domingo, 9 de maio de 2021

Funcionário de prefeitura gaúcha faz trade na Bolsa com orçamento da cidade e perde R$ 8 milhões

Várias transferências de até R$ 50 mil foram feitas para conta pessoal

por Wagner Riggs
03 Maio, 2021



O acusado de peculato Simão Justo dos Santos (Imagem: Reprodução)


Um funcionário da prefeitura de Dom Pedro de Alcântara, município do Rio Grande do Sul (RS), é acusado de desviar cerca de R$ 8 milhões dos cofres públicos nos últimos 13 meses para fazer trade na Bolsa de Valores. O caso foi revelado no programa da Rede Globo Fantástico que foi ao ar no domingo (02).

“Fiquei sem chão”, disse o prefeito Alexandre Model Evaldt (MDB) ao comentar o assunto no programa. Segundo o Fantástico, os desvios foram feitos por Simão Justo dos Santos, funcionário do setor de Contabilidade e Tesouraria da prefeitura.

O desfalque veio à tona quando o banco que presta serviço à administração municipal alertou o prefeito e vice sobre várias transferências de até R$ 50 mil para conta pessoal do servidor. À polícia, Simão disse que pensou em usar o dinheiro para tentar recuperar suas perdas no mercado de ações.

De acordo com a chefe de Polícia Civil, Nadine Anflor, o investigado pretendia devolver os valores assim que se recuperasse na Bolsa, mas isso não aconteceu. “O que aconteceu na verdade é que ele perdeu o dinheiro dele e também o dinheiro da sociedade, da prefeitura municipal”, disse a agente ao programa da Globo.

O vice-prefeito Rodrigo Boff relatou que vinha estranhando o comportamento de Simão há algum tempo. Segundo ele, o funcionário não passava informações sobre pagamento de contas e se desviava de perguntas quando era questionado.

Dinheiro público no trade


O rombo deixado pelo funcionário para satisfazer sua necessidade trade na bolsa vai prejudicar várias obras da prefeitura, como uma creche que está prestes a ser acabada. O setor de farmácia também sofreu um duro golpe e não tem dinheiro para repor remédios que são distribuídos gratuitamente aos munícipes.

Mas isso não é tudo, pode faltar também combustível para os ônibus escolares, merenda e orçamento para a contratação de professores. Dom Pedro de Alcântara tem 2.500 habitantes e um orçamento de R$ 18 milhões para 2021. Logo, os desvios de funcionário somam quase a metade do que a prefeitura tinha para trabalhar o ano todo.

Simão foi indiciado por peculato, crime que pode levar o condenado a até 12 anos de prisão. No entanto, ele responde em liberdade. Procurado pela reportagem do Fantástico, o acusado disse que não ia se pronunciar. O mesmo disse seu advogado, que alegou que o processo corre em sigilo.

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Desvio de dinheiro provoca calamidade nos serviços públicos de município do RS
Polícia investiga se tesoureiro cobriu perdas pessoais no mercado financeiro com valores do orçamento
de Dom Pedro de Alcântara

GIOVANI GRIZOTTI


Samanta de Aguiar precisava de exames para a filha, Yasmin, mas a falta de recursos da prefeitura prejudicou o tratamento delaGiovani Grizotti / Agência RBS

O município de Dom Pedro de Alcântara, no Litoral Norte do RS, perdeu quase metade do orçamento em desvios que teriam sido feitos pelo tesoureiro da prefeitura, Simão Justo dos Santos, para cobrir perdas pessoais no mercado financeiro pessoais. Indiciado por peculato, o tesoureiro foi detido em prisão preventiva no final de fevereiro e hoje está em liberdade.

O orçamento do município para 2021 era de R$ 18 milhões, mas R$ 8 milhões desapareceram das contas do município. Após avisos do banco, o prefeito e vice-prefeito da cidade encontraram nos extratos das contas municipais transferências de até R$ 50 mil de Simão para sua conta pessoal.

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Apurações preliminares da prefeitura indicam que a maior parte dos desvios ocorreu nas áreas da saúde, educação e fundo de previdência dos funcionários municipais. Sumiram até os R$ 150 mil destinados pelo Governo Federal para concluir as obras de uma creche. Os 196 alunos de escolas municipais, que retomam as aulas no dia 10, poderão ficar sem merenda e transporte. Pelo menos quatro professores deixarão de ser contratados.

— Fiquei sem chão — afirma o prefeito Alexandre Evaldt (MDB).

O desvio afetou gravemente a prestação de serviços básicos à população. Ervas daninhas se acumulam na beira de estradas porque faltou verba para reformar as roçadeiras. Já os pneus de máquinas retroescavadeiras, que deveriam ser trocados, ganharam remendos improvisados com parafusos.

Em março, 184 pessoas deixaram de ser testadas para a covid-19 porque não havia dinheiro para a compra do material. Falta medicamentos básicos na farmácia municipal e não há recursos para bancar exames a pacientes como Yasmin, de dois meses de idade, que nasceu com um desencaixe entre o fêmur e o quadril.

— Eu fui no posto pra fazer e elas falaram pra mim que eles não estavam fazendo exame, que não tinha dinheiro pra comprar os exames, por causa desse valor que tinha sido roubado — lamenta a mãe Samanta de Aguiar, que é dona de casa.

Apurações da prefeitura mostram que o funcionário tinha várias senhas e, com elas, realizava transferências que chegavam a R$ 50 mil cada. A prefeitura também afirma que Simão maquiava prestações de contas. O gerente de uma das contas bancárias do município estranhou os altos valores das TEDs feitas por Simão e alertou a prefeitura.

— Ele utilizava a senha dele e a senha de outros servidores, de outros agentes políticos —explica o assessor jurídico da prefeitura, Giovane Trajano.

Localizado pela reportagem na casa da namorada, em Torres, onde chegou a cumprir prisão domiciliar, Simão disse que só falaria à reportagem se fosse autorizado pelo seu advogado, o criminalista Vitor Giazzelli Peruchin. O defensor, entretanto, alegou que não irá se manifestar porque o inquérito tramita em segredo de justiça.

Ao prestar depoimento, o tesoureiro explicou que investiu R$ 200 mil em uma aplicação conhecida como “stop loss”, mas perdeu o dinheiro. Então, ele pretendia usar os recursos desviados para, supostamente, recuperar o prejuízo e ainda devolver os valores à prefeitura. Mas, segundo a polícia, houve perdas sucessivas até chegar o valor preliminar apurado pela gestão municipal.

— Ele acabou imaginando, que retirando da prefeitura, ele conseguiria apostar nessas bolsas, investir nas bolsas, retirar o que ele havia perdido, e em um segundo momento devolver para Prefeitura Municipal — explica a chefe da Polícia Civil, Nadine Anflor.

O tesoureiro foi indiciado por peculato, crime cuja pena pode variar de dois a 12 anos de prisão. O Ministério Público pediu mais investigações e aguarda o resultado delas para avaliar se oferece denúncia. A população do município está chocada com o ocorrido, e o prefeito, também.

— Ele era conhecido de todos, e ele era visto como pessoa de bem. É um guri que se criou com a gente ai, está há 12, 13 anos na tesouraria — lamenta Alexandre Evaldt, que iniciou uma peregrinação entre as autoridades estaduais e federais para pedir ajuda.
Tesoureiro foi localizado pela reportagem na casa da namorada, em Torres, onde chegou a cumprir prisão domiciliarRonaldo Bernardi / Agencia RBS

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