A capital do estado mais castigado pelas enchentes no país está novamente à beira do colapso, com o Guaíba atingindo nesta terça a cota de inundação: 3 metros. E o que faz o poder público? Empilha sacos de areia.
É isso mesmo. Em 2025, com bilhões liberados em nome da “reconstrução”, a capital gaúcha ainda depende de sacos de areia para conter a água. As comportas do Cais Mauá, que deveriam estar em pleno funcionamento, seguem emperradas — algumas jamais foram abertas, outras nunca passaram por manutenção séria. A omissão é tão escancarada que já não se trata de incompetência. Trata-se de crime.
Porque é crime quando o dinheiro público some no caminho das empreiteiras e dos contratos emergenciais. É crime quando a negligência institucional coloca vidas em risco. É crime quando o governador Eduardo Leite assina decretos, dá entrevistas, mas não entrega a estrutura mínima de proteção para sua capital. É crime quando o governo federal age como se bastasse liberar verba — sem fiscalizar onde e com quem ela vai parar.
E mais grave: onde está o Ministério Público? Onde estão as ações civis públicas, as investigações, os pedidos de responsabilização? A Câmara dos Deputados gaúcha, por sua vez, silencia ou normaliza o desmonte da política ambiental, da defesa civil e da infraestrutura. Parte da elite política do estado já lucrou com a primeira enchente. Agora aposta que o povo vai esquecer a segunda.
Mas o povo não esquece. Canoas, São Leopoldo, Eldorado, Guaíba, bairros inteiros de Porto Alegre — não são áreas de risco tradicionais, não são vilas à beira de arroios. São zonas urbanas, bairros inteiros afundando por falha sistêmica, por irresponsabilidade ativa. A repetição da tragédia não é coincidência: é projeto.
Enquanto isso, as mesmas autoridades que prometeram reconstrução, agora fingem surpresa. Mas o que está acontecendo no Rio Grande do Sul não é um fenômeno natural isolado: é o reflexo de décadas de sucateamento, privatizações, omissão e corrupção. E agora, em meio à água suja que sobe pelas ruas da capital, sobe também a indignação.E que ninguém se engane: chegamos até aqui também pela omissão dos maiores prejudicados. O povo gaúcho, que carrega nas costas o peso da reconstrução, precisa lembrar que soberania não é só palavra bonita na Constituição — é direito, mas também é dever.
Não é só a água que avança — é a vergonha. A indignação. A vontade de fazer Justiça, quando quem deveria se omite, se vende, participa da miséria nao escolhida pelo povo, mas patrocinada integralmente pelo chamado SOBERANO.
Não podemos mais aceitar a repetição do desastre como se fosse destino. A tentativa é livre. A reação também. E se o Estado falha, que o povo acorde. Porque quando a gente cala, eles continuam lucrando. E afogando a gente junto.
Porque a população gaúcha pode ser solidária, resistente, trabalhadora — mas não é burra. E está vendo, mais uma vez, quem lucra com a dor. E quem deveria estar preso.
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