domingo, 13 de julho de 2014

Tratamento ayurvédico: desintoxique o corpo

O tratamento ayurvédico ajuda a eliminar as toxinas do corpo com dieta, massagem e mudanças de hábitos. Veja a experiência de quem fez e ficou com a saúde tinindo!


Reportagem: Fabiana Rodrigues 
Edição: MdeMulher
Comer coisas saudáveis não basta! É ´preciso escolher os alimentos mais indicados ao seu dosha
Foto: Getty Images
"Você gosta mais do tempo quente ou frio?" Sentada na cadeira do consultório, de frente para o médico, me surpreendi com a pergunta. Eu gosto mais do calor, no frio minha sinusite fica pior e os intestinos, mais presos. Então ele me pediu para ficar de pé e colocar a língua para fora. Depois de observá-la atentamente, contou que havia acúmulo de toxinas em meu corpo. Tomou meu pulso por alguns segundos e disse: "Você é Vata-Pitta, ar e fogo são os elementos da natureza que a regem". Tudo parecia muito interessante.

Bem, é que essa não era uma consulta convencional, mas com um especialista em ayurveda, a tradicional ciência indiana, que tem como observar as características físicas e comportamentais de cada pessoa e levar em conta os hábitos alimentares e do cotidiano para fazer seus diagnósticos.

O local era São Paulo, mas meu médico aprendeu na Índia, há muitos anos, como identificar por meio do pulso a proporção dos doshas - Vata, Pitta ou Kapha, que correspondem aos elementos da natureza que compõem os seres vivos. Vata representa ar e éter (seco, leve e frio: geralmente pessoas com atividade mental acelerada, de cabelo e pele claros e secos). Pitta, fogo e água (quente, oleoso e leve: pessoas ágeis e enérgicas). E Kapha, terra e água (úmido, pesado e frio: pessoas lentas, pele oleosa, estrutura óssea grande). Segundo a tradição indiana, todos temos uma mistura dos três tipos, e normalmente um ou dois em maior proporção. Mas quando estão em desequilíbrio sofremos uma série de desconfortos - é aí que aparecem as doenças.

Meu médico chegou ao diagnóstico depois de me entrevistar e descobrir como é meu estilo de vida, meus gostos, meus hábitos - além de observar meu tipo físico e fazer um exame médico convencional ali mesmo na clínica, com atenção especial para língua, pele, olhos e pulso. Conclusão: estava fora dos eixos.
Como tratamento, me propôs uma limpeza das toxinas, usando um método chamado Panchakarma, ou "cinco ações", que são: limpeza de toxinas acumuladas na cabeça (vias nasais, boca, olhos e ouvidos) com aplicação de substâncias medicinais como óleos, sucos de plantas e inalação de fumaça; e alguns bem radicais como a indução de vômito; a ingestão de ervas para provocar uma limpeza do trato digestivo; a limpeza dos intestinos com óleos e líquidos; e a purificação do sangue, por meio da retirada de um certo volume - para que um sangue novo seja produzido rapidamente, melhorando o fluxo sanguíneo. "Qualquer uma das cinco ações requer uma cuidadosa etapa preparatória do corpo antes de ser realizada", diz o médico Luiz Guilherme Correa Neto, especializado em psicanálise, homeopatia e certificado em ayurveda.

O tratamento só pode ser praticado com orientação médica e há casos em que é contraindicado: pessoas acima de 70 anos, mulheres grávidas, crianças, obesos, pessoas com a saúde muito debilitada, entre outros. "É preciso haver um mínimo de saúde e vigor para que o corpo consiga fazer o trabalho", diz Luiz Guilherme. Pode-se realizar o tratamento completo ou uma parte dele - como foi o meu caso. Fiz apenas a limpeza do sistema digestivo.

Pré-tratamento

Recebi uma lista de orientações para diminuir o nível de toxinas no meu corpo. Segundo o ayurveda, cada pessoa processa melhor alguns tipos de alimento que outros - depende do seu tipo (ou dosha). Eu deveria evitar carnes de qualquer tipo, ovos, alimentos processados e artificiais, refrigerantes, álcool, tabaco, café em excesso e outros estimulantes, farinha e açúcar refinado, adoçantes artificiais, alho, cebola, condimentos fortes e alimentos cozidos em micro-ondas. Em paralelo, tomei chás com ervas medicinais por cinco dias, indicadas para estimular a digestão. Ao longo dos 40 dias de tratamento, foram acrescentadas mais restrições, até que na última semana eu deveria comer somente legumes pouco cozidos e com pouco sal.

Mudança de hábitos

A minha rotina também iria mudar drasticamente: eu deveria acordar meia hora antes de o sol nascer, beber uma xícara de água morna com gotas de limão e mel, fazer o intestino funcionar, escovar os dentes raspando a língua com haste flexível, tomar banho morno lavando a cabeça com água fria, hidratar e aquecer meu corpo com óleo de amêndoas, vestir roupas limpas e confortáveis, fazer uma prática física de baixo impacto, meditar e só então me alimentar da forma orientada.
No meio da manhã comeria uma fruta e tomaria um chá digestivo com gengibre 30 minutos antes do almoço. O horário ideal da refeição era por volta do meio-dia e, se batesse uma fominha, comeria outra fruta durante a tarde. O jantar leve seria às 19 horas, e terminaria o dia com uma caminhada, conversas agradáveis, música suave ou leituras espirituais. Antes de deitar, alguns minutos de meditação, automassagem suave com óleo de gergelim aquecido no topo da cabeça e planta dos pés por 5 minutos. Por fim, tomaria um copo de leite quente com cúrcuma ou gengibre para dormir, no máximo, às 23 horas.

De fora para dentro

Na terceira semana, comecei a receber massagens com óleos. Mas antes fiz o que é chamado deoleação interna: por cinco dias de manhã, em jejum, eu tinha que ingerir uma xícara de café de ghee líquido morno (manteiga purificada) misturado com cinco ervas muito amargas em pó. Essa foi dureza. Depois sim, a oleação externa - e muito mais gostosa: por mais cinco dias, uma seção matinal diária de uma hora e meia de massagens a quatro mãos, com uma quantidade abundante de óleos, realizadas por terapeutas especializados.
Ao fim de cada sessão, vem o shirodhara, outra maravilha: ainda deitada na maca, um óleo espesso e morno era gentilmente derramado em fluxo contínuo sobre minha testa e escorria para a parte de trás da cabeça. A sessão, que pode durar até 40 minutos, deixa a mente totalmente relaxada. No fim, eu bebia uma xícara de chá digestivo e entrava numa sauna onde minha cabeça ficava para fora, para eliminar as toxinas pela pele.

O que fica e o que sai

No pós-tratamento, continuei mais uma semana com a dieta prescrita no início, práticas leves deioga e meditação. Depois voltei gradualmente à rotina, pois o corpo fica muito sensível, e qualquer toxina leve (como cafeína, açúcar e álcool) pode causar muito mais desequilíbrio que antes. Os benefícios foram muitos: ganho de vigor físico e mental, equilíbrio emocional, melhor qualidade do sono e o principal: a ampliação da consciência do meu corpo.

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