by Deise Brandão
Desde a redemocratização, em 1989, quatro presidentes da República já foram presos: Fernando Collor, Luiz Inácio Lula da Silva, Michel Temer e, agora, Jair Bolsonaro.
O que deveria ser uma excepcionalidade histórica virou rotina institucional, revelando uma doença profunda: corrupção endêmica, sistêmica e epidêmica.
Não há nada a comemorar.
Há, no máximo, o reconhecimento tardio de que o país falhou repetidas vezes em impedir que seus líderes tratassem o Estado como propriedade particular.
Collor: o primeiro sintoma
Fernando Collor inaugurou o triste ciclo.
Foi afastado em 1992 e, anos depois, tornou-se réu e condenado por corrupção.
Sua queda, à época, parecia um alívio — como se o sistema estivesse se purificando.
Hoje sabemos: era só o começo.
Lula: a era das ilusões
Luiz Inácio Lula da Silva, símbolo de esperança para milhões, acabou preso em 2018 após desdobramentos da Lava Jato.
A prisão, anulada posteriormente por questões processuais, não apagou o cenário que se revelou ao país: contratos superfaturados, empreiteiras, partidos e estatais operando em engrenagens de corrupção crônica.
Aos que ainda esperam alguma redenção institucional, bastou observar os últimos anos para entender que o problema nunca foi uma pessoa — mas um sistema inteiro moldado para se proteger.
Temer: a normalização do absurdo
Michel Temer foi preso duas vezes em 2019, envolvido em esquemas de corrupção que atravessaram décadas na política paulista. Sua prisão escancarou algo gravíssimo: até os bastidores “silenciosos” do poder estavam contaminados.
A sensação pública já não era choque.
Era cansaço.
Bolsonaro: a continuação previsível
Em 2025, Jair Bolsonaro se torna o quarto ex-presidente preso desde 1989.
Não é exceção, não é surpresa, não é choque.
É somente mais um capítulo do mesmo roteiro vergonhoso.
O que sobra é a constatação:
a maior parte dos presidentes eleitos após a redemocratização terminou o ciclo sob suspeita, acusação ou prisão.
Isso não é acaso.
Isso é diagnóstico.
Um país que não aprende
O Brasil tem duas doenças simultâneas: uma elite política que age como casta hereditária, intocável, blindada e repetidamente criminosa e um povo que, enganado ou cansado, acaba aceitando o teatro da “salvação” a cada quatro anos.
Quando quatro ex-presidentes terminam algemados, investigados ou condenados, não estamos diante de “casos isolados”. Estamos diante de um Estado falido moralmente.
Não há herói.
Não há santo.
Não há renascimento político possível.
Lula e Bolsonaro sintetizam a polarização mais destrutiva da história recente: um país mantido refém de dois polos que se alimentam um do outro, se retroalimentam do caos e transformam o debate público em trincheira.
A prisão de Bolsonaro revela o óbvio: não existe lado “do bem”.
Existe um sistema inteiro podre, que usa seus líderes como peças descartáveis.
Veredito histórico
Enquanto o povo paga a conta, Brasília segue mudando as figuras, mas nunca o jogo.
Quatro presidentes presos não são sinal de justiça funcionando.
São sinal de justiça tardia, impunidade prolongada e sistema contaminado de alto a baixo.
O Brasil não precisa de salvadores.
Precisa de ruptura institucional, transparência real e fim do pacto silencioso que normalizou a corrupção como paisagem administrativa.Até lá, o ciclo continuará:prisões, escândalos, impunidade, histeria coletiva — e a eterna sensação de que o país vive num loop viciado.
A celebração do caos: quando a anomalia vira rotina
A reação pública à prisão de Bolsonaro — comemorações, fogos, memes — não é sinal de maturidade democrática.É sinal de anestesia coletiva.Quando o país comemora a queda de mais um ex-presidente, não percebe que está celebrando sua própria tragédia:Enquanto a corrupção segue, o povo aprende a rir de sua própria ruína. E isso é, em si, um colapso moral.

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