segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Petralhas!! Entenda a polêmica sobre o termo que apareceu no "Batman"

Nojentos, horríveis, asquerosos, odiosos, sórdidos, malcriados, repelentes, vis, desagradáveis, indecentes, torpes, trapaceiros, vigaristas… Ou seja: PETRALHAS! A história que vou contar poderia ser divertida não fosse expressão de um fascismo ainda suave que vai se insinuando na sociedade brasileira, especialmente no ambiente da cultura. Em nome do bem ou da liberdade, grupos de pressão tentam impor a sua agenda e calar seus adversários. É a turma que queria e ainda quer o “controle social da mídia”… Patrulham tudo: blogs, revistas, jornais, sites noticiosos, a ombudsman da Folha, programas de televisão, livros e, acreditem!, até gibis do Batman!

Leitores me enviaram links de alguns blogs verdadeiramente espantosos. Não sei se é o autoritarismo que alimenta a burrice ou a burrice que alimenta o autoritarismo. É provável que seja uma coisa e outra, num ciclo realmente perverso.

Abaixo, vocês vêem a capa de uma revista (é assim que a gente chama? Não entendo nada desse assunto!) do Batman (**Batman#98, Ressureição Diabólica, 72 páginas, lançada em janeiro 2011) publicada no Brasil pela Editora Panini. O bandidão dessa história, de Grant Morrison (roteiro) e Cameron Stewart (desenhos), é o “Rei Perolado”. Pois bem, num dado momento, uma das personagens se refere ao facinoroso como “petralha”. No original, em inglês, emprega-se “nasty”. A felicíssima tradução é de Caio Lopes. Quando uma pessoa é “nasty”, ela pode ser nojenta, horrível, asquerosa, odiosa, sórdida, malcriada, repelente, vil, desagradável, indecente, torpe e coisas desse paradigma… Em suma, é uma “petralha”. Caio marcou um golaço! Uma tradução busca na outra língua não o sinônimo frio, mas o termo que tem, além do significado semelhante, a mesma carga cultural. Não conheço a história, mas suponho que o “Rei Perolado” também deva ser trapaceiro, vigarista, essas coisas. Ou seja: UM PETRALHA!!!




Vocês acreditam que os petralhas resolveram reagir? “Como ousam usar uma palavra criada pelo Reinaldo Azevedo?” Há blogs protestando contra o que seria a “ideologização” da tradução! De fato, o neologismo é meu: trata-se, originalmente, da fusão de “petista” com “metralha”, dos Irmãos Metralha, os ladrões. Generoso, já disse até na TV que nem todo petista é petralha, mas todo petralha é petista. O que isso quer dizer: nem todo petista rouba, mas sempre que alguém roubar e tentar dizer que é para o bem do Brasil, não duvide: é um petista! Os ladrões dos outros partidos têm ao menos a honestidade dos bandidos: pegos em flagrante, jamais dizem que fazem safadeza em nome da causa. Adiante!

O vocábulo fugiu ao meu controle e foi virando sinônimo de gente que não presta. Não é a primeira vez que isso acontece na língua.


Esses caras são tão dedicados na sua patrulha que um Zé Mané aí se orgulha de ter, acreditem!, entrado em contato com a editora para reclamar. Márcio Borges, diretor de marketing e da área comercial da editora, deu uma resposta excelente, que merece nosso aplauso:

“A Panini considera o termo ‘petralha’ uma gíria que vem se popularizando no Brasil e, independente da origem do termo, não é mais utilizado no linguajar popular apenas com conotação política, mas como sinônimo para ‘asqueroso’, ‘nojento’ etc. A empresa ressalta que não tem qualquer intenção de utilizar seus produtos editoriais de entretenimento para fins políticos.”

Parabéns, Borges! Não se deixe patrulhar por desocupados. O inconformado missivista não gostou da resposta da editora e observou que o termo ainda não está dicionarizado. Pois é! Junta a ignorância ao autoritarismo. Está, sim!

“Petralha” e variantes – “petralhada” – já figura no “Grande Dicionário Sacconi” da língua portuguesa, conforme se pode ver abaixo. A definição é deliciosa. Leiam:






Como viram, o professor teve a gentileza de dar a autoria do vocábulo. A obra é excelente. Um dicionário não pode registrar todos os neologismos e gírias que surgem por aí. Mas o dicionarista competente tem de ter a sensibilidade de identificar as palavras que vão ficar, que serão incorporadas à língua.

Alguém tem, por exemplo, alguma dúvida de que o “mensalão” veio para ficar? Será uma referência para os historiadores no futuro — e, infelizmente, a prática nefasta continuará entranhada na vida pública por muito tempo. No vocábulo “mensal”, Sacconi registrou a derivação “mensalão”, assim definido: “mesada paga a parlamentares, por membros do governo, em troca de votos a favor do governo”. Exato!

Sacconi é autor de mais de 70 livros na área de língua e gramática, incluindo o best seller “Não Erre Mais”. Um dicionário atento à história e que, também por isso, cuida muito bem da língua.


Espantoso

O que há de espantoso na corrente contra o emprego da palavra na tradução de uma revista do Batman? Os que protestam alegam que o termo incentiva a “intolerância”. Outros dizem que se trata de um abuso da “liberdade de expressão”!!! Como eles são muito tolerantes, então defendem a censura, entenderam?

De resto, ainda que “petralha” não tivesse caído na boca do povo com esse sentido mais amplo, ainda que continuasse a ser apenas o que era na origem – “petista + metralha” -, pergunto: o que há de errado em combater petista ladrão?

Bem, queridos, não sei se a revista ainda está nas bancas, mas vou comprar a minha, hehe. E os convido a torrar alguns tostões fazendo o mesmo, até como ato de desagravo ao achado lingüístico do tradutor e à editora, que teve de agüentar a patrulha boçal.

Não adianta! Vão ter de conviver com este fato: “petralha”, agora, faz parte da língua. E só foi parar no dicionário porque, afinal, existem os petralhas. A patrulha a um gibi e a uma editora prova que existem e que têm de ser combatidos.

Freqüentemente, também eu alargo o sentido da minha criação e emprego “petralha” como sinônimo de “fascista”. Faz ou não faz sentido?

By - Reinaldo Azevedo, 2011

2 comentários:

Anônimo disse...

Poucas vezes li um texto tão mal escrito e tendencioso.

Para nunca mais voltar.

Abraços.

Deise Brandão disse...

Fique a vontade. Democracia para mim é isso: ter o DIREITO de ir e VIR. No entanto deixar de voltar aqui, não fará com que jornalistas expressem seu pensamento. E Reinaldo Azevedo, não estaria onde está, se fosse um asno. Sou partidária da idéia de que "Um "Asno que só lê, Asnalisa" Nãosou íntima de Reinaldo para passar o recado, da tua opiniãosobre o texto dele. Te aconselho à dizer à ele:http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/. É o mais honesto.

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