domingo, 29 de junho de 2014

Ramadã começa na Ásia em plena Copa do Mundo


29/06/2014

Na Indonésia, grupos radicais ameaçam bares que exibem os jogos.
Ramadã é o mês sagrado do jejum para os muçulmanos.
Da France Presse
Torcedores brasileiros assistindo ao jogo contra o Chile pelas oitavas de final da Copa em bar de Jacarta, na Indonésia, mesmo com ameaça de extremistas (Foto: Stefanus Ian/AFP Photo)



Em muitos países da Ásia, incluindo a Indonésia, os muçulmanos iniciaram neste domingo (29) o mês do Ramadã, em meio às ameaças de radicais de atacar os bares 'impuros' que transmitem os jogos da Copa do Mundo de 2014. No continente asiático, o mês de jejum para os muçulmanos também começou na Malásia, Afeganistão, Filipinas e Sri Lanka.
Na Indonésia, o maior país muçulmano, com 225 milhões de fiéis de uma população total de 250 milhões, grupos islamitas radicais ameaçaram atacar os bares que continuarem a vender álcool - cujo consumo é proibido pela lei islâmica - ou que permanecerem abertos até tarde durante o Ramadã.
O líder da Frente dos Defensores do Islã na capital indonésia, Jacarta, Salim Alatas, anunciou que seu grupo "vigiará toda atividade imoral durante o Ramadã". "Se os representantes da ordem pública não fizeram nada contra as atividades imorais, faremos o possível para eliminá-las com os nossos próprios métodos", disse ele.
Mas essas ameaças têm pouco impacto neste país muçulmano moderado, onde o futebol é muito popular. Os praticantes e torcedores, indonésios e estrangeiros, têm lotado os bares de Jacarta. Eram muitos os que estavam animados na frente das telas que transmitiam os jogos das oitavas de finais da Copa do Mundo no Brasil na madrugada deste domingo, apesar da hora tardia, constatou a AFP.
"O jejum não afeta realmente o meu entusiasmo pela Copa do Mundo", declarou Intania Permata, um estudante de 22 anos, que olhava fixamente para a partida cheia de suspense entre Brasil e Chile em um bar-restaurante de Jacarta.
Setiadi Putra, de 27 anos, considerou que, com a aproximação da final, a febre da Copa do Mundo vai atrair muitos torcedores para os bares durante o mês de Ramadã.
O dilema religião-futebol
O Ramadã é um dilema para os muçulmanos praticantes e amantes de futebol quando coincidem, como aconteceu em 1982, com a Copa do Mundo na Espanha.
Os torcedores precisam ver se são capazes de observar o jejum durante a Copa do Mundo no Brasil, que terminará em 13 de julho. A questão é mais premente nos países de maioria muçulmana que participam na competição, como a Argélia, que na segunda-feira vai disputar pela primeira vez em sua história as oitavas de finais contra a Alemanha.
Muitos indonésios também observaram o início do Ramadã em família e participaram de orações, como em Jacarta, onde milhares de fiéis foram sábado à noite à mesquita de Istiqlal, a maior do sudeste asiático.
No Afeganistão, a política interferiu nas celebrações do início do Ramadã. Durante o 'iftar' - a refeição tomada todas as noites durante o mês de jejum muçulmano - só o que se falava era dos resultados da contestada eleição presidencial, que devem ser anunciados nos próximos dias, depois de alegações de fraude.
Os muçulmanos do Sri Lanka, país predominantemente budista, poderão, por sua vez, seguir o Ramadã moderadamente após a recente onda de violência interreligiosa.
Nas Filipinas, onde os católicos são a maioria, os muçulmanos começaram a celebrar o primeiro Ramadã desde a assinatura de um acordo de paz entre o governo e o mais importante grupo de rebeldes islâmicos, após décadas de conflito armado e de dezenas de milhares de mortos.
Fora da Ásia, a maioria dos outros países muçulmanos, incluindo a Arábia Saudita, o Ramadã começa neste domingo. Alguns, como o Iêmen, iniciaram no sábado. O calendário muçulmano é lunar, e o Ramadã deve começar após a lua nova.
Fiéis oram em mesquita que fica em Nantes, oeste da França, na véspera do Ramadã, o mês sagrado muçulmano do jejum (Foto: Jean-Sebastien Evrard/AFP)Fiéis oram em mesquita que fica em Nantes, oeste da França, na véspera do Ramadã, o mês sagrado muçulmano do jejum (Foto: Jean-Sebastien Evrard/AFP)

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