by Deise Brandão
Um diagnóstico de crise
No coração da filosofia de Nietzsche, o niilismo não é só uma ideia abstrata: é um diagnóstico da doença do homem moderno. Para ele, a história do Ocidente, de Platão ao cristianismo, criou valores que negaram a vida e projetaram o sentido para além do mundo real. Esse processo gerou uma crise de significado que o filósofo chamou de “morte de Deus” — o colapso dos valores supremos que sustentavam a civilização.
Dois tipos de niilismo
O estudo de Michelle Ferreira de Lima, publicado na Revista Paranaense de Filosofia, destaca como Nietzsche divide o niilismo em duas forças:
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Niilismo Passivo: sinal de fraqueza, cansaço e resignação. Manifesta-se quando a pessoa percebe que os antigos valores perderam sentido, mas se refugia em paliativos — religião, consumo, ideologias — para anestesiar a falta de sentido.
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Niilismo Ativo: sinal de força e criação. Aqui, o indivíduo não foge da crise, mas a encara como oportunidade para destruir velhos valores e criar novos, elevando-se a uma existência mais livre e desalienada..
A negatividade produtiva
Nietzsche não via o niilismo como um fim, mas como um estado intermediário — um “passar pelo fogo”. O niilismo ativo, ao contrário do passivo, é negatividade produtiva: uma força de destruição que abre espaço para novos sentidos. É o antídoto feito do próprio veneno.
Por que isso importa hoje
O contraste entre niilismo passivo e ativo ressoa fortemente no presente:
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Redes sociais e consumo podem ser vistos como formas modernas de niilismo passivo: dopamina rápida, discursos prontos, crenças fáceis.
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Arte, ativismo criativo e inovação são expressões possíveis do niilismo ativo: quebrar paradigmas, criar novas narrativas, reinventar valores.
Assim como Nietzsche propunha “acelerar o curso” para enfrentar o niilismo até o fim, vivemos uma era em que crises ambientais, políticas e tecnológicas exigem escolher entre declínio lento e ruptura criativa.
O convite de Nietzsche
Em vez de fugir do vazio, Nietzsche convida a transformá-lo em potência criadora. Criar novos valores, novas formas de viver e de pensar. Como ele próprio escreveu, “quem nada cria, cria um nada”.
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