domingo, 13 de janeiro de 2013

Senado patrocina exposição para exaltar feitos de Sarney


Às vésperas de deixar o comando do Senado, José Sarney (PMDB-AP), 82, ganhou uma exposição bancada com recursos públicos para exaltar os seus quatro mandatos como presidente da Casa.

Com o título "Modernidade no Senado Federal - Presidências de José Sarney", a apresentação omite escândalos que marcaram suas gestões --por exemplo, a crise dos atos secretos, de 2009, que permitiram a contratação de parentes do senador e que quase levaram à sua queda.

Exposição sobre Sarney

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Jonas Pereira/Agência Senado
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Inauguração da exposição e do lançamento do livro Modernidade. Na foto, José Sarney (PMDB-AP), a senadora Ana Amélia (PP-RS), a diretora-geral do Senado, Doris Peixoto, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e a diretora da Biblioteca do Senado, Simone Bastos
A exposição foi instalada na biblioteca do Senado com aval de Sarney, que tem dito que não disputará eleições após o fim do atual mandato.
Ela começou no dia 18 e vai até o dia 25 deste mês. No total, 23 diretorias e secretarias foram envolvidas na produção de 76 painéis.
Eles reúnem o histórico de ações de Sarney nos quatro biênios em que ocupou a presidência (1995-1997, 2003-2005, 2009-2011 e 2011-2013). Ele também foi presidente da República entre 1985 e 1990.
Questionado pela Folha, o Senado não revelou o valor dos gastos. Argumentou que o material foi impresso pela sua própria gráfica e os textos, elaborados por servidores --o que, segundo a Casa, representaria "custo zero".
Parte da apresentação trata da "transparência" na administração da Casa. Ao falar do período de 2009 a 2011, época do escândalo dos atos secretos, os painéis citam como feitos de Sarney "agilidade na transparência nas compras e contratações" e "desburocratização e eficiência".
Um dos textos diz que, desde 2009, "iniciativas de maior transparência possibilitam a consulta aos atos administrativos do Senado e aos dados sobre gastos e prestações de contas" da Casa, publicados no "Diário Oficial".
O escândalo mostrou que, em 14 anos, 511 medidas administrativas deixaram de ser publicadas. Ele motivou dez representações contra Sarney, todas arquivadas pelo Conselho de Ética da Casa, na época controlado por aliados.
Nelas, era acusado de ser um dos "principais responsáveis" pela edição dos atos.
Parentes de Sarney, do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e de vários outros senadores foram contratados e exonerados da Casa por meio desse mecanismo. Renan, um dos principais aliados do peemedebista, é agora favorito a suceder Sarney.
Entre outros escândalos da gestão Sarney omitidos na exposição estão os pagamentos de horas extras para servidores no recesso e de auxílio-moradia para senadores que moravam em imóveis próprios e do Senado --dentre eles o próprio presidente, que acabou devolvendo a verba.
No painel de apresentação da exposição, Sarney diz que pautou suas gestões "por estar sempre olhando para o futuro e para a transparência".
O material afirma que o senador nunca teve atração por cargos de comando no Congresso. Em outros quadros, são elogiadas as criações da TV e do jornal do Senado e do DataSenado (instituto de pesquisas da Casa).
Não é a primeira vez que Sarney usa dinheiro público para enaltecer sua carreira.
No fim de 2011, ele contratou uma consultoria de imagem com verba do Senado na tentativa de resgatar aspectos positivos de sua biografia.
OUTRO LADO
A assessoria de José Sarney disse que o escândalo dos atos secretos não foi incluído por se tratar de uma "ficção" criada pela imprensa.
De acordo com a assessoria, Sarney abriu sindicância para apurar as denúncias e determinou a publicação dos atos -logo, diz, o tema não deveria estar nos painéis. A exposição, segundo a assessoria, é iniciativa do Senado.

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