Como seria bom se nós, pobres e mortais, tivéssemos uma regalia como a dos vereadores do Rio e de Belo Horizonte
Como seria bom se nós, pobres e mortais, tivéssemos também uma regalia como a dos vereadores do Rio e de Belo Horizonte. O mundo seria tão mais azul, tão mais justo, tão mais… Ou não!
Mas aprendam de uma vez por todas que isso não é para qualquer um. Afinal, ganhar 14º e 15º salários deve ser mesmo para quem realmente precisa. Deve ser uma espécie de auxílio aos mais necessitados. Até porque cansamos de ouvir vereador e deputado reclamando de seus salários. Aí depois vêm essas pessoas — como eu — e criticam o governo como um todo, dizendo que ele não olha pelos seus, que ele não ajuda quem precisa. Estou envergonhado.
E digo mais: devido ao alto custo de vida aqui no Rio de Janeiro, onde bons restaurantes chegam a cobrar R$ 7,50 por uma lata de refrigerante, onde a gasolina é cara e o seguro do carro é caro, acho que devemos sair às ruas e pedir que nossos vereadores ganhem um 16º e 17º salários, e por que não um 18º salário? Afinal, eles têm feito tanto pelo Rio. Eles têm tantos projetos sérios, como, por exemplo, o proposto pelo vereador José Everaldo, que iria alterar uma lei já existente (5146/2010), incluindo ao Calendário Oficial do Município do Rio de Janeiro o evento “Banho de Mar à Fantasia”, por achar que isso fortaleceria a manifestação popular. Nota-se que é uma pessoa séria, preocupada com o povo e com sua cultura.
Acho até que os vereadores do resto do país também devem receber esse benefício. Se não for pela necessidade — o que eu duvido. Afinal, é um salário medíocre para tudo o que eles trabalham –, pela “obra” que fazem e por suas ideias. Afinal, quando é que vamos ter projetos como proibir a morte das pessoas na cidade (Catanduva – SP), ou a Lei do Silêncio para animais depois das 22h, da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, ou ainda um que vem de Salvador, na Bahia, onde a venda de refrigerantes de 1 litro seria obrigatória em todos os restaurantes porque os mais pobres não comeriam fora justamente por causa do preço das latas? Essa a seguir é ótima e vem de Manaus: somente médicos e profissionais da saúde poderiam usar uniformes brancos. Ah, não poderia deixar passar uma que vem de Sobral, no Ceará, onde um vereador propôs a construção de dois prédios nos moldes do World Trade Center para abrigar a sede da prefeitura e as secretarias. As Torres Gêmeas teriam de oito a dez andares. E esse mesmo vereador propôs a construção do Muro das Lamentações. Olha a preocupação dele em trazer a própria história para a sua cidade. Lindo.
Algo tem que ser feito para preservar essas mentes brilhantes — algumas novas que entraram nessa última eleição (nem todos foram reeleitos) — sempre ativas, e garantir que seus donos queiram sempre continuar como vereadores. Precisamos de pessoas assim zelando pelo nosso bem-estar com bom senso e determinação.
Parafraseando em parte Monteiro Lobato, diria que um município se constrói com homens e vereadores com suas mentes brilhantes. Para que os livros, se eles têm dentro de si a sensibilidade de enxergar além das nossas necessidades e que nem nós mesmos conseguimos enxergar?
Estou emocionado.
Nota do escrevinhador: nenhum desses projetos de lei foi criado por mim. Eles existem. Até porque, eu não teria uma mente tão brilhante assim.
Vai um Zé Dirceu aí?
Por recomendações médicas, Zé Dirceu treina tomar sol fora da cadeia e faz tour gastronômico com amigos (Fonte: Reprodução/Edson Ruiz)
Zé Dirceu deve estar muito estressado. Seu médico recomendou que ele relaxasse e comesse muito. Será que já temendo que a comida da cadeia não seja bem a que ele está acostumado a comer? Ele só não foi para um resort na Bahia, como seu colega de crime, Carlinhos Cachoeira. Dirceu foi para Ilhabela, onde ficou quatro dias a convite de Fernando Morais (que está mesmo escrevendo um livro sobre ele) e Samuel MacDowell. Na segunda-feira, 7, jantou com o maestro João Carlos Martins e amigos, e dois dias depois jantou num tête-à-tête com outro Zé, o Zé Sarney, onde jogaram conversa fora sobre o mensalão.
Até parece que Zé está num regime de engorda para quando for passar uma temporada na cadeia, mas isso ainda vai demorar. Infelizmente.
Mas então… De tanto Zé Dirceu falar e estrebuchar de que é inocente de “marré de si”, vai ter mais gente acreditando nisso. Eu não. Estou imune. Mas já tem gente que, como ele, acha que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, quando disse que o mensalão é mais amplo, deixa dúvidas quanto à participação de Dirceu na quadrilha e no crime. Zé bate o pé e diz que Gurgel confessou — foi esse o termo usado por Zé — que não tem provas contra ele.
Na verdade, como bem disse o colega Merval Pereira, Zé tenta também vender — assim como o pessoal do PT — a ideia de que foi condenado sem provas. Aliás, muitos ainda acreditam que o mensalão não existiu. Só que é uma venda cara. Se formos contabilizar toda a grana que foi desviada… Mas, ok, me desculpem. É verdade: o Zé é inocente. O que foi que eu falei? Será que sem perceber estou me contaminando e vou terminar o texto gritando “Uhuu! Zé Dirceu é inocente. Uhhu! Zé Dirceu eu vou comer seu bolo”?
Só que tudo na vida é uma questão de interpretação. No caso, nem é de texto, como aprendi com minhas professoras de português no colégio. No caso em questão é interpretação da palavra, ou até avançaria um pouco: interpretação da ideia. E por isso mesmo temos o presidente do DEM, José Agripino, interpretando o “a coisa é mais ampla”, dita por Gurgel, como algo ainda maior e que aponta para o ex-presidente Lula, inclusive. Mas aí os professores de interpretação da ideia e da palavra de plantão do PT ou simpatizantes do partido irão dizer que estamos viajando na maionese, que somos loucos e que estamos tentando incutir algo que não existe na cabeça das pessoas. Que estamos forçando uma barra. Será?
Acho que não. Acho que na verdade esse nosso embate não vai acabar nunca. Serão sempre vocês aí dizendo que o mensalão realmente não aconteceu, que Lula, Dirceu, Genoino, quadrilha & cia são os inocentes mais injustiçados da história desse nosso país. Que não é bem assim, que pode até acontecer um desvio aqui, outro ali, mas não como pregam que acontece. E, claro, nós vamos continuar apontando o dedo, gritando, acusando e clamando por justiça e por uma impensada (por vocês) palavra de desculpas e de “é, nos erramos, roubamos e temos agora que pagar pelo que fizemos”.
É quase que como chover no molhado, mas que não irá me intimidar e calar meu grito, não irá diminuir minha indignação, meu olhar e minhas convicções de que será preciso morrer algumas gerações para que um dia alguém possa acordar e ficar em paz sabendo que tem gente séria governando o país. Eu não vou estar aqui para ver isso, tenho certeza, mas alguém lá no futuro — ainda mais agora que o mundo não acabou — terá que ter esse gostinho.
Salvem as baleias. Não jogue lixo no chão. Não fume em ambientes fechados.
by - JG
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