sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Carta de Lula para Collor em 2060. Pérolas que encontro.

 

Querido Fernando,

Como vai a morte aí embaixo? Rosane já se acostumou com o clima? Se tiver qualquer dificuldade é só me dizer. Tenho vários amigos morando na sua vizinhança. Eles me devem favores, não hesitarão em atender a um pedido meu, principalmente agora que inicío minha trajetória política aqui em cima.

Uma coisa posso te garantir: nunca antes na história do Paraíso um operário esteve tão próximo do poder. Na semana passada, organizei a primeira grande greve do sindicato dos santos. Foi um sucesso. Paramos todos os milagres, ninguém atendeu a uma oração sequer. A imprensa estava toda lá. O exército de arcanjos cercou o estádio, mas nós ficamos unidos.

O Francisco de Assis, que é um líder da bancada da oposição, já me convidou pra fundar um novo partido junto com uns intelectuais de esquerda. O ditador aqui é muito poderoso, vive baixando decretos que Ele chama de mandamentos. Mas logo vamos restabelecer a democracia e acabar com a corrupção e o nepotismo.

É verdade que tem um pelego de nome Pedro que anda me boicotando. O cara tem medo de perder o lugar, coitado. Não sabe que a minha meta é ser chefe dele. Não tenho qualquer interesse no posto de intermediário. Estou pensando em oferecer a vaga de vice pra ver se ele para de me encher o saco.

Nos últimos dias tenho pensado muito em você. Se estou aqui em cima é porque exercitei a virtude do perdão contigo. Se não fosse por aqueles acordos que fizemos em 2009, quando subi no teu palanque em Alagoas junto com o Renanzinho, não teria conseguido o visto para entrar no Paraíso. Obrigado, companheiro. Obrigado por me deixar perdoá-lo.

Tem visto o Sarney por ai? É outro a quem devo o meu lugar nestas nuvens abençoadas. Assim como te perdoei por ter exposto a minha filha fora do casamento na campanha de 1989, também perdoei o José por me transformar em seu avalista político durante o escândalo dos atos secretos no senado. Ele não é uma pessoa comum, merece toda a minha reverência. Vê se arruma uma boquinha pros parentes que forem chegando por essas bandas. O homem precisa.

O Franklin Martins está aqui do meu lado, corrigindo o que eu escrevo. Como não deixaram o Duda Mendonça entrar, é ele que cuida de tudo. O japa também foi barrado, assim como o Dirceu e o Palocci. Ainda não entendi por quê. Deve ser coisa desse tal de Pedro. Tenho certeza que o cara é agente do SNI, mas a Dilma e o Suplicy acham que ele é tucano mesmo. Já o viram cochichando com o FHC e o Serra em um jogo de tranca na casa do São Judas Tadeu.

Na semana que vem, vamos fazer um churrasco numa granja que o sindicato comprou ao lado dos Portões do Éden. A vista é uma beleza, mas você ia babar é com os jardins, que deixam a Casa da Dinda no chinelo. A construtora que fez a obra pertence a um sujeito que veio lá do Vaticano, um alemão de nome estranho cujo passatempo preferido é contar piadas antissemitas.

Só não te convido porque sei que a polícia federal não te deixaria entrar. Mas quem sabe eu vá te visitar um dia desses para comer uma pizza junto com o Renan, o Maluf, o Jáder, o ACM, o Cafeteira e outros companheiros queridos de quem sinto tantas saudades. Sei que o forno aí embaixo é muito bom e os pizzaiolos são os melhores do universo.
Um abraço de paz e amor
Luis Inácio


Autoria:

Felipe Pena, jornalista, escritor e professor da Universidade Federal Fluminense. Doutor em Literatura pela PUC e autor do romance “O analfabeto que passou no vestibular”.

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