domingo, 14 de setembro de 2025

Niilismo Ativo x Niilismo Passivo: O Diagnóstico de Nietzsche Para o Mundo Atual


by Deise Brandão

Um diagnóstico de crise

No coração da filosofia de Nietzsche, o niilismo não é só uma ideia abstrata: é um diagnóstico da doença do homem moderno. Para ele, a história do Ocidente, de Platão ao cristianismo, criou valores que negaram a vida e projetaram o sentido para além do mundo real. Esse processo gerou uma crise de significado que o filósofo chamou de “morte de Deus” — o colapso dos valores supremos que sustentavam a civilização.

Dois tipos de niilismo

O estudo de Michelle Ferreira de Lima, publicado na Revista Paranaense de Filosofia, destaca como Nietzsche divide o niilismo em duas forças:

  • Niilismo Passivo: sinal de fraqueza, cansaço e resignação. Manifesta-se quando a pessoa percebe que os antigos valores perderam sentido, mas se refugia em paliativos — religião, consumo, ideologias — para anestesiar a falta de sentido.

  • Niilismo Ativo: sinal de força e criação. Aqui, o indivíduo não foge da crise, mas a encara como oportunidade para destruir velhos valores e criar novos, elevando-se a uma existência mais livre e desalienada..

A negatividade produtiva

Nietzsche não via o niilismo como um fim, mas como um estado intermediário — um “passar pelo fogo”. O niilismo ativo, ao contrário do passivo, é negatividade produtiva: uma força de destruição que abre espaço para novos sentidos. É o antídoto feito do próprio veneno.

Por que isso importa hoje

O contraste entre niilismo passivo e ativo ressoa fortemente no presente:

  • Redes sociais e consumo podem ser vistos como formas modernas de niilismo passivo: dopamina rápida, discursos prontos, crenças fáceis.

  • Arte, ativismo criativo e inovação são expressões possíveis do niilismo ativo: quebrar paradigmas, criar novas narrativas, reinventar valores.

Assim como Nietzsche propunha “acelerar o curso” para enfrentar o niilismo até o fim, vivemos uma era em que crises ambientais, políticas e tecnológicas exigem escolher entre declínio lento e ruptura criativa.

O convite de Nietzsche

Em vez de fugir do vazio, Nietzsche convida a transformá-lo em potência criadora. Criar novos valores, novas formas de viver e de pensar. Como ele próprio escreveu, “quem nada cria, cria um nada”.

No século XXI, o niilismo nietzschiano não é apenas um conceito acadêmico: é um alerta. Ele nos desafia a perceber que o mundo não tem sentido “pronto” e que, diante disso, temos duas escolhas: anestesiar a crise (passivo) ou transformá-la em arte, ação e novos valores (ativo). A questão não é se haverá niilismo, mas como vamos atravessá-lo.

Nenhum comentário:

Em Alta

Niilismo Ativo x Niilismo Passivo: O Diagnóstico de Nietzsche Para o Mundo Atual

by Deise Brandão Um diagnóstico de crise No coração da filosofia de Nietzsche, o niilismo não é só uma ideia abstrata: é um diagnóstico d...

Mais Lidas