quinta-feira, 19 de abril de 2012

Tem que Passar. by Deise




Efetivamente o que está em questão não é o tamanho nem a produtividade de
 terras indígenas, mas a capacidade dos cidadãos brasileiros em compreender esse cenário
 complexo e os diversos interesses em jogo. 

"Um dia

a nossa pátria ó mãe tão distraída

sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações"

Chico buarque de Holanda.



Ai, as emendas do Brasil

O contexto da votação da PEC 215/00 seria cômico se não fosse Trágico. 
Expressa o jeitinho de uma nação, expert em fazer remendos 
constitucionais para atender a interesses privados.

Constituição - 1988:  momento único autenticamente democrático vivido 
pela Nação Brasil. Políssêmico. Plural.

O desrespeito extrapola os Povos Indígenas, Quilombolas, porque atinge 
acima de tudo  a história de uma nação e sua capacidade de constituir suas leis, 
desqualifica os próprios
 poderes instaurados e representados por políticos que ainda deveriam 
merecer ser alvo de respeito (os constituintes) juntamente com os interesses públicos
 e seus não menos importantes representantes civis e a União.

Ainda que o atual e lamentável quorum de deputados que aí  figura “ criaturas 
que não sabem nada de História, nada de Política, nada de Leis, nada do Brasil
 “ politiqueiros que estão longe de ser Politikus - ao imaginarem que sabem o
 que fizeram, não imaginam: o que estão fazendo.

Responsabilizar a superpopulação mundial e o mercado chinês para justificar 
submeter toda uma Nação e seus múltiplos e diversos interesses ao retrocesso,
 configura, nesse caso limite, um Ato Legal de Terror. O Brasil já foi telespectador de 
muitos, mas tenebroso como esse parece ser sem precedentes. As derrotas
 somaram-se uma a uma, desde as condicionantes do STF pós 
demarcação Raposa Serra do Sol (RR), os zonementos ambientais estaduais, 
grandes obras e negociatas, código florestal e agora - o golpe final.

O que há por trás da PEC 215/00 ?

Fazer justiça aos latifúndios? Fazer justiça ao agronegócio? 
Fazer justiça à fome do mundo? Fazer justiça ao devido Progresso do Brasil?
 Havia me esquecido que o Brasil entende de Justiça Social como poucos.

A opnião pública(da) recorrentemente apoia-se em algumas ideias que precisam
 ser esclarecidas:

1)      Que Terras Indígenas, e a Amazônia de modo geral, configuram 
terras improdutivas.

2)      A velha ideia de que há muita Terra para pouco índio.

3)      Que Terra de Índio ameaça a soberania do território nacional.

O único e mais sério problema, pouco enunciado, é que os índios não têm nada a 
ver com tudo isso (até porque estão evidentemente invisíveis nessa malgrada transação)
 e no final, mais uma vez, devem pagar o pato!

AMAZÔNIA[1]

Terra        Povos       Matas       Água doce      Biodiversidade   
  Alimentos    Remédios   Saúde

Biopirataria

Ouro      Prata     Diamante

Garimpo

Fauna     Flora     Florestas

Venda ilegal de madeiras / tráfico ilegal de animais

Culturas       Conhecimentos       Técnicas       Saberes       Patrimônios

Tecnopirataria   /    Expoliação

Urânio      Petróleo      Bauxita

Imperialismo

Efetivamente o que está em questão não é o tamanho nem a produtividade 
de Terras Indígenas que, esclarecemos, correspondem a Terras da União 
“ Tesouro e Patrimônio Nacional - incluindo os sistemas simbólicos
 (diversidade de culturas) que o alimentam e sustentam.
  O que está em questão, portanto, é a capacidade dos cidadãos brasileiros 
em compreender esse cenário complexo e os diversos interesses em jogo.

Em nosso processo histórico de formação de uma identidade nacional, ainda
 que desde cedo, na escola, nos habituemos a declarar que a cultura brasileira
 é também fruto da herança indígena, raramente estamos predispostos a reconhecer
 e se identificar com essa herança. Apesar da pluralidade de culturas e línguas que
configura o Brasil, reconhecido como um país pluriétnico e multicultural, 
parcelas significativas da população ainda se surpreendem ao descobrir
 a resistência e existência persistente das culturas indígenas,
 vivas e presentes no cenário nacional. A surpresa, comumente, 
vem acompanhada ainda pelo espanto de perceber que 
muito das práticas culturais tradicionais permanecem atuantes.

O curioso é que esse espanto revela, com freqüência, o sentimento que
 traduz o estranhamento dessa diferença e dessa persistência pelo sentido 
do exótico ou do arcaico. Incorporamos com extrema facilidade e leveza 
novidades tecnológicas, manifestações culturais e comportamentais de vários outros
 lugares do mundo e, no entanto, consideramos exótica (ou atrasada)
 a nossa própria tradição, suas raízes, fundamentos e territorialidades.
 Nos espelhamos cotidianamente nos países chamados de primeiro mundo, porém, 
esquecemos que o reconhecimento da tradição e o respeito ao seu patrimônio cultural,
 natural e histórico, articula um eixo vital de seus padrões de desenvolvimento.

Por essa razão, compreender o que significam estas Terras da União é extremamente
 importante para o nosso próprio reconhecimento, o reconhecimento de
 um nós tão caro à concretização de um sentimento de nação. Incorporar referenciais 
dados por estas nações nativas e seus saberes significa valorizar e legitimar nossas
 possibilidades históricas tanto no que se refere ao passado quanto no que diz respeito
 ao presente e ao futuro. Mais do que museus e arquivos, o Brasil ainda precisa 
caminhar muito na direção de conhecer e respeitar as tantas expressões, 
vivas e atuantes, que configuram a realidade do país e as potencialidades 
diversas de desenvolvimento que essas expressões sustentam. 

O caminho mais imediato para a internacionalização e a ameaça de soberania
 nacional é converter as Terras da União em propriedades privadas 
para cultivo de commodities e produção exógena tipo exportação.
 Nesse caso, interesses antinacionais sem dúvida serão vitoriosos. 
Esta é a Justiça Social defendida pela Câmara 
dos Deputados na defesa da PEC 215/00.

O nosso legislativo, em sua insana transgressão pode, desta vez, fazer 
eclodir aquilo que no Brasil sempre se manifestou de modo local
 e controlável pelo Estado – rebeliões civis. Caso esta PEC venha
 a ser futuramente aprovada pelo congresso nacional, com assombro,
 talvez vejamos enfim O Terror de uma Nação.

                                                                       
"Numa explosão atlântica
E a multidão vendo em pânico
E a multidão vendo atônita
Ainda que tarde
O seu despertar"
                                                                                     
 Chico Buarque de Holanda

Andrea Jakubaszko (OPAN).
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[1]Autoria: Pedro Henrique da Costa Passos

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