by G1
Cerca de 25% da população rural vive em situação de pobreza extrema. Segundo o IBGE, a miséria atinge 16.270 milhões da população brasileira.
Na zona rural, o percentual de miseráveis é mais elevado.
Já faz algum tempo que o Brasil virou uma das maiores potências agrícola do mundo, produzindo o suficiente para alimentar sua população e importando pouco de outros países. O país também é grande exportador de carne, soja, frutas, café, milho e algodão. No entanto, é no campo, onde é gerada toda essa riqueza, que o Brasil ainda tem um grande número de pessoas vivendo à beira da miséria - uma dívida social que assombra.
Dos anos 90 para cá, o Brasil passou por grandes mudanças: ganhou uma nova moeda, conseguiu dominar a inflação, criou programas sociais importantes e a economia voltou a crescer. Só na última década, 40 milhões de pessoas entraram para a classe média no Brasil e a pobreza caiu ao menor nível da história. Atualmente, as categorias de renda mais elevadas e a vasta classe média brasileira já somam, juntas, cerca de 70% da população do país.
Mesmo com toda a evolução econômica e social das últimas décadas, muita gente ainda vive em condições de pobreza extrema. Segundo os dados mais recentes do IBGE, atualmente a miséria atinge 16.270 milhões de pessoas no Brasil, o equivalente a 8,5% da população total do país.
Para ser considerada extremamente pobre ou miserável, a família deve ter renda per capita de até R$ 70 por mês. Por exemplo, uma casa com seis pessoas que têm renda mensal de R$ 300 entra na lista da pobreza extrema porque, o rendimento total dividido pelo número de moradores, fica em apenas R$ 50 por mês.
Atualmente, 25% da população rural do Brasil vive em situação de pobreza extrema. Isso significa um em cada quatro moradores do campo. A maior parte deles se concentra no norte e, principalmente, no nordeste.
A comunidade de Pageú, no sertão da Bahia, é formada por 51 famílias, espalhadas em sítios e casinhas modestas. O agricultor Domingos Francisco da Hora e sua esposa Valdeci nasceram e cresceram na comunidade, onde vivem com uma família numerosa. “Sete filhos, dois netos, eu e mais meu marido. Vida é difícil, né? Não tem serviço para trabalhar. Assim mesmo, vamos levando a vida”, diz ela.
O cultivo fica perto da casa em que moram e as terras são da família da Valdeci há três gerações. Foi o avô dela quem começou a trabalhar na região. Eles têm dois hectares e vivem basicamente da agricultura. Na lavoura, tem milho, mandioca e feijão de corda. O casal não tem trator nem arado e para tocar o cultivo, conta com uma enxada, um facão e uma foice.
Com sementes de baixa qualidade, sem adubo ou defensivo, sem crédito ou orientação, a roça do casal costuma produzir pouco. A colheita é destinada ao consumo da família, mas muitas vezes, eles perdem tudo por causa da seca. Além da lavoura, o casal tem duas vacas adultas, que dão leite, só que com a estiagem dos últimos meses, ficaram tão magras e desnutridas, que pararam de produzir. Em volta da casa, eles têm uma dúzia de galinhas, dois porcos, algumas fruteiras e muitas crianças pulando, brincando e jogando bola.
Os filhos mais velhos do casal conseguiram serviço em uma fazenda da região. Fazer diária na roça é a principal maneira da família conseguir algum dinheiro vivo. Fora isso, eles contam com o complemento mensal do Bolsa Família, no valor de R$ 134. Somando esse repasse ao ganho variável com diárias, o rendimento médio da casa não passa de R$ 600 por mês. Como são 11 moradores, a renda média mensal por pessoa fica em torno de R$ 54.
Com pouco dinheiro e muita gente, o desafio é garantir o rancho de todo o dia. “A gente não pode comer bem todo o dia, mas a gente não enfrenta muito situação de fome”, garante Valdeci. A casa tem paredes de alvenaria, piso de cimento e telhas de barro. São três quartos sem armários, uma cozinha com fogão e geladeira, e uma sala com poucos móveis, um aparelho de som e uma televisão.
Em Sítio do Mato, 50,3% da população vive em condições de pobreza extrema. É o município com maior percentual de miseráveis da Bahia. Apesar das dificuldades, Valdeci explica que algumas mudanças dos últimos anos fizeram diferença. A primeira delas é a renda regular do Bolsa Família. Além do dinheiro mensal, a casa também passou a receber visitas regulares de agentes de saúde. Atualmente, o programa atende 13.170 milhões de famílias no Brasil.
Outra melhoria na comunidade foi a chegada da rede elétrica. Nos últimos anos, as casas do Pageú também receberam cisternas para armazenar água da chuva. A construção dos reservatórios foi paga com dinheiro federal e realizada em mutirão, com apoio de entidades locais. Nos anos 2000, mais de 400 mil cisternas foram construídas no sertão brasileiro.
Transferência de renda, agente de saúde, luz elétrica e água potável são as provas do aumento da presença do estado em comunidades pobres. Mesmo assim, alguns serviços básicos ainda não chegaram na região. A maior parte das casas de Pageú não tem banheiro ou fossa séptica para receber o esgoto. A comunidade não tem posto de saúde nem coleta de lixo. Os moradores contam com um poço artesiano, mas a água bombeada é salobra, contaminada e não serve para beber.
De maneira geral, as crianças estão na escola, uma evolução em relação ao passado. Os alunos mais velhos estudam na cidade e contam com transporte gratuito. Os mais novos frequentam a escolinha municipal, na própria comunidade. Crianças de séries diferentes ficam todas na mesma classe, o que é péssimo para o aprendizado. Outro problema grave é que, segundo os alunos, muitas vezes, falta a merenda, que deveria ser distribuída pela prefeitura.
Para Domingos e Valdeci, a educação das crianças é ponto de honra e esperança para um futuro melhor. Eles contam que, apesar das dificuldades, os filhos sempre frequentaram a escola e quatro deles já se formaram no ensino médio.
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