by Marcos Bayer
E fez-se o mundo sem que saibamos, ainda, como e por que. Fez-se...
Na escala da evolução, num determinado momento, o macaco e a macaca, ambos protegendo seus pequenos herdeiros, nossos ancestrais, defrontaram-se com a morte de algum dos membros daquela família. Qualquer que tenha sido a reação imediata, fosse ela a tentativa de reanimar ou o ato de ignorar, alguma sensação ficou gravada em suas mentes.
E nas gerações sucessivas, do homo erectus ao homo sapiens, todas as incógnitas ficaram gravadas. Como ficaram gravadas todas as percepções experimentadas pelo mecanismo cognitivo, o cérebro humano.
Todos nós temos milhares de ancestrais. Quanto mais conseguimos subir numa árvore genealógica, mais pessoas são identificadas. É tão óbvio quanto desnecessário dizer.
Mas, o que importa é que cada um de nós traz em si, um pedaço da Humanidade. Na transmissão genética ocorre a informação biológica, as características físicas, o timbre da voz e todas, absolutamente todas as impressões/sensações cerebrais dos nossos antepassados. A mente humana é este depósito de percepções vividas através séculos. Usando a metáfora de um amigo médico, é como se a cada novo computador que comprássemos, transferíssemos para ele o conteúdo do anterior.
Este é o sentido da evolução. Por isto o homem do século 21 é capaz de construir artefatos mais elaborados do que o homem do século 17, por exemplo.
Mas, e os chamados gênios de cada tempo? De Sócrates até Da Vinci. De Van Gogh até Charles Chaplin? De Einstein até Ernest Hemingway?
Isadora Duncan, Camile Claudel ou Hannah Arendt são referências por quê?
Alguns pelo exercício da lógica, outros pela obediência à compulsão, talvez pela observação ou mesmo pela total abstração. O que importa neste argumento é que cada um tem dentro de si pedaços da História. Fragmentos de inúmeras vidas. Todas elas depositadas e às vezes adormecidas em nossos cérebros.
Esta é uma das dimensões da vida eterna. Isto nos faz mais complexos do que já fomos. Isto nos permite viver infinitamente. É a isto que todas as religiões chamam de espírito. As centelhas do tempo gravadas na memória do Homem... Indelevelmente...
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