sábado, 6 de abril de 2013

Falta de estatísticas no Brasil mascara prejuízos com ataques de cães Pitbulls e rottweilers contabilizaram 84% dos casos de ataques registrados nos EUA



Especialistas divergem sobre a possibilidade de educação alterar o instinto perigoso do animalFoto: Adriana Franciosi / Agencia RBS
Carlos Ferreira

carlos.ferreira@zerohora.com.br
Se as causas do comportamento agressivo dos pitbulls e rottweilers dividem opiniões, não restam dúvidas quanto aos prejuízos por eles causados. Casos como o do menino de cinco anos morto em meados de fevereiro por uma cruza das duas raças, em Capão da Canoa, provam que o melhor amigo do homem pode virar um grande inimigo. Seria possível ter uma visão mais clara do problema – e melhores soluções, portanto – se existissem estatísticas. É o caso dos Estados Unidos, ainda que por fonte não oficial. Levantamento do site www.dogsbite.org relacionou 128 mortes no país por ataques de pitbulls, entre 2005 e 2011.

No ano passado, publica o site, morreram 31 pessoas vitimadas por cães. Pitbulls e rottweilers, juntos, contabilizaram 84% dos casos registrados. A conta dos mortos por pitbulls assusta: 68% tinham entre 32 e 76 anos de idade, com 32% abaixo de cinco anos.

Por aqui, a Secretaria Nacional de Segurança Pública não dispõe de dados sobre ataques de cães, assim como a Brigada Militar. Não há padronização nas ocorrências policiais. Uma mordida pode aparecer como lesão corporal ou até tentativa de homicídio.

Alguns hospitais, porém, apresentam dados. No Hospital de Pronto Socorro (HPS) da Capital, 2.192 pessoas receberam atendimento em 2011 para ferimentos causados por cachorros. Ninguém morreu. Em 2012, contabilizam-se 411 ocorrências no HPS entre 1º de janeiro a 1º de março deste ano, com uma morte – justamente a de Gustavo Luís Gomes de Souza, o menino atacado em Capão.

Na emergência do Cristo Redentor, também na Capital, janeiro e fevereiro registraram 116 vítimas de cães, ou 0,75% dos casos em um universo de 15.450 atendimentos. Não há mortes atribuídas a cães.

"Educação evita problemas", diz especialista

Para a veterinária e doutora em Psicologia Ceres Faraco, o cão deve ser educado para um bom comportamento. E desde cedo: o animal tem uma fase de socialização muito precoce, das oito às 13 semanas de idade.

É um ponto de vista também defendido pelo presidente da Associação Brasileira dos Adestradores de Cães (Abrasc), Edison Vieira. Para ele, a culpa pela agressividade deve ser atribuída à falta de conhecimento dos criadores.

– O pitbull que ataca não é tão agressivo assim. A pessoa é que estimula o cachorro à agressividade – pondera Vieira.

– Poucos são os animais que têm agressividade tão intensa por característica herdada. Houve problemas de socialização – aponta Ceres.

Ela sustenta o ponto de vista apoiado em estudos como o seguinte, feito no Japão. De um grupo de 31 cães, 10 tiveram contato com crianças quando tinham entre três e 12 semanas. Pouco alteraram comportamento e frequência cardíaca. Outros 11 cachorros, maiores de quatro meses, registraram aumento no ritmo de batimentos na mesma situação. Para 10 cães adultos, a convivência gerou inquietude.

Com 48 anos de experiência em adestramento, inclusive pela Polícia Militar de São Paulo, Vieira defende padrões de ensinamento. Assegura ser possível dominar um cão enquanto novo, mas reconhece dificuldades quando ele passa de um ano e meio de idade.

– Se a pessoa não quer que o cachorro morda os móveis de casa, não dê brinquedos de madeira. Se não quer que morda a cortina, não dê tecido. Se o cachorro atacar e o dono achar que é legal, estimula a agressividade – afirma.

Ceres concorda com outros exemplos, como permitir que o filhote pule nas pernas só porque é agradável. É preciso ensiná-lo o que será permitido e proibido no futuro. Mais: isso evitará dissabores e ajudará a manter o cão satisfeito.

A felicidade canina, acredite, conta muito na prevenção de ataques. Conforme Ceres, estudos comprovam aumento na agressividade em decorrência de punições ou maus-tratos. Patologias como disfunção do córtex pré-frontal, hidroencefalia, hipotireoidismo e dores também entram na conta de fatores agravantes. Ou seja: às vezes, o problema está em o dono se dar conta das agruras do cão.

– O fato de as pessoas não perceberem motivos não quer dizer que não existam – insiste Ceres.

Daí a importância do adestramento, diz Vieira. A média é de três a seis meses de trabalho. O custo varia conforme a região da cidade atendida – ele fala de São Paulo –, mas gira entre R$ 300 a R$ 700 por mês.

– A grande realidade é a falta de informação que as pessoas têm quando vão criar cachorro – reclama Vieira.

"Melhor não ter cachorro grande"

Afastar um cão feroz do convívio das pessoas pode ser mais eficaz do que tentar educá-lo. É o que defende Katherine Albro Houpt, professora emérita do curso de veterinária da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, considerado o melhor do país, e especialista em comportamento animal. Em entrevista a ZH, por telefone, ela respondeu de maneira simples quando perguntada sobre casos de cães de grande porte envolvidos com ataques.

– Então não tenha um cão grande.

Ela prosseguiu com o raciocínio:

– Há comunidades que proíbem cachorros com mais de 30 libras (13,6 quilos). E se você tem um cão grande, e ele mostrou ferocidade, há uma coisa simples a se fazer: não o deixe solto para que ele não morda ninguém.

Embora pitbulls e rottweilers liderem estatísticas sobre ataques, a professora americana não vê dados suficientes para determinar a mistura de raças como influência relevante no grau de agressividade do animal. Crê em uma tendência geral capaz de tornar os cães perigosos: falta de treinamento e cuidados.

O presidente do Kennel Club do Rio Grande do Sul, Victor Hugo Souza Leal, pensa um pouco diferente sobre a influência genética. Vende o peixe ao lembrar o histórico até o surgimento do American pitbull terrier, espécie de embaixador da ferocidade canina. Conta ele que, nos anos 30, americanos separaram os filhotes mais agressivos de uma mistura de terrier com buldogue para nova cruza. Escolheram a virulência como se fosse gene, e deram origem aos pitbulls:

– O problema do pitbull é a mordida de duas toneladas e a abertura de boca imensa. Às vezes, o pitbull é imprevisível.

Se fosse por Victor Hugo, os pitbulls não seriam criados. Jurado em exposições nacionais e internacionais e responsável por certificar animais, reforça a ausência de reconhecimento da raça por entidades. Culpa da agressividade. Para o presidente do Kennel, os donos devem refletir sobre o fim destinado ao cão: recreação, vigilância etc. Houpt concorda:

– Muita gente encoraja a agressividade porque tem o cão para proteção. Mas ele não irá diferenciar os criminosos dos seus amigos. Será agressivo no geral.

Ela atribui as mordidas a diversas circunstâncias. Fala em proteção à comida ou ao local de descanso, além de medo e marcação de território. E endurece ao não isentar os donos de responsabilidade.

– As pessoas costumam dar desculpas para os cachorros: eles não gostam de pessoas que usam chapéus pretos, que vêm do noroeste... Elas não deveriam fazer isso. Deveriam ter o cão sob controle, preso – salienta.

by ZH

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