by Deise Brandão
Lesões na medula espinhal causam perda parcial ou total de função motora e/ou sensação abaixo do nível da lesão. Cientistas vêm estudando várias abordagens: células-tronco, estimulação elétrica, dispositivos de reabilitação combinados. Embora ainda não haja “cura universal”, há resultados animadores em humanos, com melhorias funcionais importantes.
Estudos mais recentes e estatísticas
1. ARC-EX Therapy: estimulação elétrica
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Um ensaio clínico multicêntrico recente com 60 participantes com lesão cervical crônica (braço/pulso) avaliou a terapia chamada ARC-EX. Nature
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Resultados:
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72% dos participantes tiveram melhora acima do limiar mínimo considerado clinicamente significativo em ambas as áreas de força e desempenho funcional da mão e do braço. Nature
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Também houve melhora significativa na força de “pinça” entre dedos, preensão e sensibilidade. Nature
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Nenhum evento adverso grave relacionado ao dispositivo foi reportado. Nature+1
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Importância: mostra que estimulação elétrica externa + reabilitação pode recuperar funções mesmo em lesões crônicas. Nature+1
2. Terapia com células-tronco
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Meta-análise (BMC Medicine, 2022): revisou 62 estudos envolvendo 2.439 pacientes com lesão medular tratados com diferentes tipos de células-tronco. BioMed Central
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Aproximadamente 48,9% dos pacientes apresentaram melhora de pelo menos um grau na escala ASIA (escala de gravidade da lesão medular) após tratamento com células-tronco. BioMed Central
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Funções urinárias melhoraram em ~ 42,1% dos casos. BioMed Central
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Funções gastrointestinais melhoraram em ~ 52,0% nos casos avaliados. BioMed Central
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Efeitos adversos foram comuns, mas majoritariamente menores (espasmos musculares, dor neuropática, sintomas transitórios). Nenhum tumor relatado nos seguimentos curtos/médios. BioMed Central
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Estudo da Mayo Clinic (fase 1) com células mesenquimais derivadas de tecido adiposo: 10 adultos com lesão traumática medular. Mayo Clinic News Network
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7 dos 10 participantes tiveram melhoria na escala ASIA: sensação (ponta de agulha, toque leve), força em músculos motores, recuperação de contração voluntária relevância para função intestinal ou anal. Mayo Clinic News Network
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O estudo confirmou que o uso foi seguro, sem grandes eventos adversos. Mayo Clinic News Network
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3. Novos ensaios clínicos de fase inicial
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Griffith University (Austrália) iniciou recentemente um ensaio fase 1 para lesões crônicas com uso de olfactory ensheathing cells (células de revestimento olfatório, vindas do nariz). News-Medical
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Objetivo: avaliar segurança e efeitos funcionais (movimento dos dedos, função de bexiga/intestino, etc.). News-Medical
O que ainda falta / limites
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Muitas das melhorias observadas não correspondem a recuperação total, e variam muito entre pacientes.
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O tempo entre a lesão e o tratamento influencia bastante: tratamentos iniciados logo após a lesão tendem a apresentar melhores resultados.
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Número de participantes ainda é pequeno em muitos estudos; seguimento (tempo de observação) muitas vezes é curto.
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Há variabilidade em tipos de células, método de administração, intensidade/tempo da reabilitação, que dificulta comparações.
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Segurança: embora não haja eventos graves nos estudos recentes maiores, efeitos menores são comuns; precisamos de seguimento para ver efeitos a longo prazo (por décadas).
Para leitores interessados:
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Já é real que células-tronco, estimulação elétrica externa (como ARC-EX) e novos protocolos de reabilitação combinados estão dando resultados mensuráveis.
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Podemos dizer que ~ metade dos pacientes submetidos a terapia com células-tronco podem experimentar ao menos uma melhora modesta (pelo menos 1 grau na escala ASIA).
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Importante sublinhar: melhorias sensoriais e motoras são mais frequentes do que recuperação completa da mobilidade.
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Segurança geral parece aceitável nos estudos menores; porém é necessário cuidado e mais observação, especialmente para efeitos tardios.
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