América Latina
'Não nos deixe cair na tentação do capitalismo', diz um trecho da oração chavista, o mais novo golpe de oportunismo populista do presidente Maduro
O presidente venezuelano Nicolás Maduro (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/VEJA)
“Chávez nosso que estás no céu”. Parece uma piada de mau gosto, blasfêmia, mas é a primeira frase da ‘oração chavista’, a mais nova criação do governo de Nicolás Maduro para tentar perpetuar o chavismo na Venezuela – reporta nesta terça-feira o jornal La Nación. A prece chavista foi apresentada oficialmente nesta segunda em um evento do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), atualmente no poder. A mais nova peça do populismo rasteiro de Maduro pode soar como piada, mas é cínica o suficiente para mesclar o chavismo com a oração mais popular do catolicismo, a religião de mais de 85% dos venezuelanos.
Em um teatro em Caracas, com a presença de Maduro, a oração marcou o encerramento – e o ponto alto – do evento governista. “Chávez nosso que estás no céu, na terra, no mar e em nós/ Santificado seja o teu nome, venha a nós o teu legado para ajudar pessoas de aqui e ali”, entoou em tom solene a deputada chavista Maria Uribe. "Dê a nós a tua luz para nos guiar todos os dias/ Não nos deixe cair na tentação do capitalismo, mas livra-nos do mal, da oligarquia, do crime de contrabando, porque a pátria, a paz e a vida são nossas/ Por séculos e séculos, amém/ Viva Chávez”, termina a oração.
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O evento governista, focado para discutir os “desenhos do sistema de formação socialista”, começou na quinta-feira e teve a participação de cantores e poetas que dedicaram suas peças para o falecido presidente Hugo Chávez e a chamada revolução bolivariana. No encerramento, além de Maduro, estiveram presentes também ministros, governadores e outras autoridades chavistas. O presidente, em seu discurso, disse que a “revolução está em uma fase que exige cada vez mais valorização da educação".
"Quando nos perguntamos quais valores devemos construir e onde devemos fazer esses valores, só tem uma resposta: é preciso formar os valores de Chávez na luta diária na rua, criando, construindo revolução", disse Maduro, que prometeu fazer em breve “grandes anúncios” sobre o seu governo.
País com a maior reserva de petróleo comprovada do planeta, a Venezuela atravessa uma severa crise econômica, com escassez de produtos básicos, inflação de mais de 60% ao ano, entre outros problemas. Maduro acusa setores ligados à oposição venezuelana e conservadores dos Estados Unidos e Colômbia de promover uma "guerra econômica" contra seu governo. O país atravessou uma violenta onda de protestos entre fevereiro e final de maio devido à inflação, à falta de produtos básicos – como papel higiênico, açúcar, farinha ou leite – e à altíssima violência que provoca em média 65 mortes por dia no país. Os protestos, que foram duramente reprimidos, resultaram na morte de mais de 40 pessoas, além de mais de 700 feridos.
Pérolas de Nicolás Maduro
El Pajarito Chiquitito
Logo na largada de sua campanha eleitoral, Nicolás Maduro deu ao povo venezuelano uma prévia do que seu governo significaria para o país. O então candidato disse que o general Hugo Chávez apareceu para ele na forma de um "passarinho" enquanto rezava em uma pequena capela da cidade. “Eu o senti ali como se tivesse nos dando uma benção, dizendo: ‘hoje começa a batalha. Vamos para a vitória, você tem a nossa benção’. Eu senti isso em minha alma.”
Chávez nas montanhas
Depois de eleito, Nicolás Maduro voltou a delirar ao afirmar que o caudilho Hugo Chávez "aparece nas montanhas" de Caracas. "Cada vez que olho para a montanha, vejo Chávez aparecer, Chávez nosso de todos os dias, Chávez nosso de todas as lutas", disse.
Cochilos na tumba
Os devaneios continuaram de forma assustadora quando Maduro revelou que dorme ao lado da tumba do general para se inspirar. “Eu às vezes venho à noite e durmo aqui. Muitas vezes. Vocês nem se dão conta. Os vizinhos às vezes se dão conta. Entramos durante a noite e permanecemos aqui para dormir, refletir.”
Chávez no metrô
A depender dos relatos de Maduro, o espírito de Chávez vaga por diferentes partes da Venezuela. A mais recente aventura do fantasma do general foi nas obras de um túnel do metrô de Caracas. "Olhem a figura, um rosto. Esta foto foi feita pelos trabalhadores. Quem está neste rosto? Os trabalhadores estão ali, trabalhando e lhes aparece uma imagem na parede e, assim como apareceu, desapareceu. Chávez está em todas as partes”, aterrorizou o mandatário, apontando para um pedaço de papel.
O 'vilão' Homem-Aranha
O presidente também encontrou um culpado pelos altos índices de criminalidade na Venezuela. Não, não foi uma admissão de culpa pela ineficiência em combater a bandidagem. O problema está noHomem-Aranha. Para o presidente, o super-herói vivido pelo fotojornalista Peter Park não passa de uma “fábrica de valores negativos” para a juventude.
O ministério da Suprema Felicidade
Os venezuelanos têm poucos motivos para sorrir nos últimos anos. Mesmo com a crise econômica e vários outros problemas que assolam o país, Nicolás Maduro decidiu se preocupar com a “felicidade” da população de um modo inusitado. Seu governo anunciou a criação do vice-ministério da Suprema Felicidade Social do Povo Venezuelano, que terá a incumbência de coordenar os programas assistencialistas que criaram uma fiel legião de eleitores chavistas.
Vice-ministério das Redes Sociais
Em janeiro de 2014, Maduro não só oficializou 100 novos ministérios em seu governo, como também confirmou a criação da pasta encarregada de cuidar das Redes Sociais. O engenheiro mecânico José Miguel España Figueroa, responsável por administrar o vice-ministério, disse que sua missão será “fazer das redes sociais um espaço de paz e inclusão”, mas, dado o histórico de perseguição a opositores e à imprensa promovido pelo chavismo, não é difícil imaginar que outras intenções podem fazer parte da lista de tarefas de España e sua equipe.
Bigode grosso
Mesmo com milhares de estudantes indo quase diariamente às ruas para pedir a deposição de seu governo, Maduro não perdeu mais uma oportunidade de envergonhar seu país em público. Durante uma cerimônia que marcou o primeiro ano em que chegou ao poder, o presidente venezuelano apresentou o novo símbolo de propaganda do seu governo: um boné com um bigode adesivo. Com toda a pose de bonachão, o político chegou a mostrar como retirar o adesivo da parte frontal do boné e colá-lo embaixo da boca. O bigode em questão é uma das marcas registradas de Maduro.
by Veja
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