Vladimir Herzog
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Vlado Herzog (Osijek, 27 de junho de 1937 — São Paulo, 25 de outubro de 1975) foi um jornalista, professor e dramaturgo nascido na Croácia (à época ainda parte do Reino da Iugoslávia), mas naturalizado brasileiro. Vladimir também tinha paixão pela fotografia, atividade que exercia por conta de seus projetos com o cinema.[1] Passou a assinar "Vladimir" por considerar seu nome muito exótico nos trópicos.
Vladimir tornou-se famoso pelas consequências que sofreu devido às suas conexões com a luta comunista contra a ditadura militar, autodenominada movimento de resistência contra o regime do Brasil, e também pela sua ligação com o Partido Comunista Brasileiro. Sua morte causou impacto na ditadura militar brasileira e na sociedade da época, marcando o início de um processo pela redemocratização do país.[1][2] Segundo o jornalista Sérgio Gomes, Vladimir Herzog é um "símbolo da luta pela democracia, pela liberdade, pela justiça."[4]
Biografia Heitor Herzog
Primeiros anos
Herzog nasceu na cidade de Osijek, em 1937, na Iugoslávia (atual Croácia), filho de um casal Judeu: Zigmund e Zora Herzog. Com o intuito de escaparem do Estado Independente da Croácia (estado fantoche controlado pela Alemanha Nazista e pela Itália Fascista), o casal decidiu emigrar, com o filho, para o Brasil, na década de 1940.
Educação e carreira
Herzog se formou em Filosofia pela Universidade de São Paulo em 1959. Depois de formado, trabalhou em importantes órgãos de imprensa no Brasil, notavelmente no O Estado de S. Paulo. Nessa época, resolveu passar a assinar "Vladimir" ao invés de "Vlado" pois acreditava que seu nome verdadeiro soava um tanto exótico no Brasil.[2] Vladimir também trabalhou por três anos na BBC de Londres.
Na década de 1970, assumiu a direção do departamento de telejornalismo da TV Cultura, de São Paulo. Também foi professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e, nessa época, também atuou como dramaturgo, envolvido com intelectuais de teatro. Em sua maturidade, Vladimir passou a atuar politicamente no movimento de resistência contra a ditadura militar no Brasil de 1964-1985, como também no Partido Comunista Brasileiro.
[Prisão e morte
Em 24 de outubro de 1975 — época em que Herzog já era diretor de jornalismo da TV Cultura — agentes do II Exército convocaram Vladimir para prestar depoimento sobre as ligações que ele mantinha com o Partido Comunista Brasileiro (que era proibido pela ditadura).[5][6][7] No dia seguinte, Herzog compareceu ao pedido. O depoimento de Herzog era dado por meio de uma sessão de tortura.[5] Ele estava preso com mais dois jornalistas, George Benigno Duque Estrada e Rodolfo Konder, que confirmaram o espancamento.[5]
No dia 25 de Outubro, Vladimir foi encontrado enforcado com a gravata de sua própria roupa. Embora a causa oficial do óbito, divulgada pelo governo ditatorial da época, seja suicídio por enforcamento, há consenso na sociedade brasileira de que ela resultou de tortura, com suspeição sobre servidores do DOI-CODI, que teriam posto o corpo na posição encontrada, pois as fotos exibidas mostram Vlado enforcado.[5] Porém, nas fotos divulgadas há várias inverossimilhanças. Uma delas é o fato de que ele se enforcou com um cinto, coisa que os prisioneiros do DOI-CODI não possuíam. Além disso, suas pernas estão dobradas e no seu pescoço há duas marcas de enforcamento, o que mostra que supostamente sua morte foi feita por estrangulamento.[5] Na época, era comum que o governo militar ditatorial divulgasse que as vítimas de suas torturas e assassinatos haviam perecido por "suicídio", o que gerava comentários irônicos de que Herzog e outras vítimas haviam sido "suicidados pela ditadura".
Pós-morte
Vladimir era casado com a publicitária Clarice Herzog, com quem tinha dois filhos. Com a morte do marido, Clarice passou por maus momentos, com medo e opressão e teve que contar para os filhos pequenos o que havia ocorrido com o pai.[8] A mulher, três anos depois, conseguiu que a União fosse responsabilizada, de forma judicial, pela morte do esposo.[8] Ainda sem se conformar, ela diz que "Vlado contribuiria muito mais para a sociedade se estivesse vivo".[8]
Gerando uma onda de protestos de toda a imprensa mundial, mobilizando e iniciando um processo internacional em prol dos direitos humanos na América Latina, em especial no Brasil, a morte de Herzog impulsionou fortemente o movimento pelo fim da ditadura militar brasileira.[9] Após a morte de Herzog, grupos intelectuais, agindo em jornais e etc., e grupos de atores, no teatro, como também o povo, nas ruas, se empenharam na resistência contra a ditadura do Brasil.[9][10] Diante da agonia de saber se Herzog havia se suicidado ou se havia sido morto pelo Estado, criaram-se comportamentos e atitudes sociais de revolução.[9] Em 1976, por exemplo, Gianfrancesco Guarnieri escreveu Ponto de Partida, espetáculo teatral que tinha o objetivo de mostrar a dor e a indignação da sociedade brasileira diante do ocorrido.[11] Segundo o próprio Guarnieri:
[...] Poderosos e dominados estão perplexos e hesitantes,impotentes e angustiados. Contendo justos gestos de ódio e revolta, taticamente recuando diante de forças transitoriamente invencíveis. Um dia os tempos serão outros. Diante de um homem morto, todos precisam se definir. Ninguém pode permanecer indiferente. A morte de um amigo é a de todos nós. Sobre tudo quando é o Velho que assassina o Novo.[12]
Legado
Em 2009, mais de 30 anos após a morte de Vladimir, surge o Instituto Vladimir Herzog. O Instituto destina-se a três objetivos: organizar todo o material jornalístico sobre a história de Vladimir, como meio de auxílio a estudantes, pesquisadores e outros interessados em sua vida e obra;[13] promover debates sobre o papel do jornalista e também discutir sobre as novas mídias,[13] e, por fim, ser responsável pelo Prêmio Jornalistico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, que premia pessoas envolvidas no jornalismo e na promoção dos direitos humanos.[13]
Notas
- ↑ a b Quem foi Vladimir Herzog, no Instituto Vladimir Herzog. Acesso: 14 de fevereiro, 2009
- ↑ a b c Daelcio Freitas. "Jornalista morto pelo regime militar: Vladimir Herzog", em Uol Educação. Acesso: 14 de fevereiro, 2009
- ↑ Biografia Wladimir Herzog Museu da Televisão Brasileira
- ↑ Gabriela Forte, "28ª EDIÇÃO DO PRÊMIO VLADIMIR HERZOG" (2006), em Faculdade Cásper Líbero. Acesso: 14 de fevereiro, 2009
- ↑ a b c d e Sem nome. "[Herzog, torturado e morto em outubro de 1975 http://www.unificado.com.br/calendario/10/herzog.htm]". Acesso: 14 de fevereiro, 2009
- ↑ "Nos Tempos da Ditadura". Acesso: 7 de Novembro, 2009.
- ↑ "PC DO B ". Acesso: 7 de Novembro, 2009.
- ↑ a b c Luiza Villaméa, "A memória e o silêncio", em IstoÉ Online. Acesso: 14 de fevereiro, 2009
- ↑ a b c Ludmila Sá de Freitas, Quando a História Invade a Cena: O Caso Vladimir Herzog (Re)Significado Por Fernando Peixoto em Ponto de Partida (1976) de G. Guarnieri, p. 1
- ↑ Ludmila Sá de Freitas, Quando a História Invade a Cena: O Caso Vladimir Herzog (Re)Significado Por Fernando Peixoto em Ponto de Partida (1976) de G. Guarnieri, p. 3
- ↑ Ludmila Sá de Freitas, Quando a História Invade a Cena: O Caso Vladimir Herzog (Re)Significado Por Fernando Peixoto em Ponto de Partida (1976) de G. Guarnieri, p. 2
- ↑ GUARNIERI, Gianfrancesco. Homenagem a Vladimir Herzog: Vlado, o Ponto de Partida. [www.fpabramo.org.br/especiais/vlado/apresentacao.htm Página Especial da Fundação Perseu Abramo].
- ↑ a b c Instituto Vladimir Herzog: Primeira Página. Acesso: 14 de fevereiro, 2009.
Leitura adicional
- ALMEIDA FILHO, Hamilton. A sangue quente: a morte do jornalista Vladimir Herzog. São Paulo: Alfa-Ômega, 1986
- JORDÃO, Fernando Pacheco. Dossiê Herzog. Global, 1979.
- GASPARI, Elio. A Ditadura Encurralada. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
- MARKUN, Paulo. Vlado: retrato de um homem e de uma época. São Paulo: Brasiliense, 1975.
- MARKUN, Paulo. Meu querido Vlado: a história de Vladimir Herzog e do sonho de uma geração. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.
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