Traficantes, policiais e vítimas recorrem a feiticeiros no México

Catemaco, México _ No mal iluminado quarto dos fundos de uma casa modesta nesta cidade turística que hoje quase não recebe visitantes, Luis Tomas Marthen Torres, um bruxo com 50 anos de experiência, fecha os olhos e entoa um cântico enquanto esfrega rapidamente um ovo branco nos braços, peito e pescoço de um cliente preocupado.
O ritual é antigo e comum aqui neste polo de mestres do ocultismo _ onde a magia é transmitida de geração a geração _, mas, como muitas coisas no México, os pedidos de ajuda mudaram.
"As pessoas pedem assistência porque têm medo de ameaças e extorsões. Elas estão cheias de energia negativa", disse Marthen Torres.
Os visitantes desta cidade de classe média com cerca de 67 mil pessoas, que atribui seu misticismo às antigas raízes olmecas da região, há décadas recorrem a bruxos para lançar feitiços de amor e curar doenças físicas. No entanto, em meio à violência que assola o estado de Veracruz, novas e criativas formas de bruxaria para proteção contra extorsão e ajuda para encontrar um parente sequestrado são hoje os principais pedidos feitos pelos clientes, segundo bruxos locais.
O temor em Veracruz tem se intensificado porque o estado é um dos mais recentes campos de batalha dos cartéis do tráfico mais poderosos do México. Jorge Chabat, especialista em segurança e tráfico de drogas do CIDE, uma instituição de pesquisa da Cidade do México, afirmou que um cartel conhecido como Zetas e o cartel de Sinaloa estavam disputando esse estado litorâneo, sendo que o Sinaloa aproveitou-se de recentes golpes que o governo federal realizou contra o Zetas.
A crescente presença do tráfico de drogas trouxe consigo uma atividade que explodiu em todo o país nos últimos meses: a extorsão. Nem mesmo bruxos e feiticeiras estão sendo poupados.

Municipal police on patrol in the town of Catemaco, Veracruz, Mexico, Oct. 19, 2011. n the midst of a violent streak in the state of Veracruz, witchery protection against extortion and help locating kidnapped kin have become the leading demands from clients, practitioners say. (Rodrigo Cruz/The New York Times)