfico de influência na prefeitura de Belo Horizonte, Pimentel declara: “Respeitem a minha história, respeitem a minha biografia.”
Explicações mais sólidas ajudariam.