by Deise Brandão
Com o anúncio do leilão do antigo prédio da CRT na Avenida São Miguel, em Dois Irmãos, vale lembrar um capítulo da nossa história que quase ninguém mais menciona — mas que faz toda a diferença.
No início dos anos 1990, quando ter uma linha telefônica era um luxo e a instalação podia levar anos, os moradores da cidade foram chamados a contribuir financeiramente para acelerar a conclusão da central telefônica local.
Era assim: quem quisesse ter acesso mais rápido à linha podia pagar um valor na Prefeitura, como uma espécie de contribuição de melhoria. Muita gente colaborou. Eu fui uma dessas pessoas.
Essas contribuições ajudaram a viabilizar a obra que agora, três décadas depois, está sendo leiloada pelo Município — sem qualquer referência ao esforço coletivo da época, sem memória, sem registro simbólico, sem reconhecimento.
Não se trata de reivindicar dinheiro de volta — embora isso fosse o correto e o justo. O ponto aqui é lembrar que, quando essa central telefônica foi viabilizada, foi a própria comunidade que ajudou a pagar a conta. E mais: quem hoje administra a Prefeitura estava lá na época, ocupando exatamente as mesmas cadeiras. As funções mudaram entre prefeito e vice, mas os nomes são os mesmos.
Lembro bem da situação: quando disseram que as linhas haviam “acabado” justo na minha vez, a discussão não foi pequena. Fui falar diretamente com o Renato — que era vice naquela época — e não aceitei a resposta pronta.
No fim, resolvi o problema onde realmente podia ser resolvido: direto na superintendência da CRT em Novo Hamburgo, com quem de fato mandava. Curiosamente, era o mesmo dirigente que, pouco tempo antes, tinha me concedido uma entrevista exclusiva — algo que ele se negava a fazer para quase todo mundo. Eu aceitei fazer a matéria, mesmo não cobrindo Novo Hamburgo no jornal.
Hoje eu entendo os bastidores desse privilégio , porque conheci a pessoa que cobria NH na época e… bem, me arrependo profundamente daquela proximidade. Mas isso é outra história. O que importa é que consegui minha linha telefônica, assim como vou retomar o queé meu e a Prefeitura esta bem enfiada na fraude... Também outra história, em breve pública, como todas as demais.
O fato é: a central telefônica existiu porque a população pagou.
Resgatar um fato histórico: a telefonia só chegou aqui porque a comunidade inteira colocou a mão no bolso quando o Estado não conseguia dar conta.
É bom lembrar isso agora, justamente quando o imóvel vai mudar de mãos.
Memória também é patrimônio.
Observação necessária
Curiosamente, o Google Maps, aparece classificando esse endereço como “Bairro Floresta”, o que é completamente equivocado. Esse prédio sempre foi Centro, tanto no sentido urbanístico quanto histórico.
A Av. São Miguel jamais pertenceu ao Floresta em nenhum mapa oficial, planta urbana, documento imobiliário ou zoneamento da cidade. O erro vem de cadastros antigos e mal atualizados, que o Google replicou sem análise.
Mas para fins de leilão — e para fins de memória da cidade — é Centro. Sempre foi.
Qualquer outra classificação é erro de sistema, não de realidade.
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