Como há muito tempo se prevê, o maior problema do PT está em suas facções ou em seus aliados, não na oposição formal, cada vez mais enrolada em seus próprios problemas e indecisões. É assim que a anunciada candidatura de Marina Silva à presidência em 2014 por um eventual novo partido, ou a possibilidade de que o governador de Pernambuco Eduardo Campos se decida a concorrer já na próxima eleição, são hipóteses às quais o governo da presidente Dilma deve dar tanta atenção, ou mais, do que à ainda incerta candidatura do senador Aécio Neves pelo PSDB.
Tudo parece indicar que o ex-governador mineiro será o candidato do maior partido oposicionista em 2014, mas o PSDB ainda se ressente de uma unidade mínima que garanta base sólida para o início da caminhada, e o problema desta vez está em São Paulo, não em Minas. Partido que domina os dois maiores colégios eleitorais do país, o PSDB nunca conseguiu, depois das eleições de Fernando Henrique, unir suas bases em torno de um candidato presidencial.
Quando o candidato era paulista – José Serra em 2002 e 2010 e Geraldo Alckmin em 2006 – Minas não lhe deu a vitória. Agora, que o candidato deve ser mineiro, a máquina tucana de São Paulo começa a se movimentar para não permitir que a caminhada de Aécio Neves seja tranquila. O governador Geraldo Alckmin, ao dizer que ainda é cedo para a definição do candidato, depois de tanto o ex-presidente Fernando Henrique quanto o presidente do PSDB Sérgio Guerra terem dito que está na hora de oficializar a candidatura de Aécio, sinaliza pelo menos que ele quer ser ouvido, quando não que está avaliando a possibilidade de ser ele mesmo o candidato, como Serra incentiva nos bastidores.
Colocada a dúvida, o trabalho de reorganização partidária que o ex-governador de Minas pretende realizar antes de assumir oficialmente a presidência do partido fica prejudicado, ou pelo menos será retardado até que tudo esteja resolvido nos bastidores. O ambiente político de médio prazo parece favorável a quem queira enfrentar a reeleição da presidente Dilma ou a volta de Lula às campanhas eleitorais, com a economia claudicante e o PT e o próprio ex-presidente sendo castigados por denúncias de corrupção.
Mas o PT tem a seu favor o que os oposicionistas não têm: a sede de poder. Eles montaram uma formidável máquina partidária e fazem política 24 horas por dia. Nesse ponto se parecem cada vez mais com o PMDB, que também só se une em torno do Poder e está prestes a se tornar o controlador do Congresso sem contestações, presidindo ao mesmo tempo a Câmara e o Senado.
O pragmatismo do PT e do PMDB os une na campanha presidencial, em torno de Dilma ou Lula, enquanto PSDB, DEM, PPS só se dividem. O possível novo partido de Marina Silva pode ter para o PSDB um efeito semelhante ao que o PSD teve para o DEM: desidratá-lo ainda mais, a não ser que o partido demonstre ter uma expectativa de poder real.
As situações difíceis que serão enfrentadas pelo governo nos próximos dois anos podem até mesmo estimular aliados a se bandearem para outras candidaturas, aí incluída a de Aécio Neves, mas será preciso resolver essa disputa com São Paulo de maneira a clarear o caminho da mudança de rumo do maior partido da oposição, depositário natural dos votos antipetistas.
Se, no entanto, a divisão interna continuar a dominar as ações dos tucanos, essa massa antipetista pode procurar em Marina ou Campos a alternativa para combater o PT, com a vantagem para os candidatos saídos da base governista de que poderão agregar também eleitores petistas descontentes.
Será preciso, porém, que essas candidaturas nascidas do interior governista tenham convicção sobre o que querem. Marina Silva, por exemplo, não assumiu seu papel de oposição por inteiro na última campanha eleitoral, deixando que sua alma petista falasse mais alto no segundo turno, quando tinha condições de liderar os quase 20 milhões de votos que recebeu.
Ficando neutra, não avalizou a opção tucana e liberou eleitores dissidentes do PT para voltar ao ninho original. A candidatura de Aécio Neves pelo PSDB tem uma capacidade maior para fazer alianças num eventual segundo turno, com ele ou um dos outros possíveis candidatos, o que amplia o raio de ação da oposição.
Mesmo com os problemas que tem pela frente, o governo petista continua sendo o favorito para 2014 pelo simples fato de que na hora devida, suas diversas facções se unem pelo poder, com Lula ou Dilma, enquanto os tucanos se dividem para impedir que adversários internos vençam.
by MERVAL PEREIRA
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