Estados Confederados do Brasil?
O Brasil sempre foi a casa da mãe Joana de elites corruptas que fazem o querem. De latifundiários improdutivos a partidos políticos, eles usam como instrumento de controle, o governo federal, que interfere em todas as escalas de poder e até nos mínimos detalhes de comportamento pessoal das pessoas. Desde o primeiro governo republicano, nenhum dos 37 presidentes dividiu esta cobiça pelo poder. Getúlio Vargas cremou as bandeiras estaduais. Mas nenhum governo chegou aos pés de Luís Inácio, do Partido dos Trabalhadores (PT), que continuando a façanha de Vargas com maior êxito, dominou o cenário social, econômico, político, cultural e religioso do País. Mais do que nunca, a população está sentido o ônus do governo federal, um mastodonte maior que muitos países desenvolvidos.
Segundo uma pesquisa da Rádio Bandnews de Curitiba, PR, iniciada no começo do mês, 87% dos internaturas são a favor da separação da região Sul da República Federativa do Brasil. A enquete foi feita porque o movimento O Sul é Meu País organizou um congresso na capital do Paraná para discutir ações de como convencer a população sobre a divisão do País. Segundo o movimento, este resultado nunca foi tão alto.
Por isso, o MÍDIAS E MODOS entrevista o jornalista Celso Deucher, presidente do movimento separatista para falar sua opinião sobre o Brasil, a região Sul, a Guerra Civil americana, as revoltas separatistas, a descentralização da política, da educação e sobre o homeschooling. Celso, que também é conselheiro municipal de Brusque, em Santa Catarina, representa de certa forma a opinião destes internautas da pesquisa da Band.
MM: O que representa o Brasil de hoje para você?
CD: Representa um continente belíssimo, formado de diversos povos e culturas que tem seu desenvolvimento econômico, cultural, político e social tolhido por um estado plurinacional (Brasília) incompetente, corrupto e cerceador das nossas mais importantes potencialidades.
MM: Qual é o pior problema do Brasil? Por quê?
CD: É aquilo que chamamos de colonialismo interno. Ou seja, os estados brasileiros são apenas satrapia de um império colonial encastelado em Brasília, cujos donos, as oligarquias regionais (incluindo-se algumas do Sul) mantém a ferro e fogo por mais de 500 anos, os escravos produtores de riquezas. Do nosso ponto de vista, o maior problema do Brasil é a falta de verdadeira autonomia dos estados que está ligada diretamente a um sistema tributário que arrecada riquezas e distribui pobrezas.
MM: E qual é a melhor característica do país?
CD: A melhor característica do Brasil são os seus povos, considerados isoladamente.
MM: Os brasileiros são em sua maioria conservadores ou liberais? Por quê? Na região Sul há maior parcela de qual vertente?
CD: Creio que no Sul somos mais liberais no seu sentido revolucionário. Mas é bom que se diga que nem sempre os demais brasileiros se apresentam como conservadores. Aliás, como dizia Hayek, há que se reconhecer o caráter legítimo dos conservadores, que os temos, e muito, também aqui no Sul. A grande diferença é que aqui nos apegamos às ideias e as defendemos com grande ênfase, sem meias palavras, porém, agora, sem radicalismos. Uma das principais coisas que nos torna liberais revolucionários é justamente a crença na liberdade de pensamento e expressão. As liberdades civis e políticas são outra marca registrada dos Sulistas. Mas não temos nenhum problema em reconhecer que do seio do nosso povo já surgiram as mais diversas formas de políticos, incluindo-se ditadores como Getulio Vargas e outros. No entanto, a marcha dos povos leva também a aglutinar as lições da história e aos poucos nós fomos assimilando as mudanças, entre elas a crença de reconhecimento de que as tradições são importantes na hora de se construir um sistema jurídico para nos tutelar. No entanto, também sabemos que já passou aquele tempo em que acreditávamos em mudanças repentinas via revolução armada. Creio que amadurecemos e mudamos neste sentido. Hoje, o separatismo Sulista é mais maduro e mais identificado com o espírito libertário, rejeitando todas as possibilidades de se impor quaisquer tipos de crenças pela força.
MM: Como que as pessoas de região sul se diferem dos moradores do restante do Brasil? Você pode abordar todas as questões, inclusive sobre religião?
CD: Como seres humanos, nós partimos da premissa de que somos todos iguais em todos os sentidos. Só existe uma raça no mundo, a humana. No entanto, uma das primeiras coisas que nos diferencia é a nossa forma de ver o mundo e o nosso futuro, geralmente dentro de uma visão cultural perfeitamente possível em um país plural como o Brasil. De onde vem esta diferença? Precisamos honestamente considerar que nossa composição étnica, segundo o IBGE é majoritariamente europeu (também segundo o PNAD-2006, tem 79,6% de cidadãos brancos, 16% pardos, 3,6 preta e 0,7% de amarelos e indígenas) e isto também nos torna diferentes, não melhor nem pior que outros povos do continente brasílico. Abandonados pelo poder central desde a tomada do continente pelos portugueses, tivemos uma trajetória diferenciada do restante do Brasil. Aqui muito antes que em qualquer outra parte da América Portuguesa, tão logo houve o choque de civilizações, tivemos que resistir às investidas que tentavam roubar nossas terras e escravizar nosso povo. São exemplos clássicos disto, principalmente as lutas do nosso Povo Guarani que mais tarde, em contato com os espanhóis fundaram as Missões Jesuíticas no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e ali resistiram bravamente até o extermínio quase que completo. Basta ver o reduzido número de indígenas hoje presente na nossa composição étnica. Ao longo do tempo, os portugueses e espanhóis que habitavam esta região foram misturando-se aos povos locais e mais tarde, com a chegada das grandes levas de outros imigrantes europeus, isso tudo fundiu-se para formar um novo cidadão, que é sim, diferente culturalmente do restante do Brasil conforme se pode ver em todos os censos do IBGE. Isto por si só, criou uma realidade interessante no país, pois enquanto somos maioria no Sul, somos minoria dentro do contexto brasileiro. O fato de ser minoria no Brasil nos causa muitos problemas, entre eles o sentimento xenofóbico nutrido por alguns brasileiros, inclusive governantes, contra a gente Sulista. Tratam-nos como estrangeiros em nossa própria terra. Não raras vezes presenciamos na mídia até gente metida à estudiosa dizendo que se não estamos contentes com o Brasil que voltemos para o País de onde viemos. Isto é muito ruim, pois o próprio estado brasileiro estimula a xenofobia entre os seus habitantes, caso bastante comum na atualidade, inclusive contra negros e mulatos. Mas podemos ainda citar outros diversos fatores que nos diferenciam do Brasil atualmente, além da imigração europeia, como, por exemplo, o nosso meio natural, formado por um clima subtropical, temperado e uma geografia flagrantemente diversa da realidade brasileira. Nossa história foi sem nenhuma dúvida construída de maneira diversa da do Brasil e mesmo com todas as penas alugadas tentando desvirtuar está nossa história, os fatos e eventos mostram o contrário. Somos um povo forjado nas lutas por liberdade e isso está muito bem alicerçado nas guerras da República Guaranítica, Republica Farroupilha, República Catarinense, República de Lorena, na Guerra do Contestado, entre tantas outras. Temos muito orgulho de todas elas e sabemos que os mártires da nossa liberdade não morreram em vão, apenas regaram a terra de nossos antepassados, para que a semente da nossa libertação cresça e dê frutos no futuro. Penso que este futuro já está chegando.
MM: Somente quatro estados brasileiros (Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco) não foram criados pelo governo federal. Você acha que este é o motivo pela falta tradição e independência política no restante das unidades federativas?
CD: Creio que até pode haver algo neste sentido, porém, não é a causa principal. O fato é que aqui nunca houve de fato um pacto entre províncias ou mais tarde estados. Nada nos unia, tudo nos desunia… Mas para que o Brasil continuasse a ser esta “mãe gentil” aos donos do poder (leia-se oligarquias), erra preciso acabar com qualquer ato de rebeldia entre os filhos desta mãe com 27 tetas gordas. Há grandes exemplos de rebeliões por autonomia e até por independência em todas as partes do país. Veja por exemplo Minas Gerais que queria ser uma República independente e ela foi abortada pelo poder central. A Confederação do Equador, nitidamente separatista e que foi covardemente rechaçada. Os historiadores se negam a admitir, mas o Império do Quilombo dos Palmares foi um país independente do Brasil e também foi vitima da sanha assassina brasileira. Poderíamos citar tantos outros exemplos de luta dos povos brasílicos por autonomia e independência, todos covardemente atacados e derrotados pelo poder central brasileiro. Então, do nosso ponto de vista, na nossa interpretação, nunca houve no Brasil uma federação de fato e sim uma farsa copiada dos Estados Unidos e que jamais foi posta em prática. Como já dissemos, temos aqui uma metrópole colonial (Brasília) e as colônias produtoras de riquezas (os estados).
MM: Qual é a sua opinião sobre a criação dos Estados Confederados da
América e sobre a vitória da “União” (Estados Unidos da América) sobre eles?
CD: Lá, diferente daqui, os estados nasceram antes como unidades independentes. Portanto, antes de haver qualquer forma de unificação. Esta unidade veio na luta pela libertação das garras do imperialismo inglês. Depois de formada a confederação, que é a união de países ou unidades independentes, formou-se a federação, pela necessidade, naquele momento histórico, de unificar uma força maior para lutar contra os inimigos externos e até por causas internas. Veja como é interessante analisar a história americana, do ponto de vista do jogo interno de poder. Os estados do Sul uniram-se para manter uma certa vocação produtiva que incluía inclusive a permanência da escravidão. Já os do norte com vocação produtiva diversa e formação liberal, ousaram propor uma alternativa que modernizaria o país já de olho no futuro. A revolução veio somente após esgotarem-se as negociações entre estas duas formas de ver o mundo. Hoje é fácil para nós olharmos para trás e julgarmos a imbecilidade dos Confederados em querer manter a escravidão. Na época a coisa não era bem assim e o próprio Brasil passou pelos mesmos problemas na hora que se decidiu acabar com a escravidão. Aqui nós minimizamos as revoluções antiescravagistas com uma ponta de racismo, pois grande parte dos estudiosos ainda nega a capacidade de luta dos nossos negros, inclusive nos dias atuais. A vitória da União nos EUA possibilitou a implantação dos ideais iluministas na prática e ao mesmo tempo, deu aos americanos a faculdade de criar um sistema político que hoje é copiado pelo mundo inteiro, uma verdadeira federação. Lá há de fato um respeito às autonomias dos estados e até os condados têm poderes que nem a União pode meter o dedo. Em termos de federação, o EUA são nosso melhor exemplo, assim como a Suíça é nosso grande exemplo de Confederação.
MM: Qual é a sua opinião sobre a relação da “união” com os “estados” nos EUA? Quais são as diferenças para a relação do governo federal brasileiros com os governos estaduais?
CD: Lembro-me de uma história que pode certamente ilustrar esta resposta. Um brasileiro foi morar no Texas e, não sei por que motivo matou sua namorada. Naquele estado tem a pena de morte. O brasileiro foi preso, julgado e condenado à cadeira elétrica. Governava o estado o George Bush, que mais tarde se tornou presidente dos EUA. Quando o governo brasileiro soube da condenação, apressou-se a pedir oficialmente que a pena de morte fosse comutada para prisão perpétua. O Papa João Paulo II enviou uma carta ao governador e ao prefeito do Condado onde ele havia cometido o crime, pedindo clemência ao condenado. O presidente do EUA, atendendo pedido do governo brasileiro também se meteu na briga e enviou um pedido formal para comutar a pena para perpétua. Veja, dois presidentes, o papa (maior autoridade religiosa do mundo para os americanos), todos pediram para não executar o brasileiro. A única pessoa que poderia salvar a pele deste brasileiro era o governador do Texas, que temeroso do que o povo do seu estado poderia fazer com ele, preferiu manter a sentença do condado. No dia e hora marcada para a execução, lá estava o assassino, as autoridades todas postadas e os parentes da vitima… O Xerife abre um canudo onde estava a sentença daquele que aqui chamamos erroneamente de “juizinho local” e lê para os presentes: “De acordo com os usos, costumes e tradições do povo do Condado Tal, Fulano de Tal, assassinou a Fulana de Tal e por este motivo, como prevê a legislação do NOSSO LUGAR, ele irá neste instante cumprir a sua pena perante a sociedade”… Dois minutos depois o brasileiro estava morto. Pena cumprida. Ninguém no mundo tem maior força que as leis locais, onde o direito é baseado nos usos, costumes e tradições de um povo. Não estou defendendo a pena de morte em especial, mas citando este fato para mostrar o quanto nos EUA se respeita este princípio do direito consuetudinário e o quanto a federação funciona. Isto sim é autonomia. Aqui no Brasil não temos uma federação… Fomos repartidos em Colônias produtoras der riquezas. Do ponto de vista do estado não somos mais nada, além disso.
MM: Os estados brasileiros não têm a mesma independência que os estados americanos. A falta de soberania das unidades federativas seria um bom argumento para a secessão com o objetivo de descentralizar o poder de Brasília?
CD: Com toda certeza sim. Acreditamos inclusive que as demais regiões deveriam erguer esta mesma bandeira. Quem sabe assim, o poder central acorda e resolve transformar o Brasil numa verdadeira democracia, numa verdadeira federação.
MM: Quais são seus principais argumentos para a separação da região Sul da República Federativa do Brasil? Você pode pontuá-los?
CD: Em nossa Carta de Princípios temos definidos os principais argumentos, pois diversos têm sido os fatores que nos impulsionam na direção da nossa autodeterminação total. Foi com este propósito, que após amplas discussões e a troca de pensamentos convergentes, em sucessivos encontros, debates e assembleias, que pontuamos genericamente os fatores a seguir, como forma de contribuição orientadora ao eficiente exercício de autodeterminação. Resumidamente os principais fatores são:
Fatores Políticos: O franco desrespeito à regra constitucional de que “todos são iguais perante a lei”, além de que a cada eleitor deve corresponder um voto, permite que a representação na Câmara Federal seja viciada. Uma perniciosa representação parlamentar gritantemente desproporcional quebra também o preceito estabelecido na Constituição sobre a igualdade entre os Estados Federados. A existência de uma política financeira que premia a especulação em detrimento da produção. O terrorismo tributário, que penaliza a cadeia produtiva e de consumo, jogando as livres iniciativas na marginalidade e promovendo o desemprego. A atual ausência de autonomia legislativa que deveria ser conferida às Assembleias Legislativas dos Estados, que permita legislar sobre matéria cultural, providenciaria, sanitária, penal, tributária e outras. O descaso com que o Sul tem sido distinguido permanentemente, relegado sempre a um segundo plano, tendo seus projetos e anseios sempre adiados indefinidamente.
Fatores Tributários: A abominável sangria tributária da região Sul, sempre submetida à má distribuição do bolo tributário, que privilegia regiões, discriminando outras, bem como a má distribuição do nosso esforço tributário que apenas contempla o fortalecimento das oligarquias políticas clientelistas do Norte e Nordeste, em prejuízo das próprias populações daquelas regiões. A permanente discriminação orçamentária, que relega a Região Sul à quase inexistência de investimentos federais.
Fatores Econômicos: A Região Sul tem todos os requisitos necessários para se tornar uma das nações mais prósperas do planeta. O seu potencial humano, social e econômico não deixa qualquer dúvida a respeito de sua viabilidade como país independente.
Fatores Geográficos: Com uma área de 577.000 quilômetros quadrados, o conjunto sulista, formado pelos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, apresenta uma situação geográfica altamente favorável. Dotado de planaltos, planícies, serras, matas, rios navegáveis, diversos portos, um litoral imenso e um clima subtropical, apresenta condições tecnológicas e físicas para uma base agrícola produtiva e diversificada. Este grande espaço geográfico também apresenta um formidável potencial turístico, maior que a grande maioria dos países que têm nessa área uma de suas atividades mais importantes. O litoral catarinense é prodigioso em turismo e pesca. As serras gaúchas e catarinenses são conhecidas pelo notável clima de inverno. No Paraná, os rios navegáveis e suas cataratas além de gerarem toda a energia que necessitamos, deslumbram o mundo. Nosso litoral, com mais de 1500 quilômetros e seus cinco portos em atividade, causam inveja a países já desenvolvidos. A Região Sul confina com três países do Cone Sul: Paraguai, Uruguai e Argentina, com quem partilhamos um intercâmbio comercial através do Mercosul, além das afinidades tecidas pela história, geografia, clima, etnias e características culturais. Um aproveitamento racional desta geografia nos trará autonomia no campo energético, na indústria turística, na agricultura, na pecuária e em muitos outros campos das atividades econômicas, além de nos permitir um sistema natural de escoamento de produção. Em extensão geográfica, a Região Sul é maior do que 120 dos atuais 193 países existentes no mundo.
Fatores Culturais: A população Sulina hoje é de cerca de 27 milhões de pessoas, de origem europeia, miscigenada ao africano, ao americano nativo e ao asiático. Esta miscigenação que absorveu cultura, costumes e tradições de quatro continentes, associada aos fatores climáticos e geográficos inerentes à Região Sul, moldou o perfil que é peculiar do Sulino, diferenciando-o das demais regiões brasileiras. O povo Sulino tornou-se assim detentor de uma diversificada cultura, que se expressa através dos costumes e das tradições que a região cultiva, de onde se projetaram expressões artísticas para o mundo inteiro.
Fatores Sociais: O galopante crescimento da pobreza da nossa população e sua acentuada degradação social, com a proliferação das condições sub-humanas, são fatores que causam indignação, principalmente porque não existe perspectiva de reversão deste caótico quadro dentro do cenário sob o controle do estado brasileiro.
Fatores Morais: A falta de investigação séria e veloz diante das constantes e crescentes denúncias de estelionato, de peculato, de formação de quadrilha e de locupletação com os recursos do erário, com a impunidade que graça nos altos escalões do sistema pseudo-federativo brasileiro, nos fazem acreditar na veracidade e atualidade das afirmações de Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”…
Fatores Históricos: Por fatores semelhantes aos atuais, nossos ancestrais já empunharam a bandeira da Independência e da Autonomia. Como já citamos, as diversas revoluções como a República Juliana e a República Rio-Grandense são testemunhas seculares de que não estamos fazendo nada de novo, apenas dando vazão ao centenário ideal de autodeterminação que vem sendo cultivado pelo nosso povo. A Guerra do Contestado, a Revolução Federalista de 1893, a Revolução de 1930, a República de Lorena e a eclosão de outros movimentos políticos ocorridos nas diversas regiões que compõem os três Estados sulistas, nos legam a consciência de que a falta de Autonomia, sempre foi objeto de insatisfação sulina, seja plena ou parcial, motivo pelo qual entendemos que somos a continuação de história inacabada, que nos outorgou fortes exemplos de que somos herdeiros de uma personalidade aguerrida e que sabemos lutar para defender nossos ideais. Nós, os sulinos, quando o combate tomava-se inevitável, sempre éramos chamados, desde os tempos do Império, ora para consolidar governos e formas de governo, ora para fixar e expandir fronteiras. Não é sem razão, que o sulino sempre afirmou orgulhoso, que as fronteiras brasileiras se consolidaram na “ponta de sua lança e nas patas de seus cavalos”, Somos um povo que tem seu passado escrito com o sangue e o trabalho de nossos ancestrais, e exatamente por termos consciência deste patrimônio histórico, é que nos sentimos responsáveis pela história que haveremos de deixar para os que vierem depois de nós. Somos amantes do trabalho e da liberdade, mas
queremos ser os responsáveis pelo nosso destino.
MM: Durante o Império, o período das regências ficou conhecido por muitas revoltas separatistas. Como você descreve esta parte da história? Quais as ligações que tem com o presente?
CD: Não temos dúvida de que somos a continuação desta história inacabada. Estamos ligados ideologicamente por um fio condutor que nos leva a sonhar o mesmo sonho da “terra sem males” da República Guarani ao primeiro grito de “Esta Terra tem Dono”, até os dias atuais, quando nos é negado o direito irrenunciável de autodeterminação. Da mesma forma outras regiões, como o nordeste tem seu histórico de separatismo ao longo do período colonial, regencial e imperial.
MM: De que modo seria feita esta separação dos três estados da região Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catariana e Paraná)? Quem são as grandes forças favoráveis? Haveria reação das forças contrárias?
CD: As forças favoráveis são a inabalável vontade da grande maioria do nosso povo que quer a total autodeterminação em relação ao Brasil. Contra, me parece estar muito claro quem são nossos inimigos: as oligarquias regionais, donas do poder central. Não é à toa que desde a década de 1990 somos combatidos ferozmente por gente como José Sarney, Antônio Carlos Magalhães, Ciro Gomes, além de outros chefes de quadrilhas organizadas que assaltam os cofres públicos em Brasília e nos seus currais eleitorais, há décadas. Cremos que haverá sim reação contrária e ela já se mostrou em alguns momentos da nossa história recente através do sentimento xenofóbico destes chefes políticos, nos acusando de nazistas, fascistas, maus brasileiros, bichas enrustidas, etc. Além disso, eles já nos processaram diversas vezes e perderam todas elas, visto que não estamos infringindo nenhuma lei divulgando aquilo que pensamos e nos organizando para defender o que pensamos. Nada disso nos atinge, pois sabemos quem somos e o que queremos para nosso povo. Sempre digo que um dia, lá adiante, os que são contra a autodeterminação do povo Sulista, vão olhar para trás e ver como foram ridículos e antidemocráticos. Basta ver como hoje nós olhamos para o passado e julgamos aqueles que negavam o fim da escravidão, o voto universal e tantos outros direitos já consagrados pela Carta de Direitos Humanos e pelo ordenamento jurídico internacional. Acho uma aberração contra o sistema democrático de direito manter um povo, contra a sua vontade, escravo de um estado que não se identifica e não quer pertencer.
MM: O que a região Sul ganharia e o que perderia se virasse um novo Estado?
CD: Ganharíamos principalmente o direito de viver a nossa própria vida como coletividade humana. Nossa vocação e capacidade produtiva certamente seriam impulsionadas para níveis mais abrangentes proporcionando ao povo Sulista uma melhor qualidade de vida. Só a sensação de liberdade e a vontade de construir um grande país, longe desta loucura que é Brasília, já nos daria novo fôlego. A começar por um novo e moderno sistema jurídico, poderemos criar um sistema tributário que premie o trabalho e a produção nos municípios que é onde nosso povo efetivamente vive. A inversão da arrecadação tributária deixando cerca de 70% no município, 20% ao estado e apenas 10% a União já mostra nossa inabalável vontade de construir um país justo e digno.
MM: E o resto do Brasil, o que ganharia e o que perderia com esta separação?
CD: Estaremos dando uma grande demonstração aos demais povos brasílicos de que é possível sim cada um seguir seu próprio caminho e desenvolver suas potencialidades sem a presença macabra de um estado vampiresco que suga tudo que produzimos e nos devolve pobreza e desesperança. Todos os povos da América Portuguesa têm potencialidade de se desenvolver. Não existem coitadinhos e bandidos, nem muito menos estados sem condições de se auto sustentar (os números da economia comprovam isso) através do trabalho e da labuta diária por dias melhores. Os que pregam o contrário geralmente são os defensores da indústria da seca, obras faraônicas e superfaturadas, além de centenas de milhares de outras formas de colonialismo interno.
MM: No Brasil somos uma república presidencialista com voto universal e direto, além da divisão dos poderes (executivo, legislativo e judiciário) e as três escalas de poder (federal, estadual e municipal). Ao criar este novo país devemos esperar grandes mudanças e um novo sistema político? E a Constituição Brasileira? E os partidos?
CD: Não vamos inventar a roda novamente, pois ela já está criada. Teremos certamente todo um sistema político, econômico, social, como todos os países têm. O que queremos é criar uma nova forma de presença do estado a serviço do cidadão. Hoje é o contrário, os cidadãos estão a serviço do estado e isto está completamente errado. O Gesul (Grupo de Estudos Sul Livre) está trabalhando na confecção de projeto de país chamado “União Sul-Brasileira”, que deverá apresentar para discussão da Sociedade Sulista em 2015. Nele estão previstos como funcionará este novo país, porém, já adiantamos que o Brasil em relação à política não é de forma alguma um bom exemplo.
MM: Há possibilidade de este novo Estado ser um fracasso e acabar voltando à União? Por quê?
CD: Não vejo esta possibilidade em nenhum dos setores da nova sociedade. Na economia, por exemplo, os números provam exatamente isto, que somos capazes de nos auto sustentar e o que não temos aqui vamos ter riqueza (moeda) suficiente para comprar do Brasil ou de qualquer outra parte do mundo. Eu confio no nosso Povo e sei que ele é capaz o suficiente para bancar sua própria autodeterminação, em todos os setores da vida humana.
MM: Depois de assinada a declaração de independência, qual seria a relação deste novo Estado com o Brasil? E principalmente, qual seriam as relações de seus habitantes com os brasileiros?
CD: Do ponto de vista da fraternidade entre os povos, os brasileiros serão certamente nossos irmãos mais próximos, visto que muita coisa nos une, diferentemente de agora que Brasília tenta nos manter sempre desunidos, para que lá de cima possam nos dominar com tranquilidade. Além do mais, não creio que o Sul e o Brasil vão se tornar inimigos. Muito pelo contrário, veja o exemplo dos EUA e a Inglaterra, são camaradas em tudo, até nas coisas ruins. Creio que é possível sim, com autodeterminações que só a democracia de fato pode nos proporcionar, termos uma comunidade de países independentes na América Portuguesa e quem sabe até Latina, pois nos identificamos muito com alguns países desta região e não há motivos para que não sejamos grandes parceiros comerciais e até mesmo políticos em muitos setores. Porém, cada um com suas autonomias e liberdades. Veja que separar um país, criar um novo estado nacional, não significa fechar-se para o mundo. Creio que uma das primeiras coisas que faremos após a independência seria um tratado com o Brasil para fortalecer os laços entre os povos. Somos irmãos e isso é inegável. Lá no Brasil temos amigos, irmãos, parceiros comerciais, camaradas de luta e isso tem que continuar. Porém, acreditamos que quando numa família, os filhos crescem e querem ter sua própria casa, esposa, filhos, é saudável que todos os demais membros desta família fiquem felizes e até lhes ajudem a dar os primeiros passos. Nós somos os três filhos da pátria brasileira que já nos sentimos maduros o suficiente para deixar a casa materna e ter nossa própria família, nossos filhos, gerir nosso próprio destino, nossa subsistência, etc. Portanto, esperamos dos demais irmãos povos dos brasis apoio, compreensão e até “uma força” mutua para nos ajudar a concretizar esta decisão.
MM: A região Sul é também famosa pelo país por ser a terra de muitas comunidades étnicas, que inclusive, falam sua própria língua natal. Haveria independência para estas comunidades para educar seus filhos da forma e na língua que quiserem ao contrário das demandas do Ministério da Educação, em Brasília, que determina como deve ser a educação? Aliás, haveria uma única forma de educação federal ou haveria liberdade individual de ensino para cada família? O homeschoolingseria permitido, por exemplo?
CD: Antes de mais nada, queremos um país onde o estado Nacional, a união, vá cuidar da segurança nacional, das forças armadas, da moeda, da representação internacional e mais uma ou outra coisa. Nas demais áreas, a União não tem que meter-se na vida dos estados e municípios. Isso já temos no Brasil e não funciona. Somos um povo formado por diversos grupos étnicos, e por isso, temos que dar liberdade a estes grupos de construir suas próprias leis, de acordo com seus usos, costumes e tradições. O respeito a este princípio, creio eu, deve ser a base de sustentação do estado, caso contrário não tem sentido criar outro “Brasil”. Na educação, que deve ser o grande calcanhar de Aquiles do novo país, temos que concentrar todos os esforços. Creio que temos que ter diretrizes gerais estaduais de acordo com as peculiaridades de cada um e toda a legislação que envolve o setor, deve ser feita em cada unidade da Federação Sulista, ou seja, nos municípios. Onde, por exemplo, há majoritariamente a etnia italiana, se os cidadãos quiserem colocar o estudo de língua italiana na escola, ele tem que ser livre para fazer isso. Não será o estado que dirá que não. Temos hoje, por exemplo, vários municípios do Sul onde há diversas reservas indígenas de várias etnias. Vejo que nelas temos que ter um ensino voltado para aquele povo, sem nunca esquecer que existe todo um ordenamento internacional que tutela estas questões. Vejo com bons olhos, por exemplo, a questão do homeschooling para crianças até por volta de 12 anos. Não acredito neste sistema para um jovem no ensino médio. Penso que a partir de certa idade este jovem tem que participar dos estudos na sociedade, o que inclui a sua inserção em programas de prestação de serviços voluntário, bem como, a aprendizagem prática da profissão que ele vai escolher.
MM: Os EUA não proíbem nenhum tipo de partido político de existir, tanto é que lá tem partido nazista, comunista, gay e por aí vai. Ou seja, do mais conservador ao mais liberal o cidadão está representado. Já no Brasil há uma predominância unânime de partidos de esquerda (comunistas, socialistas, sociais democratas, democratas, trabalhadores etc.). Se o Sul virasse um novo Estado seria possível de existir partidos conservadores, de direita, assim como nos EUA? Ou este novo Estado apenas iria reproduzir as velhas ideologias que são unânimes no Brasil?
CD: Penso que partido político deve ser um instrumento de defesa de ideias, projetos e propostas e por isso qualquer cidadão pode ter um. Acredito que poderemos ter uma democracia tal qual muitos países de primeiro mundo, onde se pode fundar um partido Político na esquina, registrá-lo e pronto, participar das eleições. Se as propostas da agremiação forem boas, vai adiante, se forem ruins, ficam na esquina. Do meu ponto de vista pessoal não há nenhum problema com ideologias a se defender, desde que não interfira na saudável convivência entre seres humanos com ideias e propostas diferentes.
MM: Quais seriam os maiores problemas do Brasil atual que não haveria na região Sul separada?
CD: Creio que já respondemos, mas não custa repetir: centralização de poderes no estado nacional; sistema tributário centralizado e ineficiente; Lei esdrúxula e em excesso, fazendo com que ninguém as saiba e, por isso, não as cumpra. Creio que o combate a pobreza se faz através da luta por geração de empregos para todos. Ninguém aqui do Sul se sente bem ganhando de graça as coisas do governo. O que nossos cidadãos querem é oportunidade de ganhar tudo que precisamos com trabalho, honestamente. Nada mais animador que um trabalhador poder ganhar bem, ser valorizado pelo que faz e sempre que possível, poder pegar sua família e gozar de momentos felizes conquistados com trabalho e dedicação. Abominamos toda e qualquer forma de paternalismo estatal viciante e que leve as pessoas a acreditar que mesmo não fazendo esforço pessoal aquela “ajuda” vai chegar. Neste novo país as pessoas terão consciência de que só com trabalho se pode vencer na vida.
by MM Mídia e Modos
Um comentário:
Muita coisa esclarecida para muitas dúvidas que se ouvem por aí!
Valeu Deucher. . .
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