quinta-feira, 25 de julho de 2013

Separando o joio do trigo

 21 DE JULHO DE 2013

PTEduardo Nunes Loureiro
As ainda frescas manifestações de junho causaram um golpe no governo federal. Grande parte do núcleo duro da presidência estava tranquila, contando com uma reeleição garantida, muito embora o governo vivesse vários problemas – principalmente com a chamada base aliada, cada vez mais exigente e menos disposta a ceder.
Após as manifestações de junho, as pesquisas, sempre favoráveis e tendendo à estabilidade, apresentaram quedas significativas. Isso foi sentido tanto pela pesquisa Datafolha publicada no dia 29 de junho quanto pela mais recente pesquisa CNT, divulgada na última terça-feira.
Com relação a esta última, ela apresenta algumas dados interessantes. O resultado para a presidenta Dilma Rousseff – e, consequentemente, para o PT – foi negativo: queda da popularidade da presidenta de cerca de 54% de aprovação para algo em torno de 30% – diferença de 24%.
Por outro lado, a mesma pesquisa aponta que 22,1% dos brasileiros gostariam que o próximo presidente fosse do PT. No começo do ano, diversas pesquisas sobre a preferência por um partido político apontavam o PT como sendo o preferido por cerca de 25% da população.
Levando-se em conta a margem de erro das pesquisas, bem como a amostragem delas, podemos tirar algumas conclusões comparando-se os resultados:
1) a queda de preferência do PT antes e depois das manifestações foi praticamente nula, ou seja, quem oPTava continua oPTando;
2) o eleitorado petista é o grosso do eleitorado de Dilma;
3) a forte variação – de 24% a 30%, dependendo das pesquisas – é de um eleitorado “flutuante”, que navega ao sabor da conjuntura – e que agora está contagiado pelo sentimento de mudança expresso nas manifestações de junho.
É necessário que o PT calibre suas posições com aquelas que expressas pelas ruas, buscando entender o sentimento majoritário que emergiu em junho, dando sinalizações de que vai a seu encontro. O sentimento geral expresso pelas manifestações é de descontentamento, mas também é de maior presença do Estado interventor (saúde, educação e transporte de qualidade, reforma política), menos Estado repressor (contra a violência policial, desmilitarização das polícias) e maior democracia das comunicações (Fora Globo, conflitos com repórteres da grande mídia etc.)
O pior que o PT e o governo federal podem fazer neste momento é se esconder. Primeiro, porque se tratam de manifestações que não estão sob seu controle. Aliás, são as primeiras desta monta, desde 1974, em que alguém que fundou ou está no PT atualmente não participa diretamente da organização e mobilização. Esconder-se neste momento significa entregar o controle das próximas a quem tem posições diferentes da militância petista, em que predomina uma maior organização da direita. A forte queda de popularidade mostrou que a direita, organizada na mídia, nas redes sociais e nos partidos de oposição, atingiu seu objetivo ao colar a insatisfação geral no governo federal.
Outra tarefa urgente – e a mais difícil delas – é mobilizar aqueles que foram os mais beneficiados pelas políticas implementadas pelos governos do PT a defenderem suas conquistas e, mais que isso, o aprofundamento dos avanços. Os sinais dados pela atual “base aliada” do governo já eram de freio de mão puxado antes das manifestações; depois delas, praticamente são de abandono do governo à própria sorte – e aos petistas. Em suma: a base é aliada só dela mesma, e seus interesses não são os nossos.
A situação é difícil, mas, dos partidos e organizações de esquerda hoje existente, o único que tem condições de alterar a situação é o PT. Cabe ao partido não abrir mão deste protagonismo e ser a ponta de lança das reformas necessárias para fazermos um governo realmente democrático e popular.
Eduardo Nunes Loureiro é militante do Partido dos Trabalhadores em Goiás e faz parte da Direção Nacional da Articulação de Esquerda

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