Campanhas eleitorais são ganhas com o melhor marketing que o dinheiro pode comprar.
Foi assim com Collor em 1989, Lula em 2012 e, pelo menos até uma semana atrás, com a Presidente Dilma Rousseff.
Mas na era do Complexo Facebook-Google-Whatsapp, um bando de garotos munidos de laptops, bebendo água e suco e programando freneticamente estão conseguindo — de graça — fazer o contraponto virtual à cara e primorosa (honestidade intelectual à parte) campanha do PT.
Os jovens aecistas cybermilitantes se reúnem numa espécie de confraria chamada Turma do Chapéu. São cerca de cinquenta membros “atuantes e rotativos”, a maior parte em Minas e São Paulo, tradicionais redutos tucanos.
Essa semana, a Turma do Chapéu jogou na internet duas iniciativas que aumentaram a autoestima dos aecistas numa campanha marcada por seu complexo de inferioridade em relação ao talento do marketeiro de Dilma, João Santana, o homem que já elegeu seis presidentes.
Na quarta-feira, a Turma do Chapéu colocou no ar o Aécio de Verdade — um site que desconstrói o que os garotos chamam de “mentiras” do PT contra seu candidato.
Na quinta, um membro da Turma cercou Aécio no Rio e gravou o vídeo caseiro que se viralizou no Whatsapp nas 24 horas seguintes. No vídeo, Aécio fala olhando para a câmera do celular e convida o “pessoal desse grupo de Whatsapp” a “combater as mentiras com a verdade.” O texto-base foi feito pelos garotos de Minas, que juram que Aécio também improvisou um pouco. (Nota: Se você ainda não recebeu este vídeo no celular, você provavelmente só tem amigos petistas.)
No Twitter, Vinícius Melo Justo, eleitor de Aécio, comentou: “O vídeo do Aécio para o Whatsapp é, na minha opinião, a primeira bola-dentríssimo da campanha do PSDB.”
Já um eleitor de Dilma… “Aceito de boas no whatsapp essas correntes, orações, imagens santas, Chapolin Sincero… Mas se mandar esse vídeo do aecio é block na hora.”
Os quatro jovens que fizeram o site e o vídeo são Alberto Lage (20 anos), Marcel Beghini (22), Guilhermina Abreu (21) e Sam Jovana (24).
“A ideia do site surgiu em uma reunião de voluntários da campanha do Aécio na segunda-feira à noite,” diz Lage. “Quando fiquei sabendo que não havia nenhum plano para combater a onda de mentiras, fiquei indignado e mobilizei esses amigos.”
O site foi feito na madrugada de terça para quarta em BH. Sabendo que a noite ia ser longa, os guerrilheiros digitais passaram num mercado do lado de casa para se abastecer. Lage tomava água e comia pé de moleque. Jovana se alternava entre água e suco. Abreu comia batata chips. E Beghini, que estuda à noite, chegou mais tarde, direto da aula, com um pacote de viagem do McDonald’s.
Lage e Jovana são filiados ao PSDB de Minas; os outros dois, não. Lage é parente distante do Padre Lage, um dos fundadores do PT em Minas Gerais — fato sempre relembrado pela família quando querem atormentar o garoto.
Lage está no sétimo período de direito na UFMG. O pai é professor da UFMG e a mãe, da PUC. Nenhum deles ocupa cargo público comissionado. Beghini fez jornalismo na PUC e agora cursa Direito. Abreu estuda direito no IBMEC pelo PROUNI e, além da Turma, participa do Embaixadores de Minas, um movimento voluntário de ex-alunos de escolas públicas que tentam devolver algo à sociedade. Jovana é formada em Design pela UEMG.
A Turma do Chapéu já atuou na campanha de 2010, quando trabalharam para José Serra (contra Dilma) e para Antonio Anastasia, que concorria ao Governo de Minas. Foi o próprio Anastasia quem, involuntariamente, batizou o grupo. No evento de lançamento de sua candidatura, os jovens combinaram de ir de chapéu para ficar mais fácil de se encontrar no meio da multidão. Ao vê-los de cima do palco, Anastasia saudou a militância jovem: “Está aqui a turma do chapéu,” disse no microfone.
Começou aí uma relação mais profunda com o PSDB. Nos dois anos seguintes, o Instituto Teotônio Vilela, órgão de formação política do PSDB, bancou três viagens da Turma pelo Brasil. O objetivo era produzir um documentário falando dos problemas nacionais e entrevistando lideranças locais. A ideia era falar só com políticos tucanos, mas como a política é a arte do improviso, os garotos saíram um pouco do script. Em Tocantins, falaram com o pessoal do PT. Em Sergipe, com o PSB. Em Rondônia, com o PMDB.
Nesta campanha, a Turma não passou o chapéu para receber nada do PSDB. “Nós nunca recebemos salário ou qualquer forma de remuneração, mas o PSDB já cobriu os custos de projetos anteriores,” diz Lage. “Mas neste caso, não houve um pedido da campanha. Estamos gastando o nosso.”
Como é natural, Lage comemorou o sucesso dos últimos dias com a métrica típica da Geração Y:
“Eu vivi pra ver um projeto meu saindo no YouPix como ‘genial’ hahahah”, tuitou ele na sexta-feira.
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PS: Se você só tem amigos petistas, segue o vídeo.
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