Ministro do PMDB afirma que dificuldade de relação do governo com o Congresso e antecipação da corrida eleitoral fizeram base “brigar em casa”
Laryssa Borges e Silvio Navarro, de Brasília
Moreira Franco é homem de confiança do vice-presidente Michel Temer (PMDB) (Ailton de Freitas / Ag. O Globo)
"Todo mundo começou a viver intensamente como se nós estivéssemos no ano de 2014. Isso é uma neurose. Evidentemente, isso amplia o estresse na base aliada."
Homem de confiança do vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), o ministro Moreira Franco(Aviação Civil) afirma que a dificuldade de relacionamento do governo com o Congresso e a antecipação da corrida eleitoral fizeram os partidos aliados “brigarem em casa”. “Provocou-se uma neurose no processo político”, disse ao site de VEJA.
Há cerca de quatro meses comandando a Secretaria de Aviação Civil (SAC), o ministro avalia que o país passou no primeiro teste, a Copa das Confederações, mas não esconde a bronca com as críticas frequentes da Fifa e do Comitê Olímpico Internacional (COI) aos aeroportos brasileiros: “É importante que não só o presidente do COI, como o pessoal da Fifa, entendam que eu não os considero colonizadores”.
Os aeroportos conseguiram atender à demanda da Copa das Confederações? As coisas ocorreram normalmente. O Santos Dumont [no Rio de Janeiro] bateu recorde de pessoas no domingo, dia do jogo da final. A expectativa é que agora na visita do papa tenhamos no Galeão e no Santos Dumont a mesma capacidade de atendimento demonstrado nos aeroportos na Copa das Confederações. As medidas de contingência foram tomadas, com ênfase no Galeão. Creio que teremos uso intensivo em alguns dias da chegada e da saída [da Jornada Mundial da Juventude].
Mas a Fifa e COI têm renovado sempre as críticas envolvendo a má qualidade dos aeroportos. O COI tem que ficar frio, não precisa estar preocupado. Preocupados estamos nós em garantir a todos os aeroportos melhores condições, conforto e segurança ao usuário brasileiro. Em função de décadas de falta de investimentos no sistema aeroportuário, hoje, na maioria dos aeroportos, os serviços são precários. Temos um tipo de cultura em que o passageiro não é tratado como cliente, como se o operador estivesse prestando um favor. É inaceitável, vamos mudar isso. Nos aeroportos que têm concessões, esse processo já está em curso. Ainda não se presta um serviço bom, mas não tenho dúvidas de que isso vai acontecer, como acontecerá no Galeão e em Confins quando eles forem concessionados também. É importante que não só o presidente do COI, como o pessoal da Fifa, entendam que eu não os considero colonizadores. Não me sinto colonizado. Eles têm que saber que nós estamos cumprindo com as nossas obrigações. A prioridade no sistema aeroportuário é o passageiro brasileiro, é o cliente.
Nas discussões sobre reforma ministerial, fala-se na incorporação da SAC a outro ministério, como o dos Transportes. Isso depende de uma avaliação da presidente. A própria definição de prioridade cabe à presidente. A avaliação se convém [cortar], não só a SAC, mas o conjunto dos ministérios é dela. Ninguém melhor do que a presidente, que era ministra da Casa Civil quando da criação do sistema, da Agência Nacional de Aviação Civil e da definição da SAC como o comando político-administrativo do setor, para saber se é conveniente ou não [incorporar a SAC a outro ministério]. Existe hoje um programa de obras de modernização do sistema aeroportuário de muita envergadura. Não só as concessões, mas obras em vinte aeroportos no PAC e um programa de aviação regional para garantir a interiorização do sistema e o acesso a esse modal.
Como o senhor avalia o momento do PMDB no Congresso? Há uma crise com o governo? Não é só o PMDB. No Congresso, o clima está muito estressado por força de uma expectativa de relacionamento de qualidade diferente com o Poder Executivo. Os partidos estão muito estressados, o PT, o PMDB... O fato de não ter uma oposição de expressão numérica e com uma atuação forte faz que essa hegemonia da base absorva todo o estresse. Como não tem adversário ou com quem debater ou disputar, os partidos acabam brigando em casa.
O vice-presidente Michel Temer tem atuado como mediador para acalmar os ânimos?No PMDB, temos o vice-presidente Michel Temer, que tem experiência parlamentar de muitos mandatos, há muito tempo é o presidente do PMDB e ele tem cada vez mais ampliado sua colaboração. Situação de estresse é assim mesmo, é o casamento.
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Mas o líder do PMDB, Eduardo Cunha, teve postura beligerante em relação ao governo federal em algumas votações. Como líder da bancada, ele tem que expressar o sentimento e a vontade dos deputados. Tem gente na bancada que é até mais beligerante do que ele. Como líder, ele tem que procurar trabalhar na média. O esforço que fazemos, todos nós, Michel Temer, Henrique Alves e Renan Calheiros, é no sentido de trazer uma margem de bom senso, de temperança, de prudência e de cautela.
Há risco de se desfazer a aliança PT-PMDB no projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff? Todo movimento político se move por um objetivo: uma alternativa de poder. É preciso entender que, no momento, temos de manter a tradição de lealdade do partido, sobretudo em momentos difíceis. A lealdade partidária é um ativo fundamental. Temos de construir alternativas. Hoje, a alternativa majoritária no partido é a manutenção da coligação com a Dilma. Mesmo sem unanimidade, partido é isso.
Os palanques regionais nas eleições podem aumentar essa tensão? Um equívoco brutal que se cometeu – uma das razões que vejo da tensão política e econômica que vivemos – é a antecipação do processo eleitoral. À medida que se antecipa esse processo e se coloca cada vez mais a presidente Dilma não como presidente da República, mas como candidata, os problemas econômicos são trazidos para o debate eleitoral. E inflação é uma coisa terrível, muito impulsionada pela percepção. A percepção da inflação é o maior elemento inflacionário que a inflação tem.
Quais são os efeitos políticos dessa antecipação da corrida eleitoral? Os efeitos políticos se agravaram porque, ao antecipar a eleição do presidente da República com o lançamento de candidaturas, antecipou-se a eleição para deputado federal. Provocou-se uma neurose no processo político. A neurose é construir uma realidade e começar a viver essa realidade que não tem nada a ver com a realidade do dia a dia. Vivemos como se estivéssemos em junho do ano que vem, véspera das eleições. Todo mundo começou a viver intensamente como se nós estivéssemos no ano de 2014. Isso é uma neurose. Evidentemente, isso amplia o estresse na base aliada.
Com a queda da popularidade da presidente Dilma, o senhor acredita que o movimento ‘Volta Lula’ é para valer? Acho que sim. Isso é um movimento que tem mais dentro do PT do que em outros partidos. É natural. Querer evitar ou impedir esse movimento é um erro. Em política, tudo que é inútil é um erro. É inútil achar que se inibem determinadas ações ou iniciativa que tem laço social. É preferível conviver com elas, saber como vai tratá-las, se dá para tirar algo de bom delas e afastar o que tem de ruim. É mais produtivo e democrático assim.
by Veja
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