sexta-feira, 11 de maio de 2012

Parente de Cachoeira pagou casa de Perillo



O depoimento do delegado federal Matheus Mela Rodrigues na tarde de ontem à CPI do Cachoeira complicou ainda mais a situação do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e de outros integrantes da cúpula da administração estadual. Além de confirmar encontros e ligações telefônicas entre o tucano e o contraventor Carlinhos Cachoeira, o responsável pelo inquérito da Operação Monte Carlo disse a parlamentares que o contraventor teve participação direta na compra de uma casa do governador tucano.
De acordo com parlamentares que acompanharam as mais de oito horas de sessão, Rodrigues disse que foram usados três cheques de Leonardo Almeida Ramos, sobrinho de Cachoeira, na aquisição do imóvel localizado em Alphaville, condomínio de luxo em Goiânia, que pertencia a Perillo. Foi neste imóvel que o contraventor foi preso no dia 29 de fevereiro, data em que a operação da PF foi desencadeada.
Os três cheques repassados ao governador goiano somavam R$ 1,4 milhão, segundo o delegado federal. Duas folhas eram de R$ 400 mil e a outra de R$ 600 mil. 'Ele confirmou que foram três cheques', disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
Na avaliação do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), as informações do delegado confirmam que o imóvel foi vendido de Perillo para Cachoeira.
'A casa em que ele foi preso pertencia anteriormente a Perillo. Logo, foi uma venda do governador para Cachoeira', afirmou. Ao confirmar ter ouvido do delegado sobre os cheques do sobrinho de Cachoeira para o governador de Goiás, o senador tucano Cássio Cunha Lima (PB) argumentou que a transação mostra que o negócio foi lícito. 'Se houve um cheque, foi um negócio lícito', disse.
A transação foi revelada nos autos da operação. O delegado não apresentou à comissão cópia dos cheques do sobrinho do bicheiro. Esses documentos ainda podem constar do farto material apreendido durante a operação, mas que ainda não foi periciado. O conteúdo apreendido em 28 dos 80 locais de busca e apreensão visitados pela PF no dia da operação ainda não foi sequer tocado.
Em entrevistas logo após a operação, Perillo afirmara que a casa havia sido comprada pelo empresário Walter Paulo Santiago, dono da Faculdade Padrão. O empresário também já confirmou ter adquirido o imóvel.
Oficialmente, no entanto, o imóvel foi vendido para a empresa Mestra Administração e Participações. Conforme o Estado revelou no início do mês, a firma está registrada em nome de supostos laranjas.
Bate-boca. As revelações do delegado fizeram com que o presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), admitisse submeter à votação do colegiado na próxima quinta-feira a revisão do cronograma de trabalho da comissão para permitir a convocação de Perillo. A convocação dos governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Sérgio Cabral Filho (PMDB), do Rio de Janeiro, também poderá ser submetida a votação no dia 17. Todos os requerimentos serão individuais.
A tentativa de convocar o governador de Goiás desencadeou ontem um bate-boca. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e o deputado Silvio Costa (PTB-PE) protagonizaram uma tensa discussão do lado de fora da sessão, na frente da imprensa. Rodrigues era taxativo ao afirmar a necessidade da convocação imediata de Perillo, quando foi interpelado pelo pernambucano. 'Acho que vossa excelência está com problema de audição', disse Costa, após contestar o senador do PSOL. 'Temos opiniões diferentes', contemporizou o Rodrigues.
Em nota, Perillo disse que a venda da casa foi intermediada 'pelo sr. Wladmir Garcêz, que inicialmente se apresentou como comprador do imóvel e, na escrituração, ele disse que o comprador seria o sr. Walter Paulo'. 'Em seguida o sr. Wladmir levou os cheques ao governador. Ele recebeu os cheques, depositou-os nas datas combinadas e só escriturou o imóvel após compensação de todos os cheques. Na época o governador não observou o nome do emitente pois a casa só seria escriturada após a devida quitação.'
Segundo Perillo, 'trata-se de patrimônio pessoal' e a casa foi 'vendida rigorosamente dentro da lei e declarada no Imposto de Renda em uma transação que, absolutamente, nada tem a ver com a atividade pública do governador'. Ele alega que se 'tivesse alguma dúvida' sobre a legalidade e não tivesse 'agido de boa-fé, não teria declarado a venda'.


by Estadao/ COLABOROU EUGÊNIA LOPES

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