Nos últimos anos inventaram uma expressão bonitinha para explicar o derretimento coletivo da inteligência: brain rot.“Deterioração cerebral”, dizem. Como se fosse apenas culpa do TikTok, das telas, das notificações.
Não é.
O problema é muito maior: vivemos na era do emburrecimento generalizado, um processo tão silencioso e tão profundo que as pessoas acham normal não saber nada — e pior, nem querer saber.
by Deise Brandão
1. A era dos cérebros domesticados
As redes sociais não só entregam dopamina; elas entregam substitutos de pensamento.
Gente que nunca leu um livro inteiro repete frases prontas como se fossem convicção.
Gente que não sabe formular uma pergunta acha que está cheio de respostas.
O cérebro vicia nisso:
– estímulo rápido
– emoção barata
– indignação instantânea
– opinião mastigada
E quando chega a hora de pensar de verdade?
Vem o vazio.
A mente pede arrego.
Perdeu força muscular.
Sim: pensar dá trabalho.
E quem evita esforço vira presa fácil de qualquer narrativa pronta.
2. Sinais de que o emburrecimento já se instalou
Não precisa ser médico para enxergar:
– incapacidade de manter atenção por 30 segundos
– intolerância ao silêncio
– necessidade de ruído o dia todo
– irritação com tédio
– preguiça mental para textos de mais de três linhas
– comparações com vidas que nem existem
– confusão entre opinião e fato
– ausência total de senso crítico
E o pior: gente que se acha muito “esclarecida”, mas não consegue responder sequer por que acredita no que acredita.
Isso não é só perda cognitiva.
É perda de autonomia.
3. A grande troca: pensamento por consumo
Enquanto o cérebro se acomoda no piloto automático, as Big Tech agradecem.
Quanto mais vazio por dentro, mais fácil de preencher por fora.
E aí o sujeito acha normal:
– passar 6 horas por dia rolando tela
– sentir ansiedade quando o celular fica longe
– só conseguir dormir com vídeo tocando
– abrir mão da própria vida para acompanhar a dos outros
– terceirizar o raciocínio para influenciadores
– tomar decisões baseadas em viral
Chamam isso de modernidade.
Eu chamo de entrega voluntária da inteligência.
4. O que ninguém diz: a burrice dá status
Hoje, quem pensa incomoda.
Quem questiona é inconveniente.
Quem aprofunda é “chato”.
O mundo virou um enorme baile da superficialidade, onde a regra é:
não saber é aceitável — mas saber demais é ofensivo.
Daí o sucesso das manchetes rasas, das discussões idiotas, do ódio fabricado, das discussões sem fundamento.
O brain rot é só o sintoma clínico.
O diagnóstico social é outro:
inversão completa de valores.
5. Como escapar enquanto ainda há tempo
Fuja do fluxo.
Desobedeça a lógica da pressa.
Volte a exigir da sua própria cabeça.
– Leia coisas difíceis.
– Pergunte coisas incômodas.
– Pare de aceitar respostas prontas.
– Saia da infantilização digital.
– Substitua estímulo por profundidade.
– Use silêncio como ferramenta, não como ameaça.
E, principalmente:
Pense por conta própria.
É isso que ninguém faz.
É isso que te salva da massa.
Conclusão
O maior risco do nosso tempo não é perder a memória.
É perder a capacidade de raciocinar — e achar isso normal.
A burrice coletiva não se instala de repente.
Ela vem devagar, um vídeo de 7 segundos por vez.
E só escapa quem tem a coragem — e a disciplina — de manter o cérebro desperto num mundo que prefere todo mundo dormindo.
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