sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

(...)"Caro leitor, cara leitora, desculpem-me, mas são necessários dois comentários: primeiro, o pretenso “mensalão” do PT não chega aos pés do esquema Cachoeira/PSDB-GO; segundo, se o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, tivesse agido durante a Operação Vegas, conforme solicitado pela Polícia Federal, parte desses recursos não teriam sido desviados e provavelmente Marconi Perillo não teria sido eleito governador, tampouco Demóstenes Torres (outro queridinho das empresas privadas de comunicação) eleito senador em 2010 (...)


“A 
CPI vai terminar em pizza.” Assim vaticinavam as empresas privadas de comunicação (Globo, 
Veja, Estadão, Folha, etc.) desde o início dos 
trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de 
Inquérito (CPMI, ou CPI na sigla consagrada) 
que investigou as relações criminosas do bicheiro Carlos Cachoeira com agentes públicos 
e privados. Melhor dizendo: assim pregavam, 
torciam e assim acabaram por construir esse final. Agiram desta maneira porque, como toda 
empresa privada, elas têm seus interesses, que 
não são muito diferentes dos interesses das 
empresas de transporte, medicamentos, etc. 
Ou seja: financeiros, econômicos, políticos, 
comerciais, etc. E para defender esses interesses é que a CPI tinha que terminar em pizza. 
Pensaram: e se sobrar para nós também? Pois 
bem, é na defesa de seus interesses que essas 
empresas manipulam a informação.
A CPMI foi constituída para investigar as 
práticas criminosas do senhor Carlos Augusto
Ramos, conhecido vulgarmente como Carlinhos Cachoeira. O trabalho durou oito meses 
e teve como base as investigações da Polícia 
Federal nas denominadas operações Vegas e 
Monte Carlo. E, ao contrário do que afirmam 
alguns parlamentares, as paralisações do período eleitoral não prejudicaram as investigações, 
já que a maior parte dos trabalhos se deu pela 
análise de documentos e não de depoimentos. 
A análise dos documentos permitiu conhecer 
o modus operandi da organização criminosa, 
sua relação com agentes públicos, políticos e 
fontes de financiamento. Identificou também 
profissionais ligados aos meios de comunica-
ção que de alguma forma aderiram à organização ou colaboraram com Carlos Cachoeira.
Como membro da CPMI posso afirmar que o relatório apresentado pelo deputado Odair Cunha (PT-MG) não protegia 
ninguém, tampouco jogava sombra sobre 
personagens que deveriam continuar a ser 
investigados ou mesmo indiciados, como o 


governador Marconi Perillo (PSDB-GO) e 
vários jornalistas. Ou seja, era o resultado 
que a mídia não queria, pois apontava para 
um partido queridinho, o PSDB, e levantava 
suspeitas sobre o envolvimento da imprensa 
“imparcial” com o crime organizado.
Como afirma o relator, as “Operações 
Vegas, entre os anos de 2008 e 2009, e Monte Carlo, entre os anos de 2010 e 2012, evidenciaram um espectro de ilicitudes do Senhor Carlos Cachoeira, e seu envolvimento 
com o Poder Público do Estado de Goiás, 
estendendo-se ao Executivo, Legislativo e 
Judiciário, bem como a membros do Ministério Público”. “Os indícios também apontavam para uma rede de espionagem política e 
econômica, na qual a organização criminosa 
se baseava em comprar informações sigilosas muitas vezes por meio de interceptações 
telefônicas clandestinas.”
Com o cruzamento dos dados obtidos, a 
CPMI desvendou os esquemas da organiza
ção criminosa de Carlinhos Cachoeira. Estabeleceu as relações financeiras entre pessoas 
físicas e jurídicas e mostrou a aquisição de 
patrimônio a partir da atividade criminosa. 
Demonstrou também como “integrantes da 
organização se infiltraram no Estado de Goi-
ás e como utilizaram agentes púbicos em benefício próprio ou de seus negócios ilícitos”.
Sei que é estafante para um simples artigo, mas é preciso se debruçar sobre números para demonstrar o alcance das análises 
dos documentos e o quão era (ou é?) atuante 
a organização criminosa. Foram quebrados 
os sigilos bancários de 75 empresas e pessoas físicas, totalizando uma movimentação 
de R$ 84.351.961.822,13 entre 2002 e 2012, 
sendo R$ 42.053.697.762,31 em créditos e 
R$ 42.298.264.059,82 em débitos.
Segundo os dados obtidos, “88,70% das 
transações envolvendo cheques não estão 
identificadas e as transferências entre contas 
não identificadas totalizam R$ 632.068.848,01 
em créditos e R$ 852.571.649,98 em débitos. 
Por sua vez, as transferências interbancárias 
(DOC e TED) não identificadas atingem 
o montante de R$ 200.862.131,02 em cré-
ditos e R$ 1.500.933.694,58 em débitos”. 
Continua: “No universo do sigilo bancá-
rio, 24,97% dos créditos constantes (ou R$ 
10.500.180.092,48) não estão identificados, 
assim como 38,66% dos débitos (que representam R$ 16.350.963.569,61). São consideradas não identificadas as transações que não 
possuem CNPJ ou CPF informados”.
O volume de recursos que passou pelas empresas-fantasmas superou R$ 148 
milhões num período de pouco mais de 
quatro anos. “Trata-se de um valor considerável, principalmente quando levamos 
em consideração que tais empresas não têm 
qualquer atividade econômica real. Foram 
criadas apenas e tão somente para ocultar 
transações financeiras”, conclui o relator. 
Dados esses atualizados até o dia 06 de outubro de 2012.

Caro leitor, cara leitora, desculpem-me, 
mas são necessários dois comentários: primeiro, o pretenso “mensalão” do PT não chega aos pés do esquema Cachoeira/PSDB-GO; 
segundo, se o procurador-geral da República, 
Roberto Gurgel, tivesse agido durante a Operação Vegas, conforme solicitado pela Polícia 
Federal, parte desses recursos não teriam sido 
desviados e provavelmente Marconi Perillo 
não teria sido eleito governador, tampouco 
Demóstenes Torres (outro queridinho das 
empresas privadas de comunicação) eleito 
senador em 2010.
O relator conclui que a “organização 
criminosa de Carlos Cachoeira construiu um 
verdadeiro ‘Triângulo de Ferro’ em Goiás, 
com vértices e personagens bem delineados”. 
Neste triângulo “merecem destaque a atuação 
do próprio Carlos Cachoeira, em um vértice, 
da empresa Delta Construções S/A Centro-
-Oeste, em outro, e do senador cassado Demóstenes Torres, em outro. Somam-se a esses 
vértices agentes públicos e privados envolvidos, com destaque para integrantes dos escalões políticos do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB)”.
Cachoeira também usava o Poder Legislativo brasileiro, nas figuras de deputados 
federais, estaduais e vereadores. Deles obtinha favores para a organização criminosa e 
retribuía financiando, com dinheiro oriundo 
do crime, suas campanhas eleitorais.
A Delta Construções S/A, ramo Centro-
-Oeste, acabou por se revelar um dos instrumentos de corrupção de agentes públicos e 
privados. “As quebras de sigilos bancário e 
fiscal revelaram que essa regional da Delta 
transferiu vultosa quantidade de recursos financeiros para empresas de fachada controladas por Carlos Cachoeira.”
“Cachoeira mantinha ainda uma intricada rede de escutas clandestinas e arapongagem, por meio da qual obtinha informações 
que eram usadas para chantagear e achacar 
agentes públicos e privados. Essa rede de 
espionagem servia ainda para Cachoeira tomar conhecimento das operações policiais 
de combate a jogos de azar e máquinas caça-
-níqueis em Goiás e no entorno do Distrito 
Federal, elo financeiro mais forte do contraventor”.
Chamo a atenção para o fato que este 
serviço de arapongagem estava à disposição 
do jornalista Policarpo Junior, da revista Veja. 
Em poder de informações obtidas através de 
grampos ilegais, portanto criminosos, Policarpo criava matérias para bater nos governos 
do Lula e Dilma, no PT e em seus militantes.
Cachoeira tinha em suas mãos políticos 
do porte do ex-senador Demóstenes Torres 
(um dos mosqueteiros da revista Veja) e do 
governador de Goiás, Marconi Perillo. Tinha 
trânsito livre em importantes secretarias e autarquias do Estado de Goiás, assim como no 
gabinete do governador. Tinha em suas mão 
prefeitos de cidades goianas, vereadores e 
deputados estaduais e federais, além da Delta 
Construções S.A., ramo Centro-Oeste, responsável pelo depósito de R$ 98.928.491,10, 
nas contas de cinco das sete empresas-fantasmas investigadas. Também controlava mais 
de uma dezena de jornalistas, incluso o mais 
importante jornalista da revista Veja, Policarpo Junior.
Nada me custa fazer duas perguntas: 
será que Cachoeira tinha essas pessoas nas 
mãos ou ainda as tem? Segunda: por que em 
setembro de 2009, quando o inquérito policial 
da Operação Vegas detectou o envolvimento 
de parlamentares e outras autoridades com 
prerrogativa de foro no esquema de explora-
ção de jogos ilegais comandado por Carlos 
Cachoeira, o Dr. Roberto Gurgel, procurador-
-geral da República, não ofereceu a denúncia 
para iniciar a ação penal? Por que, como se 
diz vulgarmente, “sentou” em cima?
Creio que é possível concluir o porquê, 
desde o início, as empresas de comunicação 
trabalharam para que a CPMI terminasse em 
pizza: porque por todos os meios ela chegava aos seus queridinhos ou a alguns dos seus 
jornalistas.
A pizza foi ao forno tendo com chefes da 
cozinha o PSDB, comandado pelo “ferrenho 
combatente” da corrupção, senador Álvaro 
Dias, e o PMDB.
*Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado 
federal (PT-PR) e vice-presidente brasileiro do 
Parlamento do Mercosul

by *Dr. Rosinha, médico pediatra, é deputado 
federal (PT-PR) e vice-presidente brasileiro do 
Parlamento do Mercosul

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