Temor do Planalto com desdobramentos
da investigação alertou governistas
by Eugênia Lopes, João Domingos e Evandro Fadel
O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA e CURITIBA - Diante do alerta do Palácio do Planalto sobre os riscos
de desgaste do governo, tomou corpo no Congresso, com ajuda da base aliada, uma
“operação abafa” na Comissão Parlamentar de Inquérito do Cachoeira, a ser
instalada nos próximos dias. Uma das estratégias é poupar políticos de diversos
partidos citados na Operação Monte Carlo da Polícia Federal, que levou à prisão
o contraventor Carlinhos Cachoeira.
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ESPECIAL: CPI do Cachoeira
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Ficariam fora do radar deputados flagrados em escutas com integrantes do
esquema, os governadores petista Agnelo Queiroz (DF) e o tucano Marconi Perillo
(GO), além do ex-ministro José Dirceu. A única exceção seria o senador
Demóstenes Torres (sem partido-GO), que teve 298 conversas telefônicas com
Cachoeira grampeadas pela PF nos últimos três anos. O senador está sendo
investigado também pelo Conselho de Ética e pelo Supremo Tribunal Federal
(STF).
A “operação abafa” é resultado da pressão da presidente Dilma Rousseff para
que setores do PT defensores da CPI do Cachoeira tenham calma e não usem a
comissão como palco de vingança, o que poderia causar danos políticos ao
governo.
Dilma conversou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a CPI na sexta-feira, em São Paulo, conforme revelou o Estado.
Dilma conversou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a CPI na sexta-feira, em São Paulo, conforme revelou o Estado.
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), defendeu nesta segunda-feira, 16,
que a CPI investigue os negócios de Cachoeira e não se transforme numa disputa
política entre governo e oposição. “Queremos é desmantelar esta rede de poder
paralelo que foi constituída por esse cidadão chamado Cachoeira e que vai desde
o Legislativo, passa pelo Executivo e pelo Judiciário, pelo setor privado e pela
imprensa brasileira.”
“Todos serão investigados independente de onde estejam, de qual papel tenham
cumprido”, afirmou Maia, a despeito da operação abafa em curso no Congresso. Ele
negou que o PT queira barrar as investigações.
Até a semana passada arauto de uma investigação que atingisse as entranhas da
oposição, o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), adotou um discurso
conciliador. “Acho um exagero chamar o Agnelo Queiroz (governador do Distrito
Federal, do PT) e o Marconi Perillo (governador de Goiás, do PSDB)”, disse o
líder, ao responder se os dois deveriam ser convocados pela CPI. Em seguida,
porém, retomou a luta política: “O envolvimento do governador do PSDB com
Cachoeira é muito maior. É mais razoável chamar o Marconi do que o Agnelo”.
O movimento em gestação no Congresso visa a salvar os políticos ao mesmo
tempo em que tentará fazer com que a CPI concentre suas investigações no
contraventor Carlinhos Cachoeira e nos empresários mais citados nos grampos da
Polícia Federal, como Fernando Cavendish, dono da Delta Construções S.A. e
Cláudio Abreu, representante da empresa no Centro-Oeste.
Entre os parlamentares poupados, neste momento, estão os tucanos Carlos
Alberto Leréia (GO), que admitiu ser mesmo amigo de Cachoeira e saber que ele
estava envolvido com o jogo ilegal, e Leonardo Vilela (GO), pré-candidato à
prefeitura de Goiânia. Também foram citados nas gravações Jovair Arantes (GO),
líder do PTB na Câmara, Sandes Júnior (PP-GO), Rubens Otoni (PT-GO), gravado em
vídeo negociando financiamento de campanha com o empresário preso, e Stepan
Nercessian (PPS-RJ), que tomou um empréstimo de R$ 175 mil do contraventor.
Oposição. O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), disse ter a certeza de que
o governo usará a imensa maioria que terá na CPI para impedir investigações mais
aprofundadas. Dos 30 titulares da CPI, os partidos de oposição vão nomear apenas
6. Caberá ao governo preencher as outras 24 vagas.
O presidente do Conselho de Ética do Senado, Antonio Carlos Valadares
(PSB-SE), e os senadores Vital do Rego (PMDB-PB) e Humberto Costa (PT-PE)
encontram-se nesta terça-feira, 17, com o ministro do Supremo Tribunal Federal
Ricardo Lewandowski para pedir acesso ao inquérito que apura as relações de
Cachoeira com políticos. A investigação está sob sigilo.
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