terça-feira, 12 de novembro de 2013

UPPs e mistificações. Finalmente, a verdade: bandido solto faz… bandidagem!

07/11/2013
 às 16:05


Ai, ai… Se, um dia, lhes restar algum tempinho, coloquem ali na área de busca do blog a sigla UPP acompanhada da expressão “espanta-bandido”, tudo sem aspas — o hífen também é dispensável. E vocês verão o que penso sobre a política de segurança pública do Rio de Janeiro. Não custa lembrar que, na campanha eleitoral de 2010, Dilma Rousseff prometeu transformar o Brasil, no que concerne à segurança, num Rio de Janeiro de dimensões continentais. Graças a Deus, o governo é incompetente até para cumprir as más promessas… Ah, sim: se Dilma jurar que traz para a cidade de São Paulo a orla do Rio, estarei com ela…
Durante anos, fui crítico quase isolado das UPPs. É EVIDENTE QUE JAMAIS ME OPUS AO POLICIAMENTO COMUNITÁRIO, QUE NÃO FOI INVENTADO NO RIO DE JANEIRO, SANTO DEUS! Eu criticava, e critico ainda, é a POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA, de que as UPPs se tornaram uma vitrine. Antes que prossiga, uma nota importante: de junho pra cá, Sérgio Cabral virou uma das Genis do Brasil. Não gosto de seu estilo. Eu o acho meio faroleiro. Já expus aqui os motivos. Nessa fase recente, no entanto, curiosamente, eu me tornei um dos poucos que não procuraram esfolá-lo vivo. Veículos de comunicação que antes o tratavam como o homem sem mácula resolveram cair nos “braços do povo”. Sempre que um grupinho de desocupados decidia pedir a queda de Cabral (depois da praia, é claro, que militância tem limites), lá estava o jornalismo ecoando o lema fascistoide. Ora, “fora Cabral” por quê? Ele foi eleito. Qual era a acusação? Assim, o Cabral que antes era herói (com o que nunca concordei) passou a ser o vilão — e eu critiquei os aspectos autoritários da campanha. Fim da nota.
Segurança pública
Qual é o problema da política de segurança pública do Rio? Como aqui se diz há anos, está nas escolha feitas pelo governador e por José Mariano Beltrame (queriam o homem para a Prêmio Nobel da Paz!!!): NÃO PRENDER BANDIDOS. Na verdade, a chegada das UPPs os espanta, os espalha, e eles vão para “comunidades” (no Rio, falar em “favela” ofende o cartão-postal) aonde o policiamento ainda não chegou.
Não é só isso: nunca foi verdade que a UPP significava o fim do poder do narcotráfico. Durante muito tempo, sustentei isso aqui, diante da gritaria contrária. Aí Beltrame admitiu: o objetivo não era mesmo esse. Ao contrário até: os policiais passaram a conviver com os traficantes — o que se pedia e se pede é que não exerçam ostensivamente o seu poder, o que pega mal… Desfilar com fuzis para cima e para baixo, por exemplo, não dá… Os bandidos compreenderam. Nas áreas em que há UPP (umas 40, acho; há perto de 1.300 “comunidades”), a segurança, com efeito, melhorou. Até porque o narcotráfico passou a colaborar. Mais: com os policiais lá, acaba a guerra de facções, e as milícias deixam de importunar. É o céu. 
Ocorre que bandido não decide trabalhar de carteira assinada só porque a UPP chegou. Boa parte só mudou de endereço. Reportagem de Cecília Ritto na VEJA.com informa que prefeitos de cidades vizinhas à capital fluminense reclamam da migração dos criminosos das favelas “pacificadas” para os municípios que administram. Ora, era o óbvio. Leiam trecho. Volto em seguida:
A política de segurança pública do Rio de Janeiro – principal responsável pela reeleição de Sérgio Cabral, com 66% dos votos, no primeiro turno de 2010 – passa pelo momento de maior descrédito desde o seu início, há cinco anos, com a instalação da primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). O caso Amarildo, pelo qual 25 policiais militares da UPP da Rocinha foram indiciados por tortura seguida de morte, foi o sinal derradeiro de que a simples instalação de uma dessas unidades em um morro não coloca ponto final na violência. Em muitos desses locais, criminosos continuam no comando do tráfico e circulando livremente. Os que foram obrigados a fugir não precisaram se esconder muito longe. A preferência é pela Baixada Fluminense, aonde as UPPs ainda não chegaram – e onde a criminalidade cresceu consideravelmente nesse período. Com esses dados em mãos, os prefeitos de doze cidades da região pretendem se unir para exigir que Cabral volte a atenção para a migração desses bandidos.
Em reunião marcada para a noite desta quinta-feira, os governantes locais pretendem elaborar um documento para ser entregue ao estado, pedindo também reforço no policiamento. Em operação policial realizada no início da semana na Baixada Fluminense e Região Metropolitana, por exemplo, mais de 40% dos criminosos presos atuavam na capital. “Queremos que parem com o planejamento da UPP e fortaleçam os batalhões da Baixada. Em São João de Meriti, temos 457 000 habitantes e 258 homens no policiamento. A Rocinha, com 100 000 moradores, tem UPP com 700 PMs. Não sou contra as Unidades de Polícia Pacificadora, mas precisamos de um planejamento melhor”, compara Sandro Matos (PDT), prefeito de São João de Meriti, responsável por convocar o encontro. Ele discutiu há uma semana com o secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, que nega a fuga de traficantes do Rio para a região.
“A Secretaria de Segurança optou pela UPP. Quando questionamos o problema da migração para a Baixada, o secretário não aceita e não admite o problema. Isso dificulta uma solução”, completou Matos, referindo-se à declaração de Beltrame de que apenas 5% dos presos na cidade são de outros municípios. Segundo o prefeito, esse índice não condiz com a realidade, porque a incidência de roubos aumentou, mas a falta de policiamento faz com que sejam efetuadas poucas prisões. Há cerca de um ano, conta, ele envia e-mails para Cabral sobre a questão. O governador respondeu a todos e disse que encaminharia o problema para o setor de segurança – e nada mais parece ter sido feito. “Nós somos atendidos, mas a questão não se resolve”, lamenta. A reivindicação parte de diversos partidos. O PDT de Matos faz parte da base de Cabral, mas o prefeito já apresentou seu nome à legenda para disputar o governo do estado contra o candidato do PMDB, Luiz Fernando Pezão, em 2014.
(…)
Retomo
Eis aí. A bandidagem migrou, o policiamento é obviamente deficiente, e o secretário não admite que o problema existe. No fim das contas, a “pacificação das comunidades”, tudo bem passado, significa a pacificação da Zona Sul, que é aquele setor do Rio que produz notícias e opiniões influentes, não é mesmo? É CLARO QUE ESSA GENTE MERECE PAZ, COMO TODO MUNDO. O QUE SE CRITICA AQUI É UMA POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA CAOLHA, que pune as populações de cidades vizinhas ao Rio e das favelas que não contam com as tais UPPs.
Encerrando
O caso Amarildo é grave e justifica a mobilização. Mas é importante não perder o foco. A morte e o desaparecimento do pedreiro apontam para práticas ilegais da Polícia Militar, com ou sem UPP. Note-se: se, nessa modalidade de policiamento, dá-se algo assim, imaginem nos nichos menos expostos à opinião pública.
Mas atenção! Não é esse episódio trágico que indica as escolhas erradas de Cabral e Beltrame. Esse absurdo não nasce de uma decisão consciente, tomada pelo governador e pelo secretário. É evidente que, por eles, aquilo jamais teria acontecido, especialmente numa UPP. A deliberação errada é outra: consiste em “ocupar comunidades” sem prender os bandidos, espantando-os para áreas sem policiamento adequado, onde podem, então, aterrorizar a população à vontade. Insisto: se, um dia, o Rio conseguisse 100% de eficiência nessa política (a do espanta-bandido), os estados vizinhos é que pagariam o pato. Aliás, em parte, já pagam. Criminosos fugidos de “comunidades” cariocas já foram presos até no Paraguai…
Quando é que o Rio vai prender seus bandidos em vez de mandá-los passear?
Por Reinaldo Azevedo

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