Eleitores decidem neste domingo se Hugo Chávez ganhará mais um mandato ou se opositor Henrique Capriles assumirá a presidência-
"Espero que o presidente Chávez ganhe as eleições, senão, provavelmente vão levar isso aqui embora e nós vamos todos sofrer", afirmou a líder comunitária "chavista" Raiza Urbina, apontando para uma feira subsidiada, próxima a sua casa, em Caracas.
A feira vende produtos da cesta básica: carne, enlatados, ovos e queijo. Tudo a preços abaixo do mercado. É apenas uma entre as muitas iniciativas na área social implementadas pelo presidente Chávez nos últimos 12 anos.
O auto-intitulado "defensor dos pobres" de fato trabalhou para aumentar o acesso da população mais pobre aos sistemas de saúde, educação e moradia. "Eu sofro de câncer de mama. Antes, nem poderia ir a uma clínica, porque não tinha como pagar. Agora, o Estado me dá tratamento e medicamentos e continuo viva", afirmou Urbina.
Nos meses que antecederam a campanha presidencial, Chávez aumentou investimentos públicos, inaugurando centenas de novos ônibus e distribuindo casas de graça. O governo afirma ter construído 150 mil novas moradias em 2011, parte de um total de 3 milhões previsto para 2018.
Chávez diz que mais um mandato lhe permitira aprofundar a sua "revolução bolivariana" e aprimorar o socialismo na Venezuela. Em um comício para milhares de pessoas em sua cidade natal, Sabaneta, em 1º de outubro, o presidente prometeu desenvolvimento.
"Sabaneta vai se transformar no epicentro de um grande projeto, dentro do principal plano industrial e agricultural para 2012-19", afirmou.
Suspeitas do empresariado
No entanto, para muitos venezuelanos, o prospecto de mais seis anos de chavismo é preocupante. Empresários afirmam que algumas das políticas de Chávez lhes dificultaram muito a vida. Desapropriações de terras e de empresas também despertam suspeitas em investidores.
Além disso, a legislação criada para evitar fuga de capital do país é acusada de ter dificultado muito a importação e exportação. Rígidas leis trabalhistas reduziram jornadas laborais, proibiram terceirização de mão-de-obra e fortaleceram os direitos trabalhistas, mas também causaram dores de cabeça aos patrões.
Regulo Moreno, dono de uma fábrica de móveis para escritório, diz estar prestes a deixar a Venezuela. "Andei estudando a Colômbia", afirmou. "Abrimos o mesmo negócio lá há um ano e meio, e agora sinto que a empresa pode crescer mais rapidamente lá do que aqui."
As eleições venezuelanas não interessam apenas aos venezuelanos. O sistema Petrocaribe criado por Chávez beneficia muitos países com acesso mais barato ao petróleo, entre eles Cuba e Nicarágua.
O líder também tem fortes laços com a presidente argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, reiterados pelo apoio dado por Chávez na disputa pela soberania das ilhas Malvinas ou Falkland.
Mesmo fora da América Latina, Chávez é uma força reconhecida. O presidente sírio, Bashar Al-Assad, disse considerá-lo um "humanista" e um "irmão". A Venezuela forneceu óleo diesel ao governo Assad durante o embargo imposto por outros países.
Sob o chavismo, o país também se tornou um atuante membro da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o que ajudou a manter os preços do combustível em alta.
Os interesses são globais, mas o povo venezuelano é quem decidirá sobre o futuro de Chávez. Essa votação é considerada a mais apertada desde a primeira que ele venceu, em 1998.
Oposição unificada
Henrique Capriles, um jovem advogado de formação, conseguiu unificar a combalida oposição do país e venceu as eleições primárias em fevereiro. Desde então, vem cruzando o país para tentar aumentar a sua popularidade.
Entre as suas promessas estão a manutenção dos programas sociais de Chávez, ao mesmo tempo em que quer estimular a iniciativa privada no país. "A minha missão é conseguir fazer os venezuelanos concordarem que podemos levar o país para frente", disse à BBC no início da campanha.
Diante de tanta pressão, muitos temem a eclosão de episódios de violência interpartidária. Três cabos eleitorais de Capriles foram assassinados a tiros no início do mês ao tentar entrar num comício no estado-natal de Chávez, Barinas.
A Venezuela tem uma das maiores taxas de homicídio do continente - 48 por 100 mil habitantes, de acordo com estatísticas do ministério do Interior de 2011. Sequestros e assaltos ainda são comuns em áreas urbanas. O que significa dizer que a criminalidade também será um grande desafio para o vencedor do pleito de domingo, ao lado da alta inflação e da economia praticamente dependente do petróleo.
Chávez diz acreditar que derrotou o câncer que o tirou de ação durante várias semanas em 2011 e no início deste ano. No entanto, ninguém sabe exatamente qual foi a gravidade da doença, e muitos têm dúvidas sobre a saúde para mais um mandato.
Caso Capriles vença, terá de governar com uma Assembleia Nacional dominada por aliados de Chávez. As dificuldades serão grandes para quem quer que vença neste domingo.
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