Os candidatos da Frente Ampla e do Partido Blanco vão se enfrentar em 30 de novembro
Os uruguaios vão precisar ir às urnas pela segunda vez no próximo 30 de novembro para escolher o sucessor de José Mujica. Como vaticinaram todas as pesquisas, nenhum candidato obteve neste domingo no Uruguai os 50% de votos mais um que seriam necessários para se eleger presidente no primeiro turno.
Portanto, a presidência será disputada entre o candidato da coalizão esquerdista Frente Ampla,Tabaré Vázquez (74 anos), e o do Partido Nacional, Luis Lacalle (41), que obtiveram cerca de 47% e 32% dos votos respectivamente. Depois deles vieram o Partido Colorado, com 13%, e o Independente, em torno de 3%, segundo os resultados preliminares.
Em relação às eleições legislativas, que também foram realizadas neste domingo, os primeiros resultados não garantiam para a Frente Ampla a maioria absoluta ostentada desde 2004 no Parlamento, com a qual poderia ver-se obrigada a fazer alianças. Além das eleições presidenciais e legislativas, os uruguaios votaram em plebiscito a opção de reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos, um projeto apresentado pelo centro direitista Partido Colorado por meio da coleta de assinaturas. Apesar de a insegurança da população ser a principal preocupação dos cidadãos, segundo todas as pesquisas, a redução da maioridade penal não foi aprovada.
Agora, os partidos terão de acomodar suas estratégias com vistas às eleições presidenciais de 30 de novembro. Tabaré Vázquez era o grande favorito há um ano. Tinha tudo em seu favor: a trajetória de um homem honesto que presidiu o país entre 2005 e 2010 e permaneceu até hoje como o político mais popular, ainda mais até do que José Mujica. E contava, além disso, com os inegáveis sucessos econômicos da Frente Ampla, que em 10 anos de Governo conseguiu erradicar a pobreza para 900.000 pessoas, quase um terço da população, e deixou o desemprego no nível mais baixo (6%) da história. No entanto, Vázquez viu, nos últimos quatro meses, o deputado do Partido Blanco, Luis Cacalle, de 41 anos, diminuir a distância.
Lacalle se apresentou com uma mensagem de ruptura: “Pelo positivo”. Ou seja, pelo diálogo, pelo reconhecimento das conquistas da Frente. E esclareceu que ele não é de direita nem de esquerda, mas um “pragmático”, um “liberal conservador” que coloca a gestão acima de qualquer ideologia. Mas uma parte do eleitorado observa por trás de Lacalle a mesma mão neoliberal com a qual seu partido, com seu pai à frente, o presidente Luis Lacalle Herrera (1990-1995), executou nos anos noventa o maior programa de privatizações do país. Lacalle tentou combater esse ponto escondendo seu pai no último lugar da lista para o Senado e mostrou em sua propaganda eleitoral imagens com as quais o eleitorado identifica as conquistas da Frente: moinhos de energia eólica, computadores nas escolas...
As conquistas estão aí. Mas, como acontece no Chile, o eleitorado se tornou mais exigente. E se impacienta diante das promessas não cumpridas. O presidente, José Mujica, prometeu em seu primeiro discurso presidencial “educação, educação, educação e mais educação”. Mas, no relatório PISA de 2012, o Uruguai obteve o pior resultado de sua história.
O progresso social criou estridências que são percebidas na rua. Montevidéu, município onde vive a metade dos habitantes do país e de onde a Frente governa, tem 24 quilômetros de orla às margens do Rio da Prata. Nesse calçadão, conhecido como La Rambla, sempre há gente pescando, passeando, correndo e andando de bicicleta. O problema é que os ciclistas só dispõem de dois quilômetros de La Rambla. E é nesse sentido que o argentino residente no Uruguai, Gustavo Izús, coordenador da plataforma Ciclovida, lamenta: “Temos na cidade um Governo progressista há 20 anos que fez muito pouco por um meio tão progressista quanto a bicicleta. Enquanto isso em Buenos Aires, governada por um partido de centro-direita, há serviço de aluguel grátis de bicicletas”.
O responsável pela Mobilidade Urbana de Montevidéu, Enrique Moreno, responde: “Dizer que não fizemos nada pela bicicleta é desconhecer a história deste país. Em 2002, houve uma crise na qual as pessoas não tinham dinheiro nem para tomar o transporte público e usavam bicicletas por obrigação. Agora há muita gente de carro e moto. E não são suficientes os 20 quilômetros de ciclovias que criamos no centro velho da cidade. Queremos os mesmos avanços da Alemanha, mas não temos essa receita”.
O presidente que for eleito em novembro já sabe que resta um longo caminho a percorrer, muitos quilômetros de estradas para arrumar, muitas reformas educacionais, grandes melhorias em segurança. E muito diálogo para enfrentá-las.
by EL PAÍS
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