quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O PT e as autocríticas



Nota: A facção totalitária do PT não está nem aí para autocrítica. Chama isso de “moralismo burguês”. Mas vale acompanhar este movimento dentro do partido.
Zuenir Ventura*
Uma aragem moralizadora está soprando do Sul, vinda de dentro do próprio PT. Primeiro foi o ex-prefeito de Porto Alegre, ex-ministro das Cidades e ex-presidente do partido, Olívio Dutra. Agora é a vez do governador e ex-ministro de Lula Tarso Genro.
Descontentes, ambos criticam a postura da agremiação que ajudaram a fundar por ter abandonado sua original e lendária bandeira da ética. Além de ter sido contra José Genoino assumir o mandato depois de condenado pelo STF (“Tu deverias pensar na tua biografia”), Dutra repetiu a advertência que já tinha feito a Lula sobre o preço que iria pagar “por estar cercado de maus companheiros”, referindo-se à entrega de cargos a torto e a direito sob o pretexto de garantir governabilidade.
Genro, por sua vez, disse essa semana ao repórter Marcelo Remígio, do GLOBO, que “estamos utilizando os métodos de partidos que criticávamos”, e por isso defende a adoção de “regras muito rígidas em relação a seus dirigentes, seus quadros e seus vínculos com as empresas privadas”. Em suma, “o partido precisa passar por uma profunda renovação”.
Ainda que menos incisiva do que a de Dutra, a crítica do governador gaúcho deixa claro que não concorda, por exemplo, com a tentativa de José Dirceu de “estabelecer uma identidade entre seus problemas e os do partido”. Segundo ele, a agenda do PT não pode ser a da “Ação Penal 470, mas sim a da reforma política e do sistema de alianças”.
O que acontecerá com esses dois líderes históricos do petismo após suas autocríticas? Embora sejam atitudes saudáveis, sabe-se que o PT não convive bem com a divergência. Quando isso acontece, ou os dissidentes deixam o partido, como foi o caso de Chico Alencar, Cristovam Buarque, Marina Silva, Plínio de Arruda Sampaio, Cesar Benjamim, Fernando Gabeira, Milton Temer, ou são expulsos, como foram em 2003 a senadora Heloísa Helena e os deputados Luciana Genro (filha de Tarso), João Fontes e João Batista Araújo, o Babá.
Por ironia da história, o mesmo PT que, presidido por Genoino na época, decidiu botar para fora seus colegas por conduta radical, não pretende fazer o mesmo com os quatro recém-condenados pelo STF no processo do mensalão, embora o estatuto preveja a expulsão por “práticas administrativas ilícitas” e “inobservância grave da ética”. Será que “corrupção ativa” não configura ilícito?
Ainda sobre más companhias. Sergio Cabral teve que engolir calado o deboche de Garotinho: “O Eduardo Cunha já foi meu amigo. Hoje não fala comigo e é amigo do Cabral.”
* Artigo de Zuenir Ventura, publicado na edição de 19 de janeiro de 2013, no jornal O Globo
Fonte: www.estemundopossivel.com.br

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