terça-feira, 26 de junho de 2012

Por que Lula faria uma aliança com Marcola e Fernandinho Beira-Mar, segundo as suas próprias palavras




Luiz Inácio Lula da Silva foi a grande estrela do encontro de ontem entre Fernando Haddad e representantes do PC do B, que selou o apoio desse partido à candidatura do petista à Prefeitura de São Paulo. Queriam o quê? Não seria Haddad a brilhar! O pagodeiro Netinho era o pré-candidato dos comunistas do Brasil, mas retirou seu pleito. Segundo apurou Thaís Arbex, da VEJA Online, o cantante exigiu participar ativamente do horário eleitoral — conta ser o candidato ao Senado em 2014, com o apoio dos petistas — e arrancou mais do Babalorixá de Banânia. O ex-presidente prometeu se empenhar para arrumar um programa de TV para o pagodeiro em alguma grande emissora.

Vocês leram direito, sim! Por certo, não estão bêbados. O Poderoso Lula já sai por aí negociando a grade da programação de emissoras privadas de televisão como parte de seus arranjos políticos. CREIAM: NÃO É NOVIDADE! Ele já arrumou emprego em TVs (inclusive a pública), rádios e jornais para jornalistas amigos. Por que não faria o mesmo por Netinho, né? “Se é emissora privada, Reinaldo, fazer o quê?” Não é bem assim, não! Antes de mais nada, trata-se concessões públicas. Se elas entram como moeda de troca do PT, não é difícil achar aí um crime. Sigamos.

Lula, para não variar, meteu os pés pelas mãos e mistificou à vontade. Indagado se estava arrependido de ter tirado aquela foto no jardim das delícias de Paulo Maluf, soltou um “de jeito nenhum!” E resumiu aquela que, para ele, é a natureza do embate: para ele, a eleição é um confronto entre os tucanos e os que não são tucanos. Entenderam? Então chegamos ao título. Fernandinho Beira-Mar não é tucano. Segundo a clivagem estabelecida por esse grande pensador, serve para a batalha. Marcola, do PCC, não é tucano — aliás, o partido do crime já deu mostras de não gostar do tucanato. Está igualmente apto para a luta. Em 2006, com os ataques organizados contra São Paulo, uma coisa se pode afirmar com segurança: se ele não estava fazendo campanha para Lula, é fato que estava fazendo campanha contra Geraldo Alckmin, que disputava a Presidência, e contra José Serra, que disputava o governo de São Paulo.

Pensemos um poucoVamos pensar um pouquinho. Lula acha, sim, que isso é verdade. Mas atenção! Trata-se de uma verdade que, nas disputas não-presidenciais, vale apenas para São Paulo. PT e PSDB se juntaram, por exemplo, em Belo Horizonte para eleger o prefeito Márcio Lacerda (PSB) em 2008. E estarão juntos de novo em 2012. Ali, não se trata, então, de um confronto entre “tucanos e quem não é tucano”, certo? A máxima enunciada por Lula tem validade apenas em São Paulo, capital e estado. A cidade é vista como primeiro passado para a ambicionada conquista do Palácio de Inverno: o Palácio dos Bandeirantes. É lá que o PT pretende chegar. E Lula está dizendo que, para isso, vale tudo.

Ainda farei este levantamento com mais vagar, mas o PT fez muitas concessões nas capitais dos estados. E nem sempre o critério — Belo Horizonte o prova — é alijar um partido que esteja na oposição em escala nacional. Há aliança até com o DEM. E por que o bicho pega em São Paulo? Por um conjunto de motivos. Os bilhões da cidade e do estado fazem tremer o coração do petismo. Estamos falando de um terço do PIB. Também é em São Paulo que está uma boa parcela da massa crítica que pode formular uma alternativa ao petismo como projeto de poder. Onde eles não veem ameaça à hegemonia que pretendem construir, há aliança e convivência amistosa. Por aqui, isso é impossível. Daí, então, o vale-tudo; daí o raciocínio fabuloso de Lula: tudo o que contribuir para derrotar tucanos, sem limites, está valendo.

Assim, acho que Lula está sendo absolutamente sincero quando diz que não está minimamente arrependido da foto tirada ao lado de Maluf. Nem haveria por quê. O Apedeuta não tem lições de moral a dar ao outro. A diferença entre eles é a que existe entre o amador (Maluf) e o profissional (Lula). Ao dar a sua fórmula, Lula está dizendo que homens como Montoro, Mário Covas, Serra e Alckmin fizeram e fazem mal a São Paulo. Já um Paulo Maluf é parte da construção do bem.

Volto ao título para arrematar. Diria o leitor amigo e prudente: “Calma aí, Reinaldo, ele falou que a luta é entre tucanos e não-tucanos, mas não afirmou que se aliaria até a bandidos”.

Hein? O quê? Como assim? Andou bebendo, leitor amigor e prudente???

Por Reinaldo Azevedo

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