terça-feira, 24 de junho de 2025

A tragédia que escolhe e a tragédia que impõe

 



by Deise Brandão

Nos últimos dias, o Brasil parou para acompanhar a história de uma brasileira que despencou mais de 600 metros num vulcão ativo, no estrangeiro. Fotos, vídeos, orações, teorias místicas, hashtags.
Um acidente? Sim. Uma fatalidade? Também. Mas, sobretudo, uma escolha.

Ela escalou o vulcão. Ela subiu sabendo dos riscos. A morte foi dela.
Escolhida, planejada ou não, mas dela.

Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, meu estado afunda.
De novo.
De novo e de novo.

Gente morre afogada, ilhada, enlameada — sem ter escolhido nada.
Não subiram morro algum por conta própria. Não buscaram adrenalina. Só queriam viver. Comer. Criar seus filhos.
E morreram. De novo. Sem escolha. Sem chance.

Mas ninguém faz vigília no Instagram por eles.
Ninguém escreve poemas místicos sobre essas mortes ordinárias demais para virar notícia de novela.

E agora, vem o que muitos não querem ver:
Vai faltar comida.
O agro no RS está parando.
Estradas ruíram, lavouras apodreceram, criações foram dizimadas.
A tragédia muda de fase.
Sai da enchente e entra na fome.

E o país, distraído com a tragédia espetacular de uma queda no exterior, não vê o desabamento silencioso do chão onde planta o seu próprio sustento.

Deus talvez até esteja cansado.
Cansado de tentar operar milagres num planeta que desdenha da vida comum.
Porque não é ele quem abandona o povo nas águas — é a política, a ganância, a negligência.
E talvez, se a humanidade não estivesse fazendo tanta merd@ ao mesmo tempo, ele até conseguisse intervir.

Mas do jeito que está, nem milagre dá conta.

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